Bets denunciaram mais de 200 casos suspeitos de manipulação de resultados no esporte em 2024

O início do julgamento de Lucas Paquetá, jogador do West Ham, na última segunda-feira (17), por má conduta relacionada a apostas esportivas, reacendeu o debate sobre a manipulação de resultados no esporte.

O brasileiro de 27 anos foi acusado pela Federação Inglesa (FA), em maio do ano passado, de forçar cartões amarelos em quatro partidas da Premier League, entre 2022 e 2023, para favorecer apostadores. A entidade pede o banimento do atleta do futebol.

A denúncia apresentada pela FA contra Paquetá só foi possível porque as casas de apostas estão em alerta para movimentações suspeitas em todo o mundo e, por meio de monitoramento constante e integração de dados a nível internacional, têm contribuído para identificar desvios não apenas no futebol, mas também em outros esportes.

Inteligência artificial como ferramenta

A integração de tecnologias avançadas e inteligência artificial tem sido essencial para mitigar riscos à integridade esportiva, garantindo maior transparência e credibilidade às competições. No Brasil, onde a regulamentação do mercado de apostas esportivas entrou em vigor em janeiro de 2025, exige-se que as apostas legalizadas realizem a identificação facial do usuário, de modo a dificultar o acesso irregular de terceiros às plataformas.

Fernando Vieira, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), explica que os operadores regulamentados e autorizados pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), associados ao IBJR, possuem sistemas de monitoramento baseados em inteligência artificial que analisam diariamente padrões de apostas.

“A integridade esportiva é um pilar fundamental para a promoção de um ambiente de apostas responsável. Quando uma suspeita de fraude é identificada, as operadoras reportam essas informações diretamente a organismos internacionais como a IBIA, principal voz global sobre integridade para o setor de apostas online”, explica.

“Se confirmadas as suspeitas, a IBIA encaminha as informações às autoridades brasileiras competentes para as devidas providências. Ou seja, é a regulamentação e os operadores de apostas regulados que garantem que mecanismos de controle operem de forma eficaz, preservando, assim, os princípios de jogo íntegro e responsável”, acrescenta.

Apostas suspeitas em 2024

De acordo com o relatório anual da Associação Internacional de Integridade em Apostas (IBIA) – principal entidade global em integridade para o setor de apostas licenciadas para monitoramento, identificação e combate a fraudes –, em 2024 houve um aumento de 17% nos alertas de apostas suspeitas em todo o mundo, totalizando 219 casos.

O futebol segue como o esporte mais impactado, com 75 ocorrências suspeitas registradas. Ainda, em 2024, os dados da IBIA ajudaram a comprovar a manipulação de resultados em 33 partidas e levaram à aplicação de 17 sanções contra clubes, jogadores e dirigentes.

Regulamentação do setor no Brasil e aumento da fiscalização

Udo Seckelmann, advogado especializado em gambling, afirma que, com a regulamentação das apostas esportivas no Brasil, a tendência é que a fiscalização sobre atividades suspeitas de match-fixing e spot-fixing aumente consideravelmente em comparação com o mercado desregulamentado.

“Há quem diga que a legalização e regulamentação das apostas seja prejudicial ao esporte brasileiro, pois aumentaria os casos de manipulação de resultados. Contudo, na realidade, operadores de apostas licenciados passam a fiscalizar tais atividades suspeitas, tanto por exigência regulatória quanto por interesse próprio (visto que são um dos maiores prejudicados com a manipulação dos eventos esportivos). Enquanto no mercado desregulamentado os criminosos atuam nas sombras, em razão da ausência de fiscalização efetiva, o mercado regulamentado joga luz sobre a atividade e passa a identificar tais criminosos mais facilmente — principalmente com a cooperação entre diversos stakeholders”, analisa.

Para o advogado Rafael Marcondes, Chief Legal Officer (CLO) do Rei do Pitaco, a estruturação do mercado de apostas esportivas, tirando-o da ilegalidade, tem contribuído para a redução desses índices nos mercados que buscam a regulamentação das apostas.

“O Brasil, que, apesar de formalmente ter aberto seu mercado regulado apenas em janeiro de 2025, ao longo de 2024 adotou medidas de fiscalização e implementou um regime de transição que trouxe resultados imediatos, com o aumento do controle das manipulações pelos operadores de apostas esportivas”, conta o especialista em direito desportivo.

“Segundo relatório divulgado em 2024 pela SportRadar, o futebol brasileiro registrou em 2024 queda de 48% no número de partidas suspeitas, em comparação com 2023. Os dados falam por si sós e indicam que a solução do problema passa, necessariamente, pela atuação das casas de apostas em colaboração com o Governo na fiscalização e monitoramento da integridade esportiva”, acrescenta.

Marcondes ressalta que a manipulação de resultados é um problema global e só pode ser mitigado com a atuação conjunta das autoridades públicas e operadores de apostas esportivas.

“A manipulação de resultados é um fenômeno global, assim como o doping, e precisa ser controlada, o que só é possível quando autoridades públicas e operadores de apostas esportivas atuam em conjunto. Para isso, os mercados precisam ser regulados. O Brasil ainda tem muito a avançar, mas está na direção correta”, finaliza.

Crédito imagem: Wpadington | Getty Images

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