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Em tempos de festa, carnaval lembra esporte que conexão com mundo real é fundamental

Não é de hoje que o carnaval leva para as ruas e passarelas do samba críticas sociais oportunas. Neste ano, a cultura africana e o insistente preconceito racial tomaram conta das passarelas. Com originalidade, enredos impactantes, brilho e os pés no chão, nossa cultura popular nunca deixa de abordar o que realmente importa, mesmo em meio à festa. E o esporte, assim como o carnaval, também tem essa vocação.

Sempre reforço que o esporte é um poderoso catalisador de transformações sociais. No Brasil, ele desempenhou um papel fundamental na luta contra o racismo, na redução da discriminação contra os mais pobres e até na abertura democrática durante os anos da ditadura militar. Graças à sua capacidade de unir pessoas e transcender barreiras, o esporte não pode ser dissociado de causas importantes para a sociedade.

O esporte e a vida caminham juntos, nem sempre por terrenos tranquilos. Popular que é, ele foi – e ainda é – utilizado como um vínculo de identidade nacional em diversos lugares do mundo. Sua história é repleta de momentos gloriosos, mas também de episódios tristes e sombrios.

Na Itália dos anos 1930, por exemplo, os jogadores da seleção campeã mundial de 1934 e 1938 eram obrigados a saudar o ditador fascista Benito Mussolini. Já na Alemanha nazista, a derrota da seleção nacional para um time ucraniano foi considerada uma “vergonha” intolerável. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, os jogadores do Dínamo de Kiev foram avisados de que seriam executados se vencessem uma partida contra uma equipe alemã. Eles honraram suas chuteiras, sua dignidade e sua pátria, venceram o jogo e, como prometido, foram fuzilados com a camisa do time. Um monumento na Ucrânia preserva essa história de coragem e resistência.

O poder soviético também deixou suas marcas no esporte. Jogadores como Kubala, Puskas e Kocsis, que atuavam por times do exílio húngaro, foram punidos pela FIFA. Durante a Guerra de Independência da Argélia contra a França, o país montou sua primeira seleção de futebol, formada por argelinos que jogavam profissionalmente no país colonizador. Apenas Marrocos aceitou enfrentar essa equipe, que representava o sentimento de uma nação em luta por sua liberdade. Como consequência, Marrocos foi desfiliado, e os jogadores argelinos nunca mais atuaram profissionalmente.

Na Espanha, o futebol ainda carrega as marcas de uma história conturbada. Durante a ditadura de Francisco Franco (1939-1975), o futebol foi usado como ferramenta política. O poderoso Real Madrid, que dominou o cenário internacional entre 1956 e 1960, era um cartão de visitas do regime. Já o Barcelona tornou-se um símbolo de resistência. O presidente do clube foi assassinado pelas forças franquistas, e o time catalão, assim como o lendário jogador Eusébio, transformou-se em um ícone da luta democrática. Esse legado ainda ressoa hoje, como evidenciado pela suspensão do El Clássico no ano passado devido aos protestos políticos na Catalunha.

Hoje, o esporte está na vanguarda da luta contra todo tipo de preconceito. Combater o racismo, a misoginia e a homofobia tornou-se uma causa central do movimento esportivo. A participação de todos – atletas, torcedores, dirigentes e patrocinadores – é fundamental nessa batalha.

No mundo todo, há inúmeros exemplos de atletas que compreenderam que sua influência vai muito além das quadras, pistas ou campos. Eles são agentes de mudança, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, menos excludente e mais humana. Um dos primeiros passos para enfrentar o preconceito é o posicionamento. E o esporte, assim como o carnaval, tem sido um espaço fértil para exemplos inspiradores.

Nos últimos anos, vimos avanços significativos nessa área. A campanha “Black Lives Matter” ganhou força no esporte, com atletas de diversas modalidades se ajoelhando antes das partidas em protesto contra a violência racial. Códigos privados do esporte têm avançado com tipos que reforçam o compromisso com direitos humanos, o que facilitou o caminho para que a Justiça Desportiva tomasse decisões históricas no combate à discriminação.

O carnaval, com sua capacidade de questionar e celebrar, sempre traz bons exemplos. O esporte, por sua vez, continua a ser um poderoso instrumento de transformação social, mostrando que, quando unidos, é possível vencer não apenas jogos, mas também preconceitos.

Crédito imagem: LigaSP/Divulgação

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