“Os problemas só começaram. Com o calendário já apertado, não sei como vão jogar. Vai faltar atleta”, pondera Martinho Neves, advogado especialista em direito esportivo, após o adiamento de duas partidas do Campeonato Brasileiro neste domingo (9/8).
“Existe a possibilidade de nossos jogos acontecerem em um intervalo inferior ao de 66 horas. Vou ter dificuldade para as próximas rodadas, porque os jogadores que testaram positivo vão ter que ser afastados. Estamos sem elenco para ir para o jogo contra o Athletico. Só isso”, declarou Marcelo Almeida, presidente do Goiás que teve dez atletas que testaram positivo para o novo coronavírus.
“Se a tabela for mantida e o time entrar em campo com escalação alternativa, isso impacta na classificação como um todo, já que em pontos corridos todos os jogos contam, inclusive os da equipe adversária. Até porque o saldo de gols é critério de desempate”, pondera Higor Maffei Bellini, advogado especialista em direito esportivo.
O próximo jogo do Goiás acontece na quarta-feira, 12/8. A Confederação Brasileira de Futebol ainda não informou se essa partida também será adiada, e tão pouco a nova data para a realização do confronto com o São Paulo. Por meio de nota oficial, a entidade declarou que a suspensão na primeira rodada “foi guiada pela determinação de preservar a saúde dos jogadores”.
Mas só aconteceu após manifestação do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O presidente Otávio Noronha acatou o pedido do Goiás e deferiu liminar a dez minutos do início da partida. Os jogadores aptos a jogar já estavam em campo.
“Uma situação nova, extremamente inusitada, com erros grotescos. Esperava equívocos menores, não tão catastróficos”, desabafou o presidente do Goiás. O resultado dos exames dos atletas saiu na manhã de domingo, porque tiveram que ser refeitos, em São Paulo, pelo Albert Einstein, por erro na coleta do laboratório credenciado em Goiânia.
Mesmo fora do prazo determinado pela própria diretriz técnica, que limita a entrega dos exames até 24 horas antes da partida, a CBF autorizou a realização de nova coleta no vestiário do Goiás. Na contra prova, 9 atletas testaram positivo, oito deles titulares.
Na Série C, o anúncio da suspensão da partida entre o Treze, de Campina Grande, e o Imperatriz, do Maranhão, aconteceu a pouco mais de uma hora antes do kick off. 12 dos 19 atletas inscritos pela equipe maranhense estavam contaminados.
Como informou o Lei em Campo, não há obrigação de isolamento das delegações antes ou após as partidas na diretriz técnica da CBF. O documento determina o descredenciamento dos contaminados, com retorno possível após liberação da Comissão Médica da entidade, sem prazo estipulado.
O São Paulo se manifestou em suas redes sociais, apenas meia hora após a suspensão do jogo. Disse estar de acordo com a decisão do adiamento e falou sobre a importância de “preservar a saúde e refletir à sociedade a importância dos cuidados”.
Já o Corinthians aproveitou o ocorrido para declarar oficialmente que não realizará os exames do elenco com o Hospital Albert Einstein como prevê o protocolo da CBF. “O departamento médico do clube, ao verificar falhas e inconsistências nos testes realizados por outras equipes, vai seguir com a realização dos exames com o mesmo laboratório de confiança utilizado no Campeonato Paulista”.
Acontece que a padronização do laboratório é uma diretriz da CBF e o descumprimento do protocolo é passível de punição administrativa, que pode ser advertência ou multa, aplicadas independentemente das sanções que venham ser impostas pela Justiça Desportiva.
“É óbvio concluir que o Campeonato Brasileiro retornou antes do prazo necessário. O Brasil é um país continental, o que faz com que o resultado negativo de um jogador antes do embarque se torne positivo no desembarque. As equipes que tenham jogadores contaminados precisam ter os jogos adiados por falta de condições físicas, técnicas e psicológicas em igualdade com os adversários. E todas as despesas inerentes à remarcação devem ser responsabilidade da CBF”, defende Higor Bellini.
O Poder Data realizou pesquisa entre os dias 3 e 5 de agosto com 2.500 pessoas via telefone, em 512 cidades nos 26 estados do país, além do Distrito Federal. 46% dos entrevistados disseram que a volta do Brasileirão foi precipitada, 45% disseram que foi correta e 9% não souberam responder.
“É curioso que as competições tenham sido interrompidas quando a pandemia estava no início e retomadas no momento em que ela se encontra em franca expansão. Talvez estejam ignorando o fato de que expor a vida dos desportistas poderá afetar não apenas a saúde desses indivíduos, mas também a higidez da própria competição”, finaliza Martinho Neves.
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