Eu trabalho, penso e pesquiso sobre iniciativas que possam deixar o esporte melhor. Muitas vezes, me deparo com trabalhos fantásticos e com ideias necessárias. Foi analisando uma iniciativa da Federação Paraense de Futebol que cheguei em mais uma (júri) história transformadora, em que cuidar do meio ambiente passou a ser também um compromisso do esporte.
O esporte mobiliza milhões de pessoas, investimentos bilionários e tem poder simbólico e cultural imenso. Mas essa potência carrega também impactos significativos — e, muitas vezes, devastadores — sobre o meio ambiente. Megaeventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA envolvem deslocamentos massivos, obras de grande escala e intervenção direta sobre ecossistemas frágeis. A responsabilidade ecológica, portanto, não é um anexo: é central.
No movimento olímpico
O alerta não é novo. O movimento olímpico só passou a incorporar a questão ambiental após forte pressão social. Os Jogos de Inverno de 1992, em Albertville, foram chamados de “desastre ambiental”, e ativistas denunciaram os danos com protestos simbólicos que impactaram a imagem do COI. E – como muitas vezes acontece – a pressão, gera irritação, provoca diálogo e – algumas vezes – aprendizado. Segundo Antoine Duval, em artigo para o Journal of Law, “sem o dano causado pela proteção de Albertville à sua imagem transnacional, há poucas evidências de que o COI teria considerado uma mudança na política ambiental”. A crítica pública, nesse caso, funcionou como força constituinte de uma nova direção institucional.
A resposta do Comitê Olímpico Internacional veio: em 1994, dois anos após os jogos, o meio ambiente foi incluído como o terceiro pilar do Olimpismo, ao lado do esporte e da cultura, e a Carta Olímpica em 1996 passou a prever expressamente que os Jogos deveriam ocorrer com “preocupação razoável com o meio ambiente” (Regra 2). Apesar do “razoável”, é um avanço importante que demonstra a capacidade real de regimes transnacionais como o COI de reagirem às ameaças à sua legitimidade, reformando suas “constituições privadas” de forma responsiva.
No futebol
A FIFA tem seguido caminho semelhante, embora igualmente pressionada por críticas e demandas externas. A entidade lançou sua própria Estratégia de Sustentabilidade, prometendo reduzir pela metade suas emissões até 2030 e alcançar neutralidade de carbono até 2040. Desde a candidatura para a Copa de 2026, passou a exigir que as cidades-sede apresentem planos robustos de gestão ambiental, compensação de carbono, transporte sustentável e construção com certificação verde (como LEED e ISO 14001). Apesar de controvérsias, como o “greenwashing” denunciado no Catar, a FIFA está sendo forçada a incorporar a sustentabilidade em sua governança.
No Brasil, a CBF ainda dá passos tímidos nessa direção, mas há iniciativas que merecem destaque. Por isso, a iniciativa da FPF serve de exemplo. O primeiro Campeonato Estadual Temático sobre Meio Ambiente, com campanhas de educação ambiental, incentivo à redução de resíduos nos estádios e estímulo a práticas sustentáveis por parte dos clubes participantes. A ação foi bem recebida por torcedores, gestores e imprensa, e se tornou referência para outras federações.
Então…
Proteger o meio ambiente não é mais uma escolha do esporte, é uma obrigação. E ele aprendeu isso de uma maneira mais complicada, através de irritacões externas. Como concluiu Duval, no texto do Journal of Law, “a crítica pública pode levar à reforma institucional” mesmo nos regimes privados e transnacionais. O compromisso do esporte não é só estatutário, mas também com a humanidade. O esporte, que tanto fala em legado, precisa fazer do meio ambiente uma prioridade permanente — não apenas para proteger sua reputação, mas para preservar o futuro comum que compartilhamos. A sustentabilidade não pode ser um ornamento. Deve ser um compromisso ético, jurídico e estrutural.
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