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2020 será um ano perdido para as categorias de base do futebol brasileiro?

O impacto da pandemia, em todos os segmentos da sociedade, ainda é incalculável. No futebol não é diferente. O Lei em Campo já escreveu sobre os efeitos da suspensão dos jogos na várzea. Agora, mostra como as categorias de base podem ser afetadas nesta temporada.

“No processo de formação desportiva de um atleta de futebol, cada período e estágio de treinamento é de extrema importância. E a imposta e necessária paralisação das atividades terá como consequência um ‘achatamento na curva’ de crescimento da qualidade técnica dos jovens jogadores”, pondera o advogado especialista em direito esportivo, Rafael Cobra.

Por este motivo, sugere, de forma definitiva, a reclassificação das categorias de base no futebol brasileiro. A ideia é “adotar como parâmetro os anos pares (exceção ao sub 21) como limite de participação dos atletas. A partir da temporada de 2021, a categoria sub 12 seria para atletas nascidos em 2009 e 2010, a sub 14 para nascidos em 2007 e 2008, sub 16, 2005 e 2006, sub 18, 2003 e 2004, e sub 21, para aqueles que são de 2002, 2001 e 2000”, explica Rafael Cobra.

A proposta teve a chancela do ministro Guilherme Caputo Bastos, presidente da Academia Nacional de Direito Desportivo, e foi encaminhada à Confederação Brasileira de Futebol. A entidade, no entanto, trabalha com o protocolo e os procedimentos para o retorno das competições de base ainda em 2020, e a reclassificação não foi discutida nestes termos, informou a assessoria de imprensa.

O Campeonato Brasileiro sub-20 tem volta agendada para 23 de setembro. Será o primeiro torneio nacional de base a começar, com a final prevista para 7 de fevereiro de 2021. Em outubro começam a Copa do Brasil sub-20 e o Brasileiro sub-17. Ambas terminam em dezembro.

Outros torneios, como o Brasileiro de Aspirantes (sub-23), a Copa do Brasil sub-17 e a Copa do Nordeste sub-20, como no futebol profissional, só terminam no ano que vem. Mas como são referentes à atual temporada, os atletas que estourarem a idade limite das categorias em 2020 poderão competir até a conclusão das respectivas competições em 2021, desde que inscritos no Boletim Informativo Diário (BID) da entidade conforme o regulamento de cada evento.

“Não sou a favor do retorno. Foi quase impossível ter treinamento técnico e tático nesta pandemia. Isso é um problema sério. Tem o transporte até os locais de treino e jogos, não dá pra manter isolamento e, na base, é impossível testar todo mundo. Então, a proposta de alteração nas categorias pode dar, ao garoto mais velho, a chance de permanecer mais um ano na base”, analisa a doutora Ana Lúcia Sá Pinto, pediatra e médica do esporte.

“A pandemia pode atrapalhar e muito a sequência desses futuros profissionais. Não há posição concreta da FIFA neste sentido, mas acredito que não haveria prejuízo realinhar. As categorias de base não seguem um mesmo padrão no mundo”, avalia Luiz Marcondes, presidente do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo.

“Eu preciso pensar em qual é a utilidade prática de fazer uma mudança na base brasileira se ela não estiver em sintonia com a Conmebol ou com a FIFA. A mudança teria de vir de fora. O futebol não pode ser mudado pela vontade de uma federação, ou de uma confederação”, entende Higor Bellini, advogado especialista em direito esportivo.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Futebol (Fifa) decidiram, em comum acordo, alterar de 23 para 24 anos o limite da idade para o futebol masculino. A regra vai valer apenas a edição dos Jogos de Tóquio, adiados para 2021 em razão da pandemia. Esse talvez tenha sido o primeiro movimento pela reclassificação.

Do ponto de vista médico, mais precisamente da pediatria esportiva, “existe um entendimento que quanto mais tarde esses jovens se especializarem melhor. Então, uma proposta que adia em um ano o ingresso da criança na base é para se comemorar. É mais interessante um garoto ou garota de dez anos experimentar outros esportes, do que se dedicar exclusivamente ao futebol. Assim, podem desenvolver melhor a parte motora, de equilíbrio e força, além do próprio condicionamento”, informou Ana Lúcia Sá Pinto, pediatra e médica do esporte.

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