Depois da declaração do comissário Adam Silver de que a audiência de TV do primeiro final de semana dos playoffs da NBA foi a melhor dos últimos 25 anos, o sucesso comercial do Draft da NFL reforça que, do ponto de vista de alcance e visibilidade, o basquete e o futebol americano vão muito bem nos Estados Unidos, obrigado!
Em discurso proferido em um congresso esportivo, Silver classificou como “fantásticos” a média de espectadores que assistiram os 8 jogos iniciais (4,4 milhões) e o aumento de 17% em relação ao mesmo final de semana dos playoffs da temporada 2023-2024.
A partida mais assistida foi entre o atual campeão Boston Celtics e o Orlando Magic. Na plataforma de streaming da rede ABC, o jogo teve 6,69 milhões de acessos em média e pico de 8 milhões de aparelhos simultaneamente sintonizados. Na história, o único confronto inicial de primeira rodada dos playoffs com audiência superior a essa foi o duelo entre o próprio Celtics e o Brooklyn Nets em 2022.
A possibilidade de, por meio digital, alcançar fãs de diferentes maneiras, com transmissões alternativas customizadas para cada tipo de público, é algo que encanta a NBA e algo que veremos cada vez mais.
Adam Silver, aliás, citou expressamente o ManningCast, uma das transmissões alternativas da NFL, como inspiração.
Falar de eventos esportivos ao vivo como produtos premium de entretenimento não é novidade.
Mas e quando se trata de transformar em produto premium algo que sequer é uma disputa dentro das “quatro linhas”?
O Draft da NFL é exatamente isso: outrora uma reunião técnica restrita a dirigentes e especialistas, o recrutamento transformou-se, ao longo da última década, em uma das atrações mais aguardadas do calendário esportivo norte-americano.
Convertido em espetáculo midiático, o show oferece uma combinação de emoção e análise estratégica que o tornam atraente tanto para o grande público, ávido por saber em que franquias jogarão as futuras novas estrelas da liga (muitas delas já atletas de sucesso no esporte universitário), quanto para o fã hardcore, que acompanha as estatísticas e tenta prever os melhores encaixes táticos para cada jovem talento.
Realizado pela primeira vez em 1936, o Draft era tradicionalmente sediado em Nova Iorque. Isso mudou a partir de 2015, quando a NFL decidiu produzir um evento itinerante.
Desde então, o rodízio entre cidades trouxe uma nova dinâmica para o recrutamento, a qual vem sendo bastante apreciada também pelo fato de gerar muito dinheiro, que nunca é demais mesmo para uma liga que terá recebido US$ 110 bilhões de seus parceiros de mídia até 2033.
Chicago (2015 e 2016), Filadélfia (2017), Dallas (2018), Nashville (2019), Cleveland (2021), Las Vegas (2022), Kansas City (2023) e Detroit (2024) sucederam Green Bay como anfitriãs do Draft, recebendo multidões de torcedores/turistas que movimentaram as respectivas economias locais de maneira expressiva.
Na última temporada, 275.000 mil fãs estiveram presentes em Detroit na noite inaugural do recrutamento, que teve uma audiência total estimada em 12,1 milhões de espectadores.
Green Bay esperava acolher 300.000 visitantes entre os dias 24 e 26 de abril deste ano, com a expectativa de gerar um impacto econômico de aproximadamente US$ 90 milhões. E isso sem ninguém entrar em campo!
De quebra, essa itinerância permite que as comunidades das cidades escolhidas exponham ao país (e ao mundo) as suas identidades culturais, abarcadas em ativações de patrocinadores, fan zones, shows ao vivo e muita cobertura nas redes sociais.
Nas palavras do comissário Roger Goodell, “o Draft é onde os sonhos se encontram com a oportunidade”, algo que vale tanto para os atletas quanto para a própria liga.
Na atualidade, o recrutamento não se resume a “um jogo de xadrez de três dias, onde cada movimento pode definir uma década para um time”, como disse Mel Kiper Jr., analista da ESPN.
Sem prejuízo da possibilidade de analisarmos o fenômeno do recrutamento nas ligas esportivas norte-americanas pela perspectiva da restrição à liberdade de trabalho ou pela ótica do compliance (mesmo com as diretrizes impostas pela NFL, as entrevistas, os testes físicos e os exames psicológicos conduzidos pelas franquias já resultaram em diversas ações judiciais e denúncias sobre condutas discriminatórias ou invasivas), o Draft, neste momento e para o futuro, é mais um dos “filhotes” bem-acabados do sportainment.
Crédito imagem: Kirby Lee-Imagn Images
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