Dia internacional contra a discriminação: episódios recentes de racismo obrigam esporte a refletir

Nesta sexta-feira, 21 de março, é celebrado o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), faz referência ao episódio que ficou conhecido como “Massacre de Sharpeville”, em 1960, na África do Sul.

O massacre ocorreu quando cerca de 20 mil sul-africanos protestaram contra a determinação imposta pelo governo da época de limitar os locais onde a população negra poderia circular. Em resposta ao protesto, que era considerado pacífico, militares da África do Sul agiram violentamente para reprimir o ato. Tiros foram disparados contra os manifestantes, resultando na morte de 69 pessoas e mais de 180 feridos.

Desde 1966, quando a ONU instituiu a data, ela serve para reforçar o compromisso global com a igualdade racial e o combate a qualquer forma de discriminação na sociedade, inclusive no esporte.

Em um contexto atual de crescente visibilidade do racismo no futebol sul-americano, especialmente nas competições organizadas pela Conmebol, a data ganha ainda mais relevância.

Nos últimos meses, episódios de racismo em partidas de futebol, tanto na Libertadores quanto na Sul-Americana, têm manchado a imagem do esporte na América do Sul. No caso mais recente, neste mês de março, o atacante Luighi, do Palmeiras, foi alvo de ataques racistas por parte de torcedores do Cerro Porteño durante uma partida válida pela categoria Sub-20. A Conmebol puniu o clube paraguaio com multa de US$ 50 mil (cerca de R$ 290 mil) e a obrigação de atuar sem público no restante da competição.

A pena foi criticada pelo Palmeiras e também pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A Conmebol, inclusive, tem sido acusada por sua postura permissiva, com penas muitas vezes brandas e ineficazes.

Após o episódio, o Alviverde passou a se organizar, juntamente com outros clubes brasileiros, para pedir reformas no Código Disciplinar da entidade e, assim, tornar as punições mais severas.

Nesse sentido, o advogado e jornalista Andrei Kampff, especialista em direito desportivo, afirma que “quando se trata de proteger os direitos humanos, as garantias consagradas nos ordenamentos jurídicos devem representar meios necessários e eficientes para neutralizar as tendências autoritárias”.

“A partir daí, os direitos humanos devem representar o núcleo do sistema disciplinar estabelecido pelas entidades esportivas para, neste assunto, fortalecer a qualidade dos procedimentos disciplinares e de arbitragem esportiva. Acredito que esse deve ser o foco da discussão: discutir e avançar nos regramentos privados do esporte na proteção de direitos humanos. A proteção de direitos humanos no esporte exige de todos uma atitude ativa, de compromisso real no combate a todo tipo de preconceito”, entende.

“A data de hoje é muito importante e nos leva a importantes reflexões. Vivemos em um momento de aumento da intolerância e do racismo. Tivemos alguns avanços no Brasil em relação ao combate ao racismo, mas precisamos avançar. Aqui, o racismo é crime, mas temos poucos racistas presos”, afirma Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

“Combater o racismo não é olhar somente para a punição de quem cometeu o ato racista. Enquanto não tivermos pessoas negras nesses espaços de gestão e poder, seja no futebol ou fora dele, estaremos muito longe do efetivo combate ao racismo. Precisamos avançar muito nesse sentido!”, acrescenta.

Números apontam crescimento de casos de racismo no futebol sul-americano

Segundo o relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, desde 2014, foram identificados 72 casos envolvendo atletas, torcedores e/ou equipes brasileiras que estavam atuando em competições sul-americanas (Libertadores ou Sul-Americana).

Desse total, 49 ocorreram em países vizinhos e outros 23 ocorreram no Brasil, sendo as agressões praticadas por torcedores, atletas, dirigentes e/ou clubes de outros países da América do Sul.

O país com o maior número de incidentes registrados é a Argentina, com 20 casos, seguido pelo Paraguai (10) e Uruguai (8).

O levantamento também aponta para o crescimento de casos de racismo no futebol nos estádios, na internet e em outros espaços nos últimos anos. Entre 2013 e 2023, houve 576 ocorrências de incidentes raciais no Brasil, registradas em eventos da Conmebol. Em 2020 foram 31 registros, e nos anos seguintes: 64 (2021), 98 (2022) e 136 (2023).

São Paulo faz proposta pública para combate ao racismo

Nesta sexta-feira, o São Paulo se manifestou oficialmente sobre os recentes episódios de racismo no futebol sul-americano. Sob a campanha “Racismo = Menos 3 pontos”, o Tricolor elencou uma série de propostas para punir com maior rigor casos dessa natureza.

Entre as medidas propostas pelo São Paulo, que, segundo o clube, foram enviadas à FIFA e à Conmebol, estão a perda de pontos e até mesmo a desclassificação de clubes que tenham torcedores ou representantes envolvidos em casos de discriminação racial, além de punição aos árbitros que não seguirem corretamente o protocolo estipulado pela FIFA para essas situações.

Crédito imagem: Staff Images / Cruzeiro

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo

Este conteúdo tem o patrocínio do Rei do Pitaco. Seja um rei, seja o Rei do Pitaco. Acesse: www.reidopitaco.com.br.

Compartilhe

Você pode gostar

Assine nossa newsletter

Toda sexta você receberá no seu e-mail os destaques da semana e as novidades do mundo do direito esportivo.