O movimento #LetHerRun surgiu na última semana, com a seguinte bandeira: “Nenhuma mulher precisa provar que é realmente mulher”. Um grupo de ex-atletas, cientistas desportivos e acadêmicos resolveu se manifestar diante da decisão da Corte Suíça sobre o caso Semenya.
O Lei em Campo ouviu especialistas sobre a decisão do Tribunal Federal Suíço (SFT), que manteve o entendimento do CAS para que mulheres com altos níveis de testosterona sejam submetidas a intervenções cirúrgicas ou medicamentosas como pré-condição para competir.
Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800 metros não quer “se drogar” para correr provas oficiais, questiona as regras, e levou o caso até a última instância da justiça desportiva. Mas perdeu. No entanto, ela não está sozinha.
“O caso da Caster merece a nossa atenção, porque determina o destino de dezenas de outras atletas que terão suas carreiras extintas prematuramente apenas por terem nascido fora dos padrões impostos por tecnocratas de uma agência reguladora. Por que a produção de hormônios naturais não invalidou nenhuma carreira masculina até hoje? Alguém já parou para comparar os níveis de testosterona do Usain Bolt com os do Justin Gatlin, por exemplo?”, indaga Jaqueline Silva, primeira mulher brasileira medalhista de ouro em Jogos Olímpicos e uma das embaixadoras do #LetHerRun.
Durante a Olimpíada de Moscou, em 1980, Jackie foi submetida sem saber a um exame de comprovação de sexo. Por isso, o caso Semenya reascende o drama de muitas atletas. O movimento conta com um filme de lançamento sobre os constrangimentos causados às mulheres. (https://letherrun.com.br/pt-br/)
Umas atletas femininas precisam provar que são mulheres, outras são coagidas a não vivenciar a plenitude da sua condição, que é a de gerar outro ser. A gravidez, por muito tempo, não foi um “direito” permitido a corredoras, nadadoras ou jogadoras.
Em relato ao jornal The New York Times no ano passado, a atleta olímpica Alysia Montaño, que ficou conhecida por correr grávida, disse que a vontade de ser mãe resultou numa redução considerável de seu patrocínio, e acrescentou: “A Nike me disse para ter sonhos loucos, até que eu quis um bebê”, declarou Alysia.
Um ano e meio depois, a marca de material esportivo lançou uma linha, chamada , chamada “Nike (M)” com roupas para “apoiar as mulheres durante todos os estágios da gravidez e depois”. Tal atitude foi motivada “não apenas pela péssima reputação do caso (Alysia), mas também para estar alinhado ao que diversas empresas e marcas estão fazendo nos últimos tempos: retratar modelos de diferentes etnias, cores, tamanhos, idades, etc.”, avalia a advogada Juliana Avezum, especialista em marketing esportivo.
“Quanto mais atletas mães nós tivermos ainda no meio da carreira esportiva, melhor. Allyson Felix, Serena Williams, são exemplos de que quanto mais mulheres desafiarem o sistema, mais ele vai mudar”, afirmou Alex Morgan, jogadora dos Estados Unidos, campeã olímpica e mundial, e uma das ativistas pela igualdade de gênero no futebol. Morgan foi mãe em abril deste ano e acaba de ser contratada pelo Tottenham.
“As marcas precisam falar com os novos públicos. Publico que não aceitam mais os conceitos que antes entendiamos como tradicionais. Rosa não é mais cor de menina, nem azul é de menino e por aí vai”, pondera Fernando Fleury, especialista em marketing.
Agora, é preciso que as entidades esportivas entendam e respeitem a diversidade. O #LetHerRun traz uma carta aberta para a World Athletics (Federação Internacional de Atletismo) e seu presidente Sebastian Coe, diante da desigualdade de tratamento, a fim de reverem o banimento das atletas e publicamente pedirem desculpas àquelas mulheres submetidas às avaliações de sexo.
Impedida de competir, Caster Semenya atualmente trabalha na equipe técnica de um time de futebol feminino na África do Sul, seu país de origem, e pretende continuar lutando. “Eu me recuso a permitir que a World Athletics me drogue ou me impeça de ser quem eu sou. Excluir atletas do sexo feminino ou colocar nossa saúde em risco apenas por causa de nossas habilidades naturais coloca o atletismo mundial no lado errado da história”.
Crédito da foto: @letherrun2020
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