A visibilidade dos números e a profissionalização do futebol

O futebol, mais do que um esporte, consolidou-se como uma poderosa indústria de entretenimento, marketing e geração de receitas. No cenário atual, em que os clubes disputam não apenas títulos, mas também espaço de mercado, audiência e valorização de marca, a comunicação eficiente tornou-se um fator essencial para o sucesso do produto futebol. E um dos pontos que impactam diretamente essa comunicação — embora frequentemente negligenciado — é a visibilidade dos números nas camisas dos jogadores.

Hoje, é notório que diversos clubes brasileiros, como São Paulo e Atlético Mineiro, utilizam uniformes que dificultam a identificação dos números dos atletas, especialmente para profissionais de rádio e televisão.

Muitas vezes, o contraste entre número e camisa é mínimo, a fonte escolhida é inadequada para leitura rápida, e o tamanho é insuficiente para visualização a distância. Essa deficiência prejudica a transmissão do espetáculo, compromete o trabalho da imprensa, dificulta a formação de vínculo entre torcedores e atletas e, em última análise, enfraquece o próprio produto que se busca vender.

No direito brasileiro, a proteção da clareza e da transparência da informação é um princípio consagrado, tanto no Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, III), quanto no Código Civil (art. 422, boa-fé objetiva), ambos aplicáveis ao futebol enquanto atividade econômica que oferta produtos e serviços ao mercado.

O torcedor, como consumidor final, tem o direito de receber uma experiência adequada, que inclua a correta identificação dos atletas em campo. A comunicação no futebol não se resume ao que é transmitido pela imprensa: ela começa pela visibilidade e organização dos elementos visuais do próprio espetáculo.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), enquanto entidade responsável pela organização das competições nacionais, tem o dever de assegurar a qualidade e a profissionalização do futebol brasileiro em todas as suas dimensões. Isso inclui a necessidade de estabelecer padrões mínimos obrigatórios de visibilidade para números e nomes nas camisas dos jogadores, a serem cumpridos por todos os clubes participantes.

Não se trata de mera escolha estética ou de uma recomendação opcional, mas de um requisito técnico indispensável para garantir a integridade do produto que se quer comunicar e vender.

A importância dessa regulamentação já é reconhecida em outros mercados esportivos. A UEFA, por exemplo, passou a exigir que os números nas camisas apresentem contraste mínimo adequado com a cor do uniforme para garantir a visibilidade dos jogadores durante as partidas.

Recentemente, o Bayern de Munique precisou modificar seu uniforme titular da temporada 2024-2025 porque o contraste entre os números escuros e a camisa vermelha era insuficiente para atender aos padrões de visibilidade exigidos. Embora o uniforme não tenha sido proibido, a utilização ficou condicionada à alteração das cores dos números, para assegurar a identificação clara dos atletas em campo. [1]

Essa situação demonstra que até os maiores clubes do mundo precisam se adaptar a exigências que valorizam a clareza visual no futebol, reforçando a importância de tratar a comunicação como elemento essencial na profissionalização do esporte.

Esse problema se agrava ainda mais nas categorias de base, como foi visto recentemente em jogos da Copa do Brasil Sub-20, onde narradores e comentaristas enfrentaram extrema dificuldade para identificar os jogadores, dada a baixa visibilidade dos números.

Em competições de formação, onde os atletas ainda são desconhecidos do grande público, a necessidade de identificação é ainda mais acentuada. Impedir a correta identificação dos jogadores prejudica seu reconhecimento, sua valorização no mercado e compromete inclusive futuras negociações, afetando diretamente o ciclo de geração de receita dos clubes.

Regulamentar essa questão não exigiria grandes esforços. Bastaria que os regulamentos das competições nacionais estipulassem critérios objetivos e obrigatórios para o tamanho mínimo dos números, o contraste de cores entre número e camisa, a legibilidade da fonte utilizada e a obrigatoriedade de fixação do nome dos jogadores nas costas. Assim, garantir-se-ia uma comunicação clara e eficaz, beneficiando todos os envolvidos: clubes, atletas, imprensa, patrocinadores e, principalmente, torcedores.

O futebol moderno exige profissionalismo em todas as etapas do seu processo de construção como espetáculo e como produto de mercado. Ignorar detalhes como a visibilidade dos números é comprometer a qualidade da entrega final ao consumidor.

Profissionalizar a comunicação visual no futebol é fortalecer sua imagem, ampliar suas receitas e garantir que o Brasil se mantenha competitivo no cenário mundial, respeitando o seu torcedor e valorizando os seus talentos.

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[1] https://www.footyheadlines.com/2025/02/has-uefa-banned-bayern-munichs-24-25.html

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