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Camisa sem estrelas: precisa mesmo?

Nesta semana a CBF divulgou a nova camisa da seleção feminina de futebol de campo. A imprensa brasileira deu imenso destaque ao fato do símbolo da entidade não trazer as estrelas alusivas ao pentacampeonato dos homens.

A pergunta é: precisa mesmo?

Que ainda existe machismo, racismo e homofobia é um fato inquestionável. É um fato também a importância de medidas afirmativas contra o preconceito.

Entretanto, deve-se tomar cuidado para medidas desnecessárias afastarem o foco do que realmente importa.

É necessário escolher lutas em que realmente os resultados tenham efeitos práticos e positivos. A energia e recursos despendidos são limitados e utilizá-los em batalhas prescindíveis é perda de tempo.

O título mais importante do futebol é a Copa do Mundo masculina e o Brasil é o principal vencedor. Os títulos não são dos homens. São da instituição CBF, da nação, do futebol brasileiro.

Naturalmente, como para a CBF e para a patrocinadora não custou nada retirar as estrelas, assim se fez. Ocorreu algum resultado prático na afirmação ou desenvolvimento do futebol feminino?

As competições femininas, salvo exceções, continuam com baixíssimo índice técnico, o investimento em formação e profissionalização continua baixo.

Gastou-se energia e tempo em vão.

Além disso, vê-se uma tremenda incoerência, eis que para receber a mesma premiação que os homens, as conquistas masculinas valem.

O futebol masculino tem valor econômico bem superior ao feminino, o que justifica premiação e remuneração maior. A equiparação de valores equivale, na prática, ao financiamento das mulheres pelos homens. Não se trata de menoscabo das mulheres.

Como instituição única, a CBF precisa sim, aplicar medidas afirmativas para o desenvolvimento do futebol feminino. Entretanto, investir na ponta final, ou seja, quando houver título não traz resultado prático.

Isso porque dificilmente as meninas terão alguma conquista sem que haja investimento na base.

Mas, quando divulgaram a equiparação da premiação, a imprensa, igualmente, divulgou como uma grande conquista. Mais uma vez, efeito prático, zero.

Duas lutas que trazem a falsa sensação de vitória para o futebol feminino, mas, sem qualquer mudança útil.

Infelizmente, as narrativas lacradoras acabam por prejudicar as boas batalhas.

Isso não é exclusivo das mulheres. Nas questões raciais, por exemplo, a Fecomércio-RS criou uma cartilha com vocabulário racista.

O referido vocabulário acaba por atender a demandas lacradoras e populistas sem qualquer fundamento.

A título de exemplo, a cartilha indica vocábulos que devem ser evitados por, supostamente, indicarem atitudes racistas. Dentre elas está o termo “denegrir”.

No entanto, a palavra é oriunda do latim “denigrare” e está na “Ilíada” de Homero no sentido de que quando o céu escurece anuncia tempestade e, portanto, dificuldades e problemas para os navegadores.

A energia, o tempo e os recursos gastos com esta cartilha poderiam ter sido despendidos para ações positivas que trouxesse maior inclusão profissional e social do negro.

No final das contas a grande guerra de narrativas em que parte busca faz questão de ser politicamente correto e a outra de ser politicamente incorreto não acrescenta absolutamente nada.

Nos EUA, maior potência em futebol feminino no mundo, houve imenso investimento na formação das atletas nas escolas. O pleito por maiores rendimentos foi fruto do sucesso.

Assim, o futebol feminino precisa de medidas afirmativas inclusivas e efetivas, e não de narrativas inócuas em que o resultado prático é nulo.

A narrativa lacradora além de não ajudar em nada o crescimento do futebol feminino, ainda impede que a energia, tempo e recursos sejam concentrados no que realmente importa, o que acaba por atrapalhar.

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