O Conselho da Fifa aprovou, na última sexta-feira (9), durante o 74º Congresso da entidade, o estabelecimento oficial da seleção feminina de refugiadas do Afeganistão (AWRT, na sigla em inglês). A equipe é composta por jogadoras que deixaram o país do Oriente Médio após o retorno ao poder do grupo extremista Talibã, em meados de 2021.
Segundo a entidade máxima do futebol, será criada uma estratégia de ação para o desenvolvimento da seleção afegã, que prevê políticas de organização, treinos e presença em torneios, por exemplo. Além disso, a segurança das atletas também terá atenção especial.
“A Fifa está comprometida a dar a todas as meninas a possibilidade de jogar futebol”, declarou Gianni Infantino, presidente da entidade, classificando a decisão do Conselho da entidade como um “marco histórico”.
Segundo a Fifa, neste primeiro momento, a equipe passará por uma fase piloto de um ano. Durante esse período, as jogadoras participarão de partidas amistosas reconhecidas e torneios supervisionados.
A seleção feminina afegã não disputa uma partida oficial de futebol desde 2018 e não aparece mais no ranking mundial da Fifa, que abrange 196 nações. Desta forma, ficou ausente do sorteio das Eliminatórias da Copa Asiática Feminina de 2026, torneio essencial para o processo de classificação para a Copa do Mundo Feminina de 2027.
Especialistas citam necessidade de mecanismos que fortaleçam os direitos humanos
A advogada desportiva Ana Mizutori destaca que a decisão da Fifa de reconhecer oficialmente a seleção feminina de refugiadas do Afeganistão é parte da luta por igualdade de gênero no esporte. Contudo, a especialista afirma que é fundamental a criação de medidas estruturais e preventivas a contextos de opressão e violação de direitos fundamentais.
“Embora a iniciativa de criar uma seleção de refugiadas sob supervisão da Fifa seja louvável, ela não substitui a necessidade de medidas estruturais e preventivas. É imperativo que entidades esportivas internacionais estabeleçam mecanismos de resposta efetivo a contextos de opressão, garantindo proteção e continuidade às carreiras de atletas afetadas por regimes autoritários”, ressalta.
“A decisão atual da Fifa, embora significativa, ressalta a urgência de políticas mais proativas e eficazes para assegurar que o esporte seja, de fato, um espaço de inclusão e resistência frente às injustiças sociais”, acrescenta a advogada.
Fernando Monfardini, advogado especialista em compliance, também lamenta a demora no reconhecimento oficial da seleção afegã por parte da Fifa.
“Infelizmente, é difícil comemorar uma medida que chega com muito atraso. Apesar de ser um avanço e ajudar refugiadas de um regime que contraria o básico dos direitos fundamentais, demorou muito tempo. Há um sério problema em endereçar ações concretas para fortalecer os direitos humanos e se articular contra regimes autoritários”, afirma.
Essa demora, inclusive, é citada em um relatório produzido pela Sport & Rights Alliance – entidade que reúne organizações, movimentos e sindicatos do futebol voltados à proteção dos Direitos Humanos –, divulgado em março deste ano.
“Ao falhar em abordar a exclusão das mulheres afegãs do futebol internacional desde 2021, pode-se dizer que a Fifa está contribuindo para a discriminação de gênero”, diz o documento.
Proibição do esporte feminino no Afeganistão
A seleção feminina do Afeganistão estava ativa desde 2007, após a queda do primeiro regime Talibã. No entanto, o cenário mudou drasticamente em agosto de 2021, quando o grupo extremista retornou ao poder.
Desde então, o grupo tem suprimido os direitos das mulheres no país, restringindo liberdades básicas, banindo meninas de frequentarem as escolas, cerceando a presença feminina no mercado de trabalho e proibindo o esporte feminino.
A medida, somada à perseguição do grupo às mulheres, fez com que centenas de jogadoras e suas famílias tivessem que deixar o país em busca de um novo futuro.
Com apoio de entidades e governos internacionais, as atletas conseguiram deixar o Afeganistão e atualmente se encontram exiladas em países como Austrália, Portugal, Albânia, Reino Unido e Estados Unidos.
Distantes de seu país, elas intensificaram a campanha para ter o reconhecimento da Fifa, o que poderia garantir o apoio financeiro negado pela Federação Afegã de Futebol (AFF).
Crédito imagem: Heidi Wentworth-Ping / UNHCR
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