Na semana em que o futebol brasileiro deveria estar discutindo o novo técnico da Seleção — anunciado com pompa como Carlo Ancelotti —, os holofotes se voltaram, mais uma vez, para os bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No último dia 15 de maio, o presidente Ednaldo Rodrigues foi novamente destituído do cargo, por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A justificativa? A possível falsificação da assinatura do ex-presidente Antônio Carlos Nunes, o “Coronel Nunes”, em um acordo que havia sido homologado pelo STF e que serviu de base para a permanência de Ednaldo no comando.
O pedido partiu de Fernando Sarney, vice-presidente da CBF e filho do ex-presidente José Sarney, que, não por coincidência, acabou nomeado como interventor para conduzir novas eleições na entidade. Mas, como em todo grande clássico, esse caso não se resume ao placar: é preciso olhar os bastidores, as estratégias e os interesses envolvidos — e, neste caso, eles são muitos.
Uma partida sem regra clara
A queda de Ednaldo não é novidade. Em 2023, ele já havia sido afastado pelo mesmo TJ-RJ, por alegadas irregularidades no processo eleitoral que o elegeu. Foi reconduzido pouco depois por decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, que homologou um acordo entre os dirigentes e, com isso, encerrou momentaneamente a disputa.
Agora, tudo mudou. Uma reportagem do portal Leo Dias revelou que o Coronel Nunes, de 86 anos, sofre de déficit cognitivo severo, o que levanta dúvidas sobre sua real capacidade de ter assinado — de forma consciente — o referido acordo. Um laudo grafotécnico anexado por Fernando Sarney apontou possível falsificação. A Justiça, então, entendeu que o negócio jurídico estava viciado. Resultado: anulação do acordo, afastamento da diretoria e nomeação de interventor.
O curioso é que o próprio Gilmar Mendes, que antes blindava Ednaldo, determinou a apuração imediata dos fatos e entregou o caso ao TJ-RJ. Para muitos, foi o sinal de que o ministro “pulou do barco”, diante das pressões políticas e do desgaste à sua imagem após denúncias sobre sua influência dentro da CBF.
Gilmar, Zveiter e a arbitragem paralela
O que se vê nos autos é mais que um processo judicial: é um jogo de xadrez institucional, onde figuras do Judiciário atuam como técnicos de bastidores. De um lado, Gilmar Mendes, com seu histórico de proximidade com a entidade — inclusive por meio de contratos com o IDP, instituto do qual é sócio. Do outro, o desembargador Luiz Zveiter, ex-presidente do STJD, nome histórico do Judiciário esportivo e mentor político de Gabriel Zefiro, relator do caso no TJ-RJ.
A velocidade da decisão também chama atenção: enquanto a média de tramitação no TJ-RJ é de 121 dias, a liminar que afastou Ednaldo foi concedida em sete dias. Mais do que um lance isolado, parece um script bem ensaiado.
Quem apita o jogo?
No recurso interposto ao STF, a CBF afirma que a decisão do TJ-RJ violou a autoridade da Corte Suprema, já que o acordo foi homologado por Gilmar Mendes e o processo havia sido extinto com trânsito em julgado. A entidade alega que a Justiça fluminense extrapolou suas competências ao anular unilateralmente uma decisão do STF — o que, de fato, merece ser debatido com seriedade.
Mais do que isso, a CBF afirma que Fernando Sarney não poderia ter sido nomeado interventor, pois sua legitimidade também decorre da eleição cuja validade está sendo questionada. Ou seja, se o acordo é nulo, o mandato dele também seria.
O futebol entre o VAR e o Supremo
Esse caso revela o que todos já suspeitavam: o futebol brasileiro está menos na CBF e mais nos gabinetes. A crise é institucional. A entidade que comanda o esporte mais popular do país está sendo alvo de disputas que envolvem ministros do Supremo, desembargadores, políticos, jornalistas e empresários. Tudo, menos bola rolando.
A intervenção judicial no futebol é sempre um tema delicado, mas quando há indícios de fraude, incapacidade e desvio de finalidade, o Judiciário precisa agir. O problema está na forma: quando a lei é interpretada ao sabor de interesses, a segurança jurídica vira apenas mais uma peça no tabuleiro.
Conclusão: não é só futebol — é soberania institucional
A queda de Ednaldo Rodrigues é, acima de tudo, um retrato de um Brasil onde a confusão entre os poderes, os interesses cruzados e os bastidores mal iluminados do esporte seguem ditando o rumo das nossas instituições.
A pergunta que fica é: quem realmente manda no futebol brasileiro? A CBF, o STF, ou os bastidores do poder?
Seja qual for a resposta, o torcedor merece mais transparência, mais ética e menos jogo sujo.
Crédito imagem: CBF/Divulgação
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