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De “Redskins” a “Commanders”: mudança de nome, mudança de dono, mudança de ares

Neste domingo, 26 de janeiro de 2025, a franquia de Washington voltará a disputar uma final de conferência da NFL depois de mais de três décadas. Dentro de campo, trata-se do primeiro feito de destaque desde que a equipe mudou de nome, abandonando o antigo epíteto Redskins (peles vermelhas) e passando a se chamar Washington Commander (comandantes).

Considerando os insucessos esportivos e as turbulências extracampo que caracterizaram a trajetória da franquia nos últimos anos, a chance de estar a uma vitória de chegar ao Super Bowl já é histórica mesmo que a temporada não termine em título.

O passado do Commanders ainda reverbera negativamente devido às posturas lamentáveis do ex-proprietário Dan Snyder. Incriminado por promover uma cultura tóxica no ambiente de trabalho da organização, com direito a acusações de assédio sexual e discriminação por parte de ex-funcionárias, Snyder teria dificultado as investigações a respeito do caso e silenciado testemunhas. Essas condutas culminaram com apurações conduzidas pelo Congresso nacional e com uma ação ajuizada pelo então Procurador-Geral de Washington.

Como se não bastasse, a gestão de Snyder também ficou marcada por irregularidades financeiras, como a retenção de receitas de bilheteria que deveriam ser compartilhadas com outras equipes da liga, violando regras da NFL.

Quando a pressão pública e institucional pela venda da franquia se tornou insustentável, Snyder vendeu o Commanders por US$ 6,05 bilhões para um grupo que tinha “Magic” Johnson como um dos investidores e que é liderado pelo bilionário Josh Harris, proprietário do Philadelphia 76ers (NBA) e acionista do Crystal Palace (time da Premier League que tem John Textor, dono da SAF Botafogo, como um dos sócios).

De todo modo, em meio ao imenso volume de atenção (negativa) gerado durante a era Dan Snyder, o episódio que provavelmente mais ficará marcado no imaginário coletivo é a mudança de nome.

Com efeito, trata-se de uma questão sensível nos debates sociais, culturais e históricos nos Estados Unidos, a qual transcende o futebol americano.

Ao longo do tempo, a expressão Redskins tornou-se alvo de críticas por estar associada à discriminação e desrespeito contra os povos indígenas dos Estados Unidos, como mostra uma excelente matéria do The Playoffs assinada por Gabriel Mandel.

O clamor pela mudança ganhou força especialmente após os movimentos por justiça racial que eclodiram no ano de 2020. Uma combinação de protestos populares, campanhas de ativistas e o boicote de grandes patrocinadores forçaram a direção da franquia a abandonar Redskins e a pensar em um verdadeiro rebranding.

Após duas temporadas jogando apenas como Washington Football Team, a equipe foi rebatizada como Commanders, nome escolhido por simbolizar liderança, unidade e a representatividade atraída pelo fato de Washington ser a capital do país.

Curiosamente, a alteração não ocorreu sem resistências. Algumas entidades, como a Native American Guardians Association (NAGA), se manifestaram contrárias ao abandono do nome Redskins, argumentando que ele possuía um significado histórico e contemplava uma herança cultural para os povos nativos.

Fãs de longa data do time também expressaram descontentamento, alegando que o nome fazia parte da tradição e da identidade emocional da franquia. Protestos ocorreram em frente ao estádio, com torcedores vestindo camisetas e segurando cartazes com o antigo logotipo.

Ex-jogadores e figuras públicas ligadas à equipe também defenderam a manutenção do nome Redskins, destacando que ele simbolizava força e resiliência, e não discriminação.

Por fim, campanhas em redes sociais com a hashtag “#SaveTheRedskins” foram direcionadas para que a direção da franquia, ainda sob a batuta de Dan Snyder, reconsiderasse a decisão.

Apesar dessas manifestações, pesquisas apontaram que a maioria da opinião pública apoiou a mudança, vendo nela uma oportunidade de progresso e inclusão.

Durante o período de transição, foi feito um esforço para que a nova marca evocasse, ao máximo, a essência da equipe. Mas somente na atual temporada é que a percepção sobre a franquia de Washington parece ter efetivamente mudado.

Um dos grandes responsáveis por isso é o quarterback Jayden Daniels, novato cuja ascensão superou a empolgação propiciada nos (poucos) bons momentos de Robert Griffin III.

Escolhido como a segunda escolha geral do Draft de 2012 depois de uma excelente carreira universitária, RG3, como ficou conhecido, conquistou muito prestígio com sua combinação de habilidade atlética e carisma. Na temporada de estreia, ele liderou o então Washington Redskins aos playoffs, recebendo da NFL o prêmio de Novato Ofensivo do Ano.

Infelizmente, a carreira de RG3 foi marcada por graves lesões e ele acabou não correspondendo às expectativas, deixando um vazio que a equipe lutou muito tempo para preencher, passando pelos altos e baixos de Kirk Cousins e pela frustrante experiência com o já falecido Dwayne Haskins Jr.

De 2024 em diante, contudo, os torcedores de Washington voltaram a ter motivos para sonhar. Recém-chegado à NFL, Jayden Daniels se destacou com atuações consistentes e decisivas, mostrando uma maturidade excepcional para um atleta de 24 anos.

A mobilidade e visão de jogo de Daniels têm sido comparadas àquelas que RG3 demonstrava em seu auge. Porém, uma maior resiliência física e mental também estão lá, o que passa a sensação de que o Commanders encontrou o seu quarterback para o longo prazo.

A temporada de sucesso tem alimentado o engajamento de figuras populares que torcem para o time, como o ator Matthew McConaughey, o piloto Dale Earnhardt Jr. e o astro da NBA Kevin Durant.

Nascido na região de Washington, Durant esteve presente nos vestiários após a vitória sobre o Detroit Lions, a qual garantiu a presença do Commanders na final da NFC, que será disputada contra uma das equipes que esteve no Brasil nesta temporada da NFL, o Philadelphia Eagles.

A conexão entre equipe e torcedores ilustres reforça o elo com a comunidade local, essencial para a tão necessária transformação do astral em torno da franquia.

Novo nome, novos donos, novos ares.

Aconteça o que acontecer na final de conferência, Washington voltou a ser feliz com o futebol americano.

Crédito imagem: AP Photo/Nick Wass

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