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A questão da pontuação aberta no MMA

Por Elthon Costa e Rafael Ramos

No sábado, 18 de junho de 2022, ocorreu, no evento principal do UFC daquela noite, uma batalha de pesos-penas de cinco rounds entre Josh Emmett e Calvin Kattar. A luta encabeçou o UFC on ESPN 37 no Moody Center em Austin, Texas.

Em uma noite repleta de lutas encerradas antes do tempo, com muitos nocautes, o combate programado para o maior tempo viu a buzina final, e finalmente, desencadeou o mais recente debate sobre o julgamento de lutas de MMA depois que Emmett foi anunciado o vencedor por decisão dividida.

Dois dos cinco rounds foram divididos entre os três homens que tomaram sua decisão. Os rounds 1, 3 e 5 foram pontuados de forma idêntica por cada juiz, mas os rounds 2 e 4 resultaram em opiniões diferentes. O resultado visto pelos juízes foi dissonante da maioria da mídia especializada[1].

Os juízes oficiais Chris Lee e Doug Crosby marcaram o segundo round a favor de Kattar, enquanto Sal D’Amato o viu para Emmett. Lee marcou o quarto round para Emmett, enquanto Crosby e D’Amato o deram para Kattar. No final, Emmett ganhou 48-47 totais de Lee e D’Amato, enquanto Crosby entregou um 48-47 para Kattar.

Os resultados de cada round só são conhecidos por cada juiz até que os cartões de pontuação sejam somados no final da luta. Isto deixa os lutadores e seus corners tendo que adivinhar quem é o vencedor de cada round. Lutadores de MMA têm sido bastante falantes sobre a mudança para um sistema de pontuação que daria aos lutadores mais informações em tempo real durante as lutas.

Com o corner de Kattar dizendo que eles achavam que ele estava à frente na pontuação, muitos ficaram chocados ao ver a mão de Emmett levantada ao fim da luta. A controvérsia trouxe novamente à baila a ideia de pontuação aberta para visualização dos lutadores e espectadores da luta tão logo ela seja efetivada pelos juízes.

Essencialmente, a pontuação aberta permitiria aos lutadores pedir ao seu corner para ver como a luta está sendo pontuada na totalidade após cada round. Por exemplo, o lutador A vai para o terceiro e último round contra o lutador B. O lutador A diz a seu corner que gostaria de ver a pontuação da luta. O lutador A veria os cartões de pontuação lidos, por exemplo, 20 a 18 ao final do segundo round, significando que eles estão ganhando de dois rounds a zero indo para o último round. Ao contrário, se o Lutador B também optar por ver a pontuação, eles saberiam que estão dois rounds atrás e precisarão finalizar ou nocautear o oponente para garantir a vitória.

A pontuação aberta não faz atualmente parte das Regras Unificadas do MMA, que é supervisionada pela Association of Boxing Commissions and Combative Sports (ABC). Porém, sob o sistema atual onde os estados e províncias regulam o esporte de combate sem governança nacional ou internacional, qualquer jurisdição é capaz de implementar as regras que deseja.

No momento, apenas uma promoção de MMA está utilizando a pontuação aberta. O evento feminino de MMA Invicta FC foi o pioneiro a colocar este conceito em prática. Em março de 2020, durante seu evento Phoenix Series 3, em colaboração com a Comissão Atlética do Kansas, a primeiro card de luta com pontuação aberta foi definido.

Desde aquele dia, todos os eventos do Invicta FC foram realizados em Kansas City para permitir a opção de marcação aberta. No momento, já há dois estados que adotaram a pontuação aberta, uma vez que a Comissão de Boxe do Estado do Colorado votou a favor dela em outubro de 2021[2].

Os fãs estão debatendo se gostam ou não da ideia de pontuação aberta e se querem vê-la implementada em eventos maiores. Alguns acreditam que isso retira a emoção da audiência durante o anúncio do vencedor pelo juiz, enquanto outros afirmam que há chances do lutador vencedor não se engajar nos rounds finais se não houver maneira de perder a luta a não ser sendo finalizado ou nocauteado, o que o levaria a usar um antijogo.

Um lutador que sabe que está a dois rounds de vantagem nos cartões de pontuação dos juízes pode decidir “descansar” no terceiro e último round de uma luta. Isto já ocorre sob o atual sistema de pontuação quando alguns lutadores sabem que estão claramente à frente nos cartões de pontuação. A prática de “tirar o pé do acelerador” nos rounds finais sem dúvida se tornará mais comum sob um sistema de pontuação aberta.

A pontuação aberta em tempo real poderia também deixar os juízes vulneráveis à influência de promotores, treinadores, fãs e lutadores. Isto já ocorre em esportes como o tênis, onde os juízes recebem muitas ofensas por decisões controversas. Os torcedores do MMA são conhecidos por serem bastante vocais quando discordam dos cartões de pontuação, e isso não mudaria sob pontuação aberta.

Imagine um juiz que marca o primeiro round de uma contenda para o lutador A e recebe uma forte vaia da multidão. É menos provável que esse juiz se atenha aos mesmos critérios que usou para marcar esse round controverso na visão do público para os rounds seguintes, já que eles podem tentar apaziguar aqueles que discordam de sua pontuação.

Os lutadores de MMA têm muito em jogo cada vez que entram pra competir, e muitos argumentam que têm o direito de saber quão bem ou mal estão atuando durante suas lutas. A luta envolve seu sustento, sua saúde, suas vidas, então seria razoável considerar que eles têm o direito a saber se o esforço feito esta sendo recompensado adequadamente durante a luta.

Quanto mais o tema for debatido, maiores serão as chances de ser abordado pelas comissões estaduais. O MMA tem apenas 30 anos de idade e ainda é um esporte jovem. Pode não acontecer logo, mas quanto mais as pessoas falarem sobre isso, mais testes serão feitos usando a pontuação aberta para pelo menos ser tentado em uma escala maior no futuro.

Crédito imagem: Reprodução

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Elthon Costa é advogado. Sócio-Diretor das Relações de Trabalho e Desporto na Todde Advogados. Especialista em Direito Desportivo (CERS). Pós-graduado em Direito Processual Civil (Unileya). Auditor do TJDU/DF. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/DF. Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP Subseção Osasco. Membro da Comissão de Esporte e Lazer da OAB/SP Subseção Osasco. @elthoncosta

REFERÊNCIAS

BRAVO, Guilherme. NAS MÃOS DOS JUÍZES: UMA PERSPESCTIVA DO MMA AO LADO DA GRADE. 1ª. ed. Rio de Janeiro: PVT 1, 2019.

TROWBRIDGE, Glenn. Judging professional MMA. 1ª. ed. EUA: Munched Kitty Publications, 2014.

[1] Josh-Emmett vs Calvin-Kattar. In: MMA Decisions, Site, 18 jun. 2022. Disponível em: http://www.mmadecisions.com/decision/13256/Josh-Emmett-vs-Calvin-Kattar. Acesso em 25 jun. 2022.

[2] RAIMONDI, Marc. Colorado adopts open scoring for boxing and MMA bouts. In: ESPN, Site, 21 out. 2021. Disponível em: https://www.espn.com/mma/story/_/id/32389070/colorado-adopts-open-scoring-boxing-mma-bouts. Acesso em 22 jun. 2022.

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