Você já parou para pensar quantas vezes a sociedade julga antes mesmo da Justiça se pronunciar?
No caso de Daniel Alves, essa reflexão se impõe com urgência.
O jogador brasileiro foi acusado de agressão sexual na Espanha, ficou preso por mais de um ano, foi condenado… e, agora, em março de 2025, foi absolvido por insuficiência de provas. Durante esse tempo, foi excluído do Museu do Barcelona, perdeu contratos, foi descredibilizado publicamente e, em muitos círculos, passou a ser visto como culpado, independentemente da conclusão judicial.
É claro que a palavra da vítima tem enorme valor. E deve sempre ser acolhida com seriedade, empatia e cuidado. O depoimento de uma mulher que relata violência não pode ser tratado com descaso. Porém, no campo jurídico, o depoimento é uma prova que precisa ser confrontada com outros elementos do processo: exames, imagens, testemunhos, coerência narrativa.
A Justiça tem o dever de duvidar. Não para proteger criminosos, mas para evitar injustiças irreparáveis.
Já a sociedade, impulsionada por manchetes e redes sociais, muitas vezes julga com a emoção. A lógica do linchamento virtual não dá espaço para o devido processo legal. No tribunal digital, presunção de inocência virou privilégio. E a dúvida passou a ser vista como cumplicidade.
Mas há um ponto que não pode ser ignorado: vivemos numa sociedade patriarcal, onde homens ricos e influentes historicamente escaparam de condenações mesmo com indícios robustos. Essa estrutura social molda o receio de que o sistema falhe, mais uma vez, contra as mulheres. E não sem razão.
O desafio é equilibrar justiça e prudência, sem cair no silêncio cúmplice nem na condenação precipitada.
Como garantir escuta e acolhimento às vítimas, sem transformar acusações em verdades absolutas antes da sentença?
Nietzsche dizia que “não há fatos, apenas interpretações”. Mas a Justiça precisa de fatos. A sociedade, de empatia. E todos nós, de consciência.
O caso Daniel Alves não deve ser lido como um simples final feliz ou triste. Deve ser lido como um alerta.
Um lembrete de que a justiça de verdade não vive de likes, mas de responsabilidade.
E que, sim, a presunção de inocência é cláusula pétrea — mesmo nos tempos da cultura do cancelamento.
Crédito imagem: Fran Santiago/Getty Images
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