Há cerca de um ano, coincidentemente em nossa coluna inaugural aqui no Lei em Campo, repercutimos as expectativas para a temporada 2024 do futebol nacional, tratamos dos problemas estruturais que mereciam enfrentamento e da necessidade de que o produto “Campeonato Brasileiro” fosse melhor tratado. Agora em 2025, mantendo-se a “tradição”, faremos o mesmo. O que esperar da nova temporada? Onde estamos e para onde vamos?
Infelizmente, a sensação para o início da nova jornada é de que pouca coisa mudou e de que teremos de conviver com praticamente os mesmos desafios estruturais, o famoso mais do mesmo.
Assim como no último ano, o calendário persiste como a principal questão que mereceria ser endereçada com a devida atenção. O Brasileirão começará ao final do mês, após mais uma tediosa data FIFA, e perdura a inevitável sensação de tempo perdido. Mais uma vez, cerca de 3 meses foram literalmente perdidos com os campeonatos estaduais Brasil afora. Perdidos com competições que, em grande parte, sequer pagam premiação, obrigam os clubes a pagar para competir em certas ocasiões (vários jogos geram prejuízo), não geram engajamento dos torcedores e literalmente espremem o calendário nos meses mais cruciais do ano, fazendo com que o Campeonato Brasileiro fique quase abandonado pelos clubes nas fases mais agudas das copas. Os clubes que forem avançando nas competições simplesmente não terão um meio de semana livre sequer até o final da temporada.
Neste ano em específico, a questão é ainda mais agravada pela realização do Super Mundial de Clubes da FIFA em junho e julho, que contará com a participação de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras e paralisará as competições nacionais por 30 dias, fazendo que o Campeonato Brasileiro se estenda até 21 de dezembro, o que certamente afetará a pré-temporada de 2026. Além do mais, a Copa Intercontinental de Clubes está prevista para ser disputada em dezembro, com o Brasileirão ainda em curso (e nas rodadas finais!). Caso algum clube brasileiro seja campeão da Taça Libertadores deste ano (o que tem sido a tônica das temporadas anteriores), já que se sabe que a CBF terá mais um problema de difícil solução a enfrentar.
Tudo isto ocorre porque os clubes precisam pagar o pedágio dos estaduais, que consomem quase 20 datas do calendário anual. Já nos manifestamos em diversas oportunidades sobre como os estaduais representam uma verdadeira mazela no calendário do futebol brasileiro e como, ao contrário do discurso oficial, não resolvem o problema dos clubes pequenos e acabam prejudicando os grandes. Trata-se de um sacrifício que não compensa. O futebol se nacionalizou. Que uma vez por todas a CBF entenda que será preciso criar mais divisões para o futebol nacional (séries E, F, G, etc.), que garantam um calendário e arrecadação para as equipes de menor investimento.
Olhando para o horizonte, a perspectiva de mudança é reduzidíssima. A CBF continua a depender das federações estaduais para as eleições da presidência da entidade (e que contam com peso maior na votação. Estimula-se os campeonatos estaduais como forma de angariar apoio e formar um verdadeiro curral eleitoral. Qualquer tentativa de mudança deste quadro acaba por inviabilizar a possibilidade de um outsider assumir a entidade. Prova cabal foi a desistência de Ronaldo Fenômeno de concorrer à Presidência da CBF, que mesmo com seu prestígio sequer conseguiu ser ouvido e ser recebido pelas federações locais. Isto que faz com que, repisamos, caminhemos muito lentamente em direção às mudanças estruturais necessárias, porque a estrutura perversa do sistema acaba não permitindo. Mudam as pessoas e nada muda.
Ao menos, tivemos pequenos avanços em relação às datas FIFA. As competições agora são paralisadas nas datas internacionais reservadas às seleções, mas retornam muitas vezes após 48 horas da última partida, o que é um desrespeito à normativa de FIFA que garante 66 horas de intervalo entre os jogos, obrigando os clubes a ponderar entre colocar seus melhores atletas em campo e aumentar o risco de lesões ou de disputar as partidas muito enfraquecidos. As agremiações não deveriam ser obrigadas a ter de fazer escolhas tão trágicas.
Também seguimos sem discussões mais aprofundadas e o endereçamento da necessária padronização dos gramados e com o mercado nacional desregulamentado. Não há normativas sobre as multipropriedades e regras relacionadas à sustentabilidade financeira dos clubes, uma espécie de fair play financeiro nacional. Não raras são as notícias de clubes que não honram seus compromissos financeiros, normalizam os calotes no mercado e extraem vantagem competitiva em relação aos bons pagadores.
Enfim, caminhamos vagarosamente. Não há sinais de mudanças estruturais a caminho. A nosso ver, a única questão no horizonte a se comemorar é a prometida implementação impedimento semiautomático no Brasileirão 2025, mas ainda a se confirmar. Após anos pregando no deserto, parece que finalmente a comunidade do futebol se atentou para a baixíssima confiabilidade das linhas “manuais” do VAR. Ao contrário do defendido na proposta de Arsène Wenger, entendemos que não é preciso mudar a regra do impedimento. Precisamos apenas de uma ferramenta confiável para medi-lo, o que já está à nossa disposição (há bastante tempo). Basta investimento e vontade de fazer acontecer.
Crédito imagem: CBF/Divulgação
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