O Cruzeiro deve, não nega e vai pagar quando puder. Ou quando não tiver mais recurso possível na Corte Arbitral do Esporte. Por isso, o clube garante que não será rebaixado.
“É muito complicado afirmar que não há chance de rebaixamento do Cruzeiro. Por outro lado, é muito difícil que isso realmente aconteça. A FIFA não interfere em questões de competição, perda de pontos, tão facilmente. Para isso acontecer, precisaria de uma decisão mais radical”, avalia Gustavo Lopes, advogado especialista em direito esportivo.
A torcida dos clubes que brigam para fugir do rebaixamento da Série A do Campeonato Brasileiro, e até os torcedores do time mineiro, vivem a expectativa de uma sanção mais severa por parte da entidade máxima do futebol. Isso porque o Cruzeiro responde a processos por falta de pagamento ou descumprimento de contrato na compra e venda de jogadores.
A FIFA tornou público quatro deles: com o Atletico Morelia-México, por Riascos, Tigres-México, por Rafael Sóbis, Al-Wahda, por Denilson, e Defensor-Uruguai, por Arrascaeta. Há ainda o processo da dívida por William Bigode junto ao Zorya, da Ucrânia (este não foi divulgado pela FIFA).
Entre maio e setembro de 2017, o Cruzeiro foi condenado pelo Comitê Disciplinar e obrigado a pagar os débitos, que variam entre 3,8 e 4,5 milhões de reais, em cada processo, sem considerar juros e multas. Caso não pague as dívidas, pode sofrer sanções que vão desde a impossibilidade de negociação de atletas por dois anos, perda de pontos, até rebaixamento direto.
O clube não contesta as dívidas, mas busca maior prazo para quitação dos valores e cita a crise econômica brasileira, bem como dados da inflação mensal, taxa câmbio e até taxa de desemprego como argumentos. Tais valores levaram “a moeda brasileira a uma enorme diminuição de receita para os clubes de futebol do Brasil”, diz o texto do documento compartilhado pela FIFA.
Breno Tanuri, advogado do Cruzeiro, admitiu se basear na jurisprudência concedida aos clubes argentinos na época do Corralito, crise em que transferências bancárias não eram permitidas no país. “É difícil acatarem esta argumentação, temos ciência disso. A situação da Argentina na época não se encaixa com a do Brasil. Mas é indiscutível que a situação financeira por aqui hoje é bem diferente de quando os contratos foram firmados”, defende Breno.
“Na prática, o Cruzeiro deve pagar. Me parece que, no momento, tentam apenas procrastinar o máximo possível”, considera Marcelo Jucá Barros, Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB/RJ. Gustavo Lopes compartilha da opinião. “O Cruzeiro pretende pagar a dívida quando a FIFA colocar a faca no pescoço”. Foi o que aconteceu em maio deste ano. Sem outra alternativa, o clube mineiro pagou R$ 18,5 milhões ao Atenas, do Uruguai, pela compra de Gonzalo Latorre.
O clube segue com a estratégia de esgotar todas as possibilidades de recursos. Como não há mais como avaliar o mérito, já que a dívida foi reconhecida pela FIFA, a discussão agora está sobre as sanções. “O Cruzeiro não tem dinheiro para pagar. E isso é muito comum. Depois de superada a discussão do mérito, resta recorrer para diminuir a pena”, informa Gustavo Lopes.
“A FIFA está na Suíça, um país democrático. Se o clube tem direito de contestar, que seja feito isso. Não cabe a CBF decidir. Então, vai ser mais complicado (sentenciar o rebaixamento do Cruzeiro). O CAS só deve se pronunciar sobre os recursos em seis meses”, finaliza Breno Tanuri, advogado do Cruzeiro.
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