Conmebol abre processo disciplinar contra Bobadilla por xenofobia na Libertadores. O que pode acontecer com jogador?

A Conmebol, entidade organizadora da Libertadores, abriu um processo disciplinar contra o volante paraguaio Bobadilla, que foi acusado de xenofobia por Miguel Navarro, do Talleres-ARG, na última terça-feira (27), durante a derrota por 2 a 1 para o São Paulo, no Morumbis.

O meia do São Paulo foi acusado por Navarro de proferir as seguintes palavras: “venezuelano morto de fome”. O insulto teria ocorrido por volta dos 41 minutos do segundo tempo, após o segundo gol do Tricolor.

Segundo especialistas ouvidos pelo Lei em Campo, Bobadilla corre risco de pegar um gancho pesado se comprovado o insulto contra Navarro.

“Os fatos narrados pelo atleta Navarro, do Talleres, serão objeto de apuração pela Conmebol e pela Polícia Civil de São Paulo. Em âmbito desportivo, uma vez que o Código Disciplinar da Conmebol prevê a infração de discriminação nos casos em que um atleta insulta outro atleta por motivos de “origem” (Art. 15.1), deverá ser aberto Expediente Disciplinar para investigação do episódio. Uma vez confirmado o ocorrido, a pena mínima prevista pela Conmebol é de 10 (dez) partidas ou 04 (quatro) meses de suspensão nas competições organizadas pela Conmebol”, afirma João Marcello Costa, advogado especializado em direito desportivo e penal no Asseff Advogados.

“Uma pena que mais um evento dessa natureza tenha ocorrido, logo agora que a Conmebol acaba de dar início a campanhas educativas antes das partidas contra a discriminação, violência e o racismo. O atleta do São Paulo fica sujeito a ser denunciado com base no art. 15.1 do Código Disciplinar da entidade, que prevê suspensão mínima de 10 partidas ou 4 meses (não sendo caso de reincidência), por insultar contra a dignidade de outra pessoa por ato discriminatório”, acrescenta o advogado desportivo Carlos Henrique Ramos.

“Caso comprovada a ofensa, a conduta do Bobadilla pode ser enquadrada no artigo 15.1 do Código Disciplinar da Conmebol, que prevê punição a atos que atentam contra a dignidade humana, inclusive relacionados à origem do ofendido. A suspensão prevista é de pelo menos 10 partidas ou 4 meses”, avalia o advogado Jean Nicolau, especialista em direito desportivo.

Vale lembrar que em abril, o meia uruguaio Pablo Ceppelini, do Alianza Lima, do Peru, pegou quatro meses de gancho por chamar torcedores do Boca Juniors de “bolivianos”. O crime foi registrado no jogo de volta entre os clubes na pré-Libertadores, na La Bombonera.

Punição na esfera criminal

O caso deve ter desdobramentos também na esfera criminal. Bobadilla foi intimado e precisará comparecer à delegacia na próxima sexta-feira (30) para prestar depoimento sobre o caso.

Navarro registrou um boletim de ocorrência no estádio Morumbis logo após o fim da partida. Bobadilla, por sua vez, deixou o local antes de ser abordado pela Polícia Militar e agora terá que responder legalmente.

“Do ponto de vista criminal, uma vez que o fato teria se dado em solo brasileiro, a Polícia Civil de São Paulo apurará a ocorrência do crime de injúria racial (art. 2º-A da Lei 7.716/1989), ao qual a xenofobia é equiparada. A pena prevista para tal conduta é de 2 (dois) a 5 (cinco) anos de prisão, que pode ser convertida em prestação de serviços comunitários”, afirma o advogado João Marcello Costa.

Entenda a denúncia

Em entrevista na zona mista do estádio, Navarro narrou o que teria acontecido, revelando até a frase que escutou do colega paraguaio dentro de campo por volta dos 41 minutos do segundo tempo.

“É lamentável falar desse tipo de coisa. Quando eles fazem 2 a 1, se não me engano quem marca é o Luciano, ele estava praticamente dando a volta no campo. Então eu digo ao árbitro que apressa, porque precisamos jogar. Então Bobadilla vira para mim e diz: vocês sempre fazem cera. Eu respondo: que cera? E aí ele me chama de venezuelano morto de fome”, revelou.

O lateral contou que gostaria de ter deixado a partida na hora que teria sofrido a ofensa, lamentando que todas as substituições já haviam sido feitas. Ele foi flagrado chorando dentro do gramado e foi consolado por atletas do Talleres e alguns do São Paulo.

“Sim, eu quis sair, mas lamentavelmente não tínhamos mais substituições. Não quis deixar meus companheiros com um jogador a menos, então terminei a partida, mas minha cabeça não estava ali naquele momento”, afirmou.

Crédito imagem: Rubens Chiri / São Paulo FC

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