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Brasileirão 2021 começa sem protocolo experimental de concussão

Prometendo ser uma das edições mais competitivas da história, o Campeonato Brasileiro 2021 começou neste final de semana. Apesar de já estar presente em outras ligas profissionais de futebol pelo mundo, não será agora que a competição contará com o protocolo que permite os clubes fazerem substituições adicionais em casos de choque de cabeça entre jogadores.

Embora não haja uma previsão para a medida ser adotada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já confirmou ao Lei em Campo que está cada vez mais preocupada com o assunto e pretende aplicar o protocolo experimental de concussão no futebol brasileiro em breve.

“Estamos discutindo em qual dos campeonatos organizados pela CBF aplicaremos a substituição extra, mas sem dúvida será utilizada”, disse Jorge Pagura, chefe da comissão médica da entidade brasileira, no final de março.

Para o fisioterapeuta esportivo e estudioso da área de concussão no esporte, Hermano Pinheiro, a medida é um grande avanço para o esporte.

“A adoção de substituições adicionais em suspeita de concussão cerebral é uma evolução importante no protocolo existente no futebol profissional. A Premier League adotou essa iniciativa em fevereiro e no Brasil a CBF deveria seguir o exemplo. Atualmente, os 3 minutos de paralisação são insuficientes para uma avaliação neurológica adequada”, avaliou o especialista.

Já o advogado Vinicius Loureiro, acredita que apesar de importante, é preciso avançar mais no problema.

“Essa medida da FIFA (substituição em caso de concussão) é extremamente válida, mesmo que ainda insuficiente. Não é possível falar que haverá benefício esportivo nesses casos, e a preservação da saúde do atleta deveria ser a principal preocupação”, afirmou o especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Concussão na decisão da Champions League

A gravidade do problema da concussão voltou a chamar a atenção no último sábado (29) durante a final da principal competição da Europa entre Manchester City e Chelsea. O meia Kevin De Bruyne, um dos principais destaques dos Citizens, deixou o campo chorando e direto para o vestiário após se chocar violentamente contra o zagueiro alemão Rudiger.

Ao ser flagrado durante a transmissão, De Bruyne aparentava não estar consciente e apresentava hematomas em sua face. Neste domingo (30), o belga revelou aos seus seguidores que sofreu múltiplas fraturas no rosto por conta do lance e terá que se recuperar de um nariz quebrado e problemas no osso da órbita do olho esquerdo, conhecida popularmente como maça do rosto.

“Oi pessoal acabei de voltar do hospital. Meu diagnóstico é fratura óssea aguda do nariz e fratura orbitária esquerda. Eu me sinto bem agora. Ainda estou decepcionado com ontem, obviamente, mas voltaremos”, escreveu o meia.

Como a Uefa não adotou o protocolo experimental de concussão para a Champions League 2020/21, o técnico Pep Guardiola teve que gastar uma de suas cinco substituições com o belga.

Protocolo experimental de concussão

Em dezembro de 2020, o futebol deu um importante passo para a evolução do seu protocolo. A IFAB, que cuida das regras do esporte, aprovou testes com substituições adicionais para casos de concussão real ou suspeita no futebol.

O protocolo do futebol está muito atrás de outros esportes. Ele não combate o problema da concussão de maneira efetiva. Outros esportes já apresentaram soluções mais comprometidas para o problema. Para isso, é preciso mudar regras. A substituição temporária, para uma melhor avaliação do atleta em choque, foi uma decisão importante. Mas ainda precisa evoluir.

Um médico independente para fazer a avaliação também se torna importante para não tornar a mudança de regra uma estratégia para técnicos.

A International Football Association Board (IFAB) concordou com a implementação de protocolos que serão a base para os testes. Os membros concordaram que, em caso de uma concussão real ou suspeita, jogador em questão deverá ser retirado da partida para proteger a sua saúde. A equipe não poderá sofrer desvantagem numérica e a substituição não será descontada do número que cada uma tem direito por jogo.

Os objetivos da medida são:

– Evitar que um jogador sofra outra concussão durante a partida;

– Enviar uma mensagem de que, em caso de dúvida, o jogador é retirado, mas não há desvantagem numérica ou tática, priorizando o bem-estar do atleta; e

– Reduzir a pressão sobre a equipe médica em realizar uma avaliação rápida e muitas vezes incompleta.

O anúncio feito em dezembro veio depois de um ano de consultas detalhadas com especialistas em concussão médica, médicos de equipes, representantes de jogadores, treinadores, organizadores de competições, arbitragem e especialistas na regra do jogo sobre o tema. As confederações e associações que se interessarem em adotar a regra deverão ser inscrever junto à IFAB e Fifa.

A Premier League foi a primeira grande liga de futebol adotar o protocolo já para a temporada 2020/21.

A concussão passou a ser um tema bastante discutido na Inglaterra depois que familiares de ex-jogadores campeões mundiais em 1966, revelarem o diagnóstico de demência em decorrência da prática do futebol, e o Lei em Campo tem alertado há bastante tempo sobre o problema.

Apesar da inclusão do protocolo experimental, o problema está longe de ser solucionado.  É preciso continuar a discussão sobre como avançar no tema.

“É um passo importante, mas outras mudanças devem ocorrer também na maneira como esse problema é abordado no futebol. Médicos independentes no dia do jogo, uso do VR para análise de casos suspeitos, médicos e fisioterapeutas independentes do time para atestar o retorno do atleta aos jogos, ter dados neurocognitivos e funcionais baseline (aqueles obtidos na pré-temporada) de todos os atletas para determinar quando o retorno aos treinos de contato e aos jogos deve ocorrer. Poucas equipes possuem esses dados hoje. Há ainda um longo caminho pela frente”, finaliza Hermano.

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