Camisa vermelha na Seleção Brasileira? Sim, é legal – e é História

A recente comoção nas redes sociais diante da possibilidade de a Seleção Brasileira usar uma camisa vermelha revela muito mais sobre o estado emocional do país do que sobre o futebol em si. Muita gente se apressou em criticar, associando a cor a uma suposta conotação política. Mas o que dizem os fatos? E o que diz o Estatuto da CBF?

Do ponto de vista jurídico, não há qualquer impedimento. O Estatuto da Confederação Brasileira de Futebol permite expressamente que os uniformes da Seleção “obedeçam às cores existentes na bandeira da CBF”, mas também abre exceção clara: “sendo permitida a elaboração de modelos comemorativos em cores diversas, sempre mediante aprovação da Diretoria”. Ou seja, desde que aprovado internamente, o uso de uma camisa vermelha – ou de qualquer outra cor – é absolutamente legítimo.

Mas a discussão não é apenas legal. É também histórica e cultural.

O vermelho faz parte da formação simbólica do Brasil. O próprio nome “Brasil” vem do pau-brasil, madeira que, ao ser cortada, exibia uma coloração vermelha viva, como brasa – daí o nome. E mais: o Brasil já teve bandeiras com elementos vermelhos, como a do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e na bandeira revolucionária da Confederação do Equador. A presença do vermelho, portanto, não é uma invenção moderna: é um aceno à nossa trajetória.

Politizar as cores da camisa é um desserviço ao futebol e ao país. Nem o verde e o amarelo pertencem à direita, nem o vermelho é monopólio da esquerda. A Seleção Brasileira é patrimônio de todos os brasileiros – e o futebol, por mais que dialogue com a política, não pode ser sequestrado por ela.

E no final das contas, é impossível ignorar que também estamos diante de uma jogada de marketing de rara inteligência. Com a crescente associação da “amarelinha” ao bolsonarismo, uma parte significativa da população passou a rejeitá-la ou evitá-la. A adoção de um uniforme alternativo vermelho, por outro lado, tende a atrair justamente os setores que se distanciam desse grupo político – os chamados “antibolsonaristas” – ampliando o mercado consumidor e reposicionando a marca da Seleção junto a um novo público.

Ou seja, além de legal e histórico, é também um movimento estratégico. No futebol moderno, tradição, mercado e identidade caminham juntos. E, no Brasil, camisa da Seleção também é narrativa – política, cultural e comercial.

Crédito imagem: Reprodução

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