Desporto, Direito Desportivo e COP 30: um alinhamento urgente pela sustentabilidade

O mundo vive um momento decisivo. A crise ambiental deixou de ser uma ameaça futura e passou a fazer parte do nosso presente. Basta ver a escassez hídrica, perda da biodiversidade e eventos climáticos extremos que já fazem parte da realidade cotidiana em várias regiões. Em 2025, o Brasil receberá um dos eventos mais importantes no combate a essa crise — a COP 30, que será realizada em Belém do Pará, no coração da Amazônia.

Muitos podem se perguntar “o que o desporto tem a ver com isso?” e a resposta é muito mais do que se imagina, na medida em que o desporto, em todas as suas formas — olímpico, escolar, profissional, comunitário, de formação — é um fenômeno com impacto social, cultural e ambiental profundo. Grandes eventos desportivos movimentam milhões de pessoas, alteram paisagens, consomem recursos naturais e, não raro, deixam rastros ecológicos preocupantes.

Mas o desporto também pode ser parte da solução, desde que a sustentabilidade seja integrada à sua prática e à sua regulação.

Desporto e meio ambiente: impactos e oportunidades

A construção de arenas e estádios, centros de treinamento e complexos desportivos envolve desmatamento, consumo intensivo de água e energia, produção de resíduos e emissão de gases do efeito estufa. Mega eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, ambos sediados no Brasil, exigiram obras com impactos ambientais controversos.

Por outro lado, o potencial educativo e mobilizador do desporto é enorme. Atletas são os protagonistas e têm papel de liderança, clubes reúnem milhões de torcedores, e eventos desportivos são acompanhados globalmente via streaming e várias formas de propagação.

Será incalculável o poder de transformação de todo esse ecossistema quando for ativado em prol do meio ambiente!

À guisa de exemplo, podemos citar alguns casos de sucesso:

  • Clubes europeus como o Forest Green Rovers, na Inglaterra, que é neutro em carbono e só serve alimentos veganos no estádio.
  • A FIFA, já possui programas com diretrizes de sustentabilidade para Copas do Mundo.
  • O Comitê Olímpico Internacional, que assumiu o compromisso de tornar os Jogos Olímpicos carbono neutro até 2030.

E o Brasil, com sua biodiversidade e cultura desportiva vibrante, tem tudo para ser referência também nesse campo.

Direito desportivo verde: o futuro da regulação desportiva

O direito desportivo, ramo jurídico que regulamenta o funcionamento das entidades desportivas e as relações entre atletas, clubes, federações e o Estado, precisa ser ampliado para incorporar a dimensão ambiental.

De forma exemplificativa, poderão ser adotadas medidas no sentido de: a) Exigir licenciamento ambiental rigoroso para obras desportivas; b) Criar incentivos fiscais para clubes que adotem práticas sustentáveis. c) Incluir cláusulas ambientais em contratos de patrocínio, exigindo compromissos de emissões, economia circular ou reflorestamento. d) Os próprios clubes e Federações estabelecerem planos de gestão ambiental obrigatórios para entidades desportivas.

Trata-se de um novo conceito que transcende ao mero cumprimento da legislação, pois passa a ser incorporada uma nova ética, qual seja, o desporto como bem coletivo que respeita e protege o meio ambiente.

A COP 30 em Belém: o desporto não pode ficar de fora

Belém, capital do Pará, será o centro das atenções globais em 2025. Localizada na Amazônia Legal, a cidade representa não apenas um bioma estratégico, mas também simboliza os desafios e esperanças de um mundo mais verde.

Por isso, a inclusão do desporto nas pautas da COP 30 é essencial.

Neste sentido, passam a ser listadas algumas propostas concretas para transformar esse encontro em um marco também para o mundo desportivo:

  1. Criação de um Pacto Verde do Desporto Brasileiro, articulado por ministérios, confederações, clubes e organizações da sociedade civil.
  2. Painéis temáticos sobre desporto e meio ambiente na programação oficial e nos eventos paralelos da COP.
  3. Programas de educação ambiental com base no desporto, voltados especialmente para jovens em situação de vulnerabilidade social.
  4. Selo “Evento Desportivo Sustentável”, certificando boas práticas em eventos regionais e nacionais.
  5. Incentivo a pesquisas e publicações acadêmicas sobre o tema, fortalecendo a base teórica e jurídica da transição verde no desporto.

Todo aquele que é apaixonado pelo desporto e que está engajado no ambiente desportivo, mesmo sem ocupar cargos de decisão pode contribuir com pequenas atitudes que, somadas, representarão uma mudança, como cobrar transparência ambiental de clubes e federações; apoiar atletas e projetos engajados em causas socioambientais; incentivar práticas de baixo impacto em sua comunidade desportiva: reciclagem, economia de água, energia limpa; divulgar conteúdos que associem desporto e sustentabilidade, ajudando a criar uma nova cultura esportiva no país.

O “gol” que precisamos marcar

A COP 30 será um divisor de águas para a política ambiental brasileira e para a imagem internacional do nosso país. O desporto é um fenômeno social e por sua força cultural e sua capacidade de mobilização, tem que ser protagonista nesse processo.

O Brasil tem tudo para liderar um movimento transformador e impactante que poderá deixar um legado sem precedentes na história.

Crédito imagem: iStock

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