A cidade que nunca dorme (e que não para de gastar)

O confronto entre Indiana Pacers e New York Knicks marca, depois de 25 anos, o retorno da franquia de Nova Iorque a uma final de conferência da NBA.

Seja qual for o desfecho da disputa, a campanha dos nova-iorquinos já é histórica. Desde a temporada 1996-1997, a partir da qual a liga passou a registrar o “lance a lance” das partidas, ninguém até o atual New York Knicks havia conseguido vencer, nos mesmos playoffs, ao menos três jogos em que o déficit no placar chegou a ser de 20 pontos.

Todavia, o feito esportivo em si, por mais impressionante que seja, nem é o que vem chamando mais a atenção da “cidade que nunca dorme”. São os efeitos econômicos da “Knicks Mania” que têm espantado os mais “desavisados”.

Segundo levantamento publicado pelo portal Boardroom, os jogos do Knicks no lendário Madison Square Garden já geraram aproximadamente US$ 195 milhões apenas nos playoffs de 2025.

A “arena mais famosa do mundo” está a todo vapor. Do lado de dentro, o Madison Square Garden, com sua “fila das celebridades” (cadeiras à beira da quadra nas quais os famosos assistem aos jogos), é o ponto de encontro entre a NBA e a Broadway. É ali que o esporte se mistura às colunas sociais e ao glamour urbano de Nova Iorque.

Do lado de fora, “a Meca do basquete” é o epicentro de uma catarse coletiva que há muito não se via. As imagens de torcedores escalando outdoors e placas de trânsito para comemorar a vitória por 38 pontos de diferença sobre o rival e atual campeão Boston Celtics, no Jogo 6 da semifinal da Conferência Leste, rodaram os quatro cantos do planeta.

O Empire State Building tem sido iluminado nas cores azul e laranja da franquia. O Knicks voltou a ser o time do momento.

Na última sexta-feira, dia 23 de maio, antes do Jogo 2 contra o Indiana Pacers, o prefeito de Nova Iorque, Eric Adams, além de afirmar que “o Knicks elevou o ânimo e a economia da cidade”, anunciou que existe um potencial de arrecadação de US$ 832 milhões se a equipe avançar até a final da NBA e nela disputar todos os jogos possíveis em casa.

Estima-se que, daqui em diante, cada jogo de playoff no Madison Square Garden garanta cerca de US$ 91 milhões para a franquia e para a municipalidade, tanto em gastos diretos, com a comercialização de ingressos, concessões, merchandising, transporte e hospedagem, quanto em gastos indiretos, sobretudo com o aumento nas vendas de alimentos e bebidas em bares e restaurantes espalhados pelos cinco grandes distritos (Manhattan, Brooklyn, Queens, Bronx e Staten Island).

Essa conta, naturalmente, é turbinada pelo preço médio dos ingressos para as partidas, que atingiu o pico de US$ 1.193, recorde absoluto para uma final de conferência da NBA.

O impacto econômico da trajetória do Knicks é bem superior, inclusive, àquele que se viu no ano passado quando o New York Yankees, tido como o time esportivo mais popular de Nova Iorque, disputou a World Series contra o Los Angeles Dodgers.

Para efeitos comparativos, a NYC Economic Development Corporation, organização sem fins lucrativos que atua na promoção de eventos que contribuam para o crescimento econômico sustentável da cidade, calculou que cada jogo do Yankees como mandante nos playoffs da MLB poderia gerar em torno de US$ 25 milhões para a economia local, enquanto jogos do New York Mets atingiriam a cifra de US$ 20,1 milhões.

Antes do início da atual temporada do beisebol, esporte visto como dominante no gosto do cidadão de Nova Iorque, a mesma NYC Economic Development Corporation afirmou que o total de 162 partidas em casa combinadas de Yankees e Mets pela temporada regular renderia US$ 900 milhões em receitas, montante que não está muito distante daquilo que o Knicks poderá gerar em apenas uma campanha de playoffs.

Puxado pela popularidade de atletas como Karl-Anthony Towns, herói da vitória no Jogo 3 da série contra o Indiana Pacers, e Jalen Brunson, o New York Knicks viu suas receitas com mercadorias licenciadas crescerem 45% nesta temporada.

Jalen Brunson, aliás, que já foi personagem em nossa coluna, rebatizou a esquina da Sétima Avenida com a West 11th Street, em Manhattan: o ponto passou a ser conhecido como Jalen Brunson Boulevard, em uma brincadeira da Prefeitura que faz alusão ao número da camisa do jogador (11) e a uma das avenidas próximas ao Madison Square Garden.

A placa com o “novo” nome (em azul e laranja, como não poderia deixar de ser) permanecerá instalada enquanto a equipe estiver viva na busca pelo título, algo replicado com outros jogadores e endereços na cidade.

Estar na “capital do mundo” e possuir essa capacidade de mobilização financeira e sociocultural são os principais fatores para que o Knicks tenha sido recentemente avaliado em US$ 7,5 bilhões no tradicional ranking publicado anualmente pela Forbes, estando atrás somente do Golden State Warriors como franquia mais valiosa da NBA.

Curiosamente, esse valuation é superior aos US$ 5 bilhões atribuídos ao Madison Square Garden Sports Corp. (MSGS), empresa listada na bolsa de valores que é a proprietária do time de basquete.

A saga do Knicks em 2024-2025 exemplifica como o sucesso esportivo pode transcender os limites do jogo, fortalecendo identidades culturais e produzindo resultados econômicos e sociais que vão muito além de ingressos vendidos.

Se o Knicks conquistar o título da NBA depois de 52 anos, o pandemônio de consumo que se anuncia no horizonte provavelmente será algo sem precedentes na história dos Estados Unidos.

Em Nova Iorque, a “selva de pedra onde os sonhos são feitos”, as vitórias, nas cestas e nas cifras, são ainda mais grandiosas e especiais.

Crédito imagem: Eva Woolridge/The New York Times

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