Na terceira reportagem sobre as propostas para o esporte nas principais capitais do país, o Lei em Campo analisa o que os candidatos a prefeito do Recife pretendem fazer para fomentar o esporte na capital pernambucana.
Foram analisados os programas de governo de João Campos (PSB), Marília Arraes (PT), Delegada Patrícia (PODEMOS) e Mendonça Filho (DEM). E como já havia acontecido com São Paulo e Salvador, os candidatos pouco descrevem quais serão suas realizações para o esporte na cidade.
“A gente vê propostas que são bastante abstratas. Elas ficam muito no campo de uma parte dos programas que são apresentadas como eixo temático ou de compromisso da gestão, mas a gente não vê uma materialização de como esses compromissos vão ser colocados de forma prática no nosso município”, avalia Carlos Mulatinho, professor de Gestão do Esporte na Universidade de Pernambuco.
O candidato João Campos, traz a palavra esporte somente uma vez em seu programa de governo, para tentar fazer do Recife uma cidade humanizada. “A responsabilidade municipal na área de segurança urbana está relacionada com ações preventivas na promoção da cidadania, cultura de não violência, qualificação de espaços e
equipamentos urbanos mais iluminados, seguros e atrativos. Com investimentos na ampliação das ações, observando o conceito de políticas integradas nos territórios vulneráveis, que são de fundamental importância na redução da violência”, afirma a candidatura.
Outra candidata que praticamente não tocou no tema foi a Delegada Patrícia. Assim como no programa de João Campos, a palavra esporte só aparece no documento uma vez, e relacionada à reforma administrativa que a candidata pretende fazer. Diz ela que a pasta não será afetada pela redução de 19 para 14 secretarias que sua administração, se eleita, fará no Recife.
“Não tem tanto retorno político, em termos de propaganda política. Geralmente, o esporte de alto rendimento que tem mais dinheiro. Mas não acho que seja a política mais moral para você pensar na esfera municipal. Na esfera municipal, o foco tem de ser a democratização, o esporte escolar”, afirma Joanna maranhão, que ocupou o cargo de gerente da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer da Prefeitura do Recife na atual administração. “Esse convencimento só vem com massificação dessas políticas, sabe? Se existe um senso comum que não valoriza o esporte ou não ensina o cidadão de que o Estado tem a obrigação de fornecer essas práticas, as pessoas não vão cobrar”, completa a ex-nadadora, que hoje mora em Leuven, na Bélgica, onde cursa o primeiro semestre do mestrado em Ética e Integridade no Esporte.
Entre outras propostas, Mendonça Filho pretende fazer do esporte um agente de políticas públicas voltadas à promoção de qualidade de vida da população, aproveitando espaços públicos. Para isso, pretende incentivar a formação de projetos comunitários de esportes, apoiar o esporte amador e master, estimular a participação feminina no esporte através de parcerias com as federações esportivas, entre outras propostas.
“O antigo PELC (Programa Esporte e lazer da Cidade), ele é basicamente a democratização, é o acesso ao esporte e ao lazer dentro das comunidades. E tinha essa interseccionalidade de que os agentes que davam as aulas muitas vezes eram pessoas da comunidade. A ideia era fazer que a comunidade assumisse o programa. Quando o [ex-presidente] Michel Temer (MDB-SP) cortou o PELC, a gente repaginou e transformou em Recife Ativo. O Recife Ativo e o Segundo Tempo, que é iniciação esportiva no contraturno escolar, se tornou esporte fundamental. Para mim, esses dois programas têm que ser prioridade para qualquer candidatura a prefeito do Recife. No mínimo, sua manutenção. Faz uma diferença gigantesca. Para implantação, precisa trazer a população para perto. Construir equipamentos esportivos é caro. Se não tem dinheiro para construir, o que pode fazer? Todos os clubes do Recife devem impostos para a prefeitura. O que a gente fez, um contrato de cessão de espaço, em troca de perdão desses impostos. Então pode fazer programas para a utilização desses espaços nesses clubes. O que vai ser custoso é o ônibus para pegar as crianças da escola para levar para qualquer clube. O professor já tem, a estrutura já tem, é uma baita possibilidade de aumentar o esporte educacional”, defende Joanna.
Marília Arraes (PT), traz o esporte em seu programa de governo também de forma genérica, apesar de dizer que vai tentar integrar as atividades esportivas não competitivas ao lazer na cidade. “Daremos uma atenção especial à utilização dos espaços públicos, praças e logradouros para a prática do esporte e do lazer. Estimularemos os momentos de convívio
entre gerações, com jogos e outras práticas coletivas. Atenderemos também demandas de skatistas, ciclistas entre outros, para implantação de estruturas adequadas às
suas práticas esportivas. Essas propostas serão desenvolvidas a partir de uma gestão
democrática e participativa, procurando resgatar e preservar a memória do esporte
como uma das bases da construção da identidade local e popular”, argumenta.
Carlos Mulatinho defende que o esporte no Recife tem que ser democrático e focado nos menos favorecidos em termos de políticas públicas esportivas.
“Um desafio para o próximo prefeito(a) é tentar diminuir a desigualdade ao capital esportivo. Democratizar o acesso, realmente ampliar o acesso da população à prática esportiva. Boa parte dos programas, projetos e das instalações esportivas estão nos bairros com maior Índice de Desenvolvimento Humano. Ou seja, estão nos bairros onde a população que já tem acesso a iniciativa privada, mesmo assim são os mais beneficiados por programas, projetos e instalações. temos um grande desafio pela frente, que é realmente democratizar programas, projetos, para que chegue nos diversos bairros do Recife. A gestão precisa entender que a população que fica na base, vai procurar o esporte como lazer. As pessoas querem praticar esporte, mesmo com envelhecimento, quer praticar esporte. Mas precisa de programas”, finalizou o professor, autor da tese de doutorado que fala sobre as ofertas de políticas esportivas para o Recife.
Os programas de governos dos candidatos podem ser acessados nos links abaixo:
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