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A dívida vai além dos números

Hoje o assunto vai tangenciar o direito e partir para uma abordagem de gestão. Sim, as duas coisas estão amarradas, então vou tomar a liberdade de trazer ao debate um tópico que poucas vezes é abordado no universo esportivo: a sustentabilidade. E não, eu não estou falando apenas das poucas ações de responsabilidade social que os clubes fazem, mas de um conceito mais amplo, que atenda às necessidades sociais de forma complexa e estruturada.

A sociedade vive um momento crítico na transição para uma economia mais sustentável, e os clubes que saírem na frente nesse movimento vão se colocar em uma posição vantajosa no futuro. Por mais que os principais clubes sejam hoje associações sem fins lucrativos, já não há como negar que exercem atividade econômica. E, por isso, precisam estar conectados às práticas e exigências do mercado.

Quando falamos em sustentabilidade ambiental, por exemplo, vemos que muitos clubes se eximem de praticar ações positivas por alegarem que suas atividades não provocam impactos no meio ambiente. Essa afirmação é verdadeira, se pensarmos de uma forma direta, mas de forma indireta, é inegável que existem impactos.

Vamos tomar como exemplo um time de futebol que é patrocinado por uma empresa petroquímica. As atividades do clube provocam impactos ambientais diretos? Tirando as emissões decorrentes do transporte para treinos e partidas, podemos dizer que não. Mas se você olhar a equação de forma mais ampla, você pode incluir também as emissões do deslocamento dos torcedores para que possam consumir o evento, a geração de energia para iluminação do estádio e a água usada para a manutenção do gramado, apenas para citar alguns exemplos. Se formos ainda mais a fundo, temos na pegada ecológica do clube toda a emissão de carbono que a patrocinadora provocou para que fosse gerada a receita que foi destinada ao clube na forma de patrocínio.

Sim, está tudo interligado a partir do momento em que nós decidimos viver em sociedade, as ações de um impactam as ações de vários. Então a responsabilidade nunca é de apenas um. E mesmo que os impactos diretos sejam pequenos, a responsabilidade das entidades de prática esportiva é muito maior. Isso porque algumas das atividades econômicas que são fundamentais para a manutenção de nossa sociedade não conseguem ter impacto zero. E como nós vivemos em um único planeta, algumas atividades precisam ter impacto com saldo positivo.

Essa possibilidade fica com as atividades de baixo impacto, como entretenimento, advocacia e várias outras atividades que envolvem prestação de serviços.

Há também outras dimensões da sustentabilidade que pouco são observadas pela gestão dos clubes, como a governança e a econômico-financeira. A falta de transparência e o nível de endividamento dos clubes demonstram que, mantidas as práticas atuais, as atividades não são sustentáveis.

Mas o que isso tem a ver com o direito?

A resposta é a mais direta e objetiva possível: tudo.

Não podemos pensar no direito apenas após os problemas estarem consolidados. É muito mais importante observar as movimentações sociais e antever os problemas, buscando as soluções antes dos demais. A questão da sustentabilidade já é uma realidade entre as empresas, e clubes que não tiverem práticas sustentáveis vão ter cada vez mais dificuldade para fortalecer seu relacionamento com empresas parceiras e patrocinadoras.

Essa realidade também deve se fortalecer com o projeto de lei que regulamenta o clube empresa no Brasil, especialmente para aqueles clubes que decidirem por um modelo de capital aberto.

Em um ambiente cada vez mais complexo e competitivo, quem não se adiantar às demandas pode deixar de existir antes mesmo dessas demandas virarem exigências legais.

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