A trajetória do Oklahoma City Thunder, finalista da temporada 2024-2025 da NBA, combina ousadia gerencial, reconstruções estratégicas e muito talento dentro e fora de quadra.
Desde o nascimento da franquia até a recente ascensão ao topo da liga, o Thunder deixou de ser uma simpática equipe de mercado pequeno da região centro-oeste dos Estados Unidos para se tornar, em dois diferentes momentos, um exemplo de gestão e uma potência competitiva.
Fundada em 2008, após a realocação do Seattle SuperSonics para Oklahoma City, o time se tornou a “menina dos olhos” de Clay Bennett e deu ao empresário bastante prestígio.
Principal representante do Professional Basketball Club LLC, grupo proprietário da franquia anteriormente conhecida como SuperSonics, Bennett foi também Presidente do Conselho de Regentes da Universidade de Oklahoma e é a principal voz da Dorchester Capital Corporation, empresa que investe em private equity.
A caminhada de Bennett no basquete começou ainda em meados da década de 1990, quando ele era um dos donos do super vencedor San Antonio Spurs. Era Bennett quem representava a equipe do Texas nas reuniões do Conselho de Governadores da NBA, por exemplo.
Pouco antes da temporada 2005-06, Bennett e alguns empresários ligados às empresas locais Chesapeake Energy Corporation, SandRidge Energy Corporation e MidFirst Bank fecharam uma parceria com autoridades municipais e estaduais para que Oklahoma City alojasse, por duas temporadas, o então New Orleans Hornets, já que a cidade de Nova Orleans havia sido devastada pelo furacão Katrina, como contamos em texto anterior da coluna.
Na sequência desse movimento, Bennet liderou o grupo que, em 2006, adquiriu o Seattle SuperSonics por aproximadamente US$ 350 milhões. A promessa era de manter o time em Seattle desde que houvesse um compromisso público para a construção de uma nova arena.
Como a ideia se frustrou, já que não houve aprovação para, mediante cobrança de tributos, constituir um fundo de aproximadamente US$ 500 milhões que fomentaria a empreitada, Bennett notificou a NBA, em novembro de 2007, manifestando a intenção de levar a franquia para Oklahoma City.
E assim foi: a liga aprovou a realocação em abril de 2008 e, três meses depois, foi celebrado o acordo que extinguiu o processo judicial movido pela cidade de Seattle para anular a operação.
Tendo Sam Presti como general manager, então com apenas 30 anos de idade, a rebatizada franquia já vinha executando uma reconstrução a partir do Draft.
A sequência de acertos impressiona: com a 2ª escolha em 2007, o Oklahoma City Thunder selecionou Kevin Durant; em 2008, na 4ª escolha, o time ficou com Russell Westbrook e, usando a 24ª pick, escolheu Serge Ibaka; James Harden chegou como a 3ª escolha em 2009.
Desses quatro jogadores, três viriam a vencer o prêmio de jogador mais valioso da NBA em futuras temporadas. Apenas dois, porém, Durant em 2013-2014 e Westbrook em 2016-2017, foram premiados enquanto jogavam em Oklahoma.
Isso porque o jovem e explosivo núcleo que levara o Thunder às Finais da NBA na temporada 2012-2013 foi abruptamente desfeito após a derrota para o Miami Heat de LeBron James.
Com a controversa troca de James Harden para o Houston Rockets em 2013, Oklahoma City viu abalada a sensação de que havia uma dinastia a caminho.
A motivação de Sam Presti ao se desfazer de uma estrela em ascensão como Harden era evitar um comprometimento financeiro que fosse instransponível no futuro. Para alguns, um erro. Para outros, firmeza na filosofia de trabalho.
Em 2016, Kevin Durant escolheu o Golden State Warriors como destino na free agency. Restaram Westbrook e tentativas frustradas de montar um time vencedor com a chegada das estrelas Paul George e Carmelo Anthony.
Três anos depois, Presti optou por uma nova guinada e iniciou outra reconstrução, desta vez focada em acumular capital de Draft. Westbrook foi trocado para o Houston Rockets e Paul George seguiu para o Los Angeles Clippers, que, além de várias escolhas futuras, enviou em contrapartida o jovem armador Shai Gilgeous-Alexander.
Daí em diante, o Thunder foi acumulando mais escolhas de Draft enquanto desenvolvia, de modo paciente e metódico, ótimos jogadores como Jalen Williams, Lu Dort e Chet Holmgren. Temporada após temporada, aumentavam a profundidade do elenco e a flexibilidade para endereçar eventuais carências.
Alicerçada em uma cultura organizacional sólida, no trabalho de longo prazo do treinador Mark Daigneault (eleito técnico do ano na temporada 2023-2024) e no refinamento das análises estatísticas, o ponto mais alto foi alcançado em 2024-2025: chegada à final da Copa, Shai Gilgeous-Alexander eleito MVP e a vaga na grande final depois de 13 anos.
Resumo da ópera: o sucesso esportivo contínuo é possível mesmo para uma franquia situada em um dos menores mercados da NBA.
Não é simples, mas existe uma fórmula que tende a dar certo: investimento na evolução de treinadores e atletas, assertividade no trabalho de scout (nacional e internacional), entendimento das dinâmicas do Draft e uma “pitada” de ousadia e criatividade para manejar contratos.
Sob a liderança de Clay Bennett e Sam Presti, o Oklahoma City Thunder transformou adversidades em oportunidades e se posicionou como um perene postulante ao título da NBA.
O presente é sólido, o futuro pode ser de glórias. E, assim como ocorreu no passado, com Durant, Westbrook e Harden, um trovão se fez ouvir na Conferência Oeste da principal liga de basquete do mundo.
O raio caiu duas vezes no mesmo lugar: em uma arena de Oklahoma City. Só que não foi por acaso.
Crédito imagem: Bryan Terry / The Oklahoman
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo