A Federação Americana de Futebol e as duas ligas de futebol no país estudam apresentar na Fifa e na International Football Association Board, órgão que rege as regras do futebol mundial, um pedido para que a NWSL (a liga feminina de futebol) conduza um programa-piloto pelo qual sejam permitidas as substituições temporárias por conta de concussão. O argumento da Fifa para não deixar um time substituir um jogador que bateu a cabeça é a tática: um técnico poderia levar vantagem com a medida.
A tentativa da federação americana corrobora o que a CBF pensa sobre o tema. A entidade brasileira vai apresentar ainda neste ano na IFAB um pedido para que seja permitida uma quarta substituição, ou pelo menos uma substituição temporária, em casos de concussão de atletas, conforme antecipado pelo Lei em Campo no mês passado.
A próxima reunião do IFAB é em dezembro. E todo mês de março a entidade se reúne para mudar as regras do futebol. A expectativa é que na reunião de março de 2020 haja alguma novidade sobre o tema.
“Existe essa discussão. Mas antes de tudo isso tem que ser pensado em um nível maior que a liga, tem que ser possível pela Fifa. Qualquer ação para aumentar a seriedade em casos de concussão tem nosso apoio. Tudo deve ser bem pensado e testado para não ser uma forma de estratégia de algum clube, mas algo que venha trazer mais segurança para as atletas”, pondera o vice-presidente de Comunicação do Orlando City e do Orlando Pride, Diogo Kotscho, em entrevista ao Lei em Campo.
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No dia 17 de agosto deste ano, a jogadora Rose Lavelle, campeã da Copa do Mundo feminina com o Estados Unidos, recebeu uma bolada tão forte no lado do rosto que desabou no gramado. Sete minutos e uma discussão com os médicos do Washington Spirit depois, Lavelle retornou ao campo na partida contra o Portland Thorns.
Mas as coisas não estavam bem. Após a partida, Lavelle apresentou tonturas e dores de cabeça, o que a fez ir para o protocolo de concussão e só foi liberada para voltar a jogar um mês depois da lesão. Assim, Lavelle ficou de fora de três jogos do Spirit na NWSL e dois jogos da seleção americana.
Jogadora do Orlando Pride, onde atua ao lado de Marta, a atacante Alex Morgan é outra que entrou no protocolo de concussão nesta temporada. Mas ao contrário de Lavelle, Morgan não tentou voltar para o campo. Para especialistas essa decisão não deve passar pela vontade dos atletas.
“O protocolo aqui é severo. Se tem um caso, a jogadora sai na hora e só volta a treinar dias depois de não ter mais sintomas. A jogadora é testada na beira do gramado e a decisão é do médico. É uma decisão médica, normalmente não volta para o campo não”, assegura Kotscho.
No segundo turno do Campeonato Brasileiro deste ano, por determinação da CBF, os médicos dos clubes passaram a responder a um questionário da CBF, relatando tudo que aconteceu com os atletas, independentemente de ter havido um choque mais grave. Assim, a CBF vai conseguir monitorar os casos de traumas na cabeça.
A FifPro, sindicato dos atletas profissionais, já pede desde o ano passado a substituição temporária. Além disso, o sindicato pede um médico independente nas partidas para ajudar a decidir se um jogador com suspeita de concussão deveria continuar em campo, em vez de deixar a decisão para os médicos dos times. A entidade mostra preocupação porque, embora tais procedimentos sejam empregados com sucesso em diversos esportes, ainda não foram adotados pelo futebol profissional.
“O que a Fifa tem de fazer é ter um protocolo de concussão preocupado com os jogadores. O protocolo da NFL evoluiu com o tempo, e o que a gente tem hoje na Fifa não é um protocolo, é uma recomendação, que os médicos podem seguir ou não. O médico decide se o atleta pode jogar ou não, e o juiz não pode interferir. A Fifa precisa estabelecer um protocolo pelo qual o atleta precisa ser avaliado, com critérios objetivos médicos para saber se ele tem concussão e para proteger a integridade física do atleta”, resume o advogado especialista em direito esportivo Américo Espallargas.
Hoje o que a Fifa tem é um protocolo que permite que o jogador seja avaliado por três minutos dentro de campo. Passado esse tempo, ele tem de deixar o gramado para ser atendido – mas sem nenhum exame complexo para identificar a gravidade do problema.
E a maior preocupação dos órgãos que pressionam a Fifa para tomar atitudes mais severas é o que eles chamam de “síndrome do segundo impacto”.
É consenso que não se deve voltar aos esportes no mesmo dia do ferimento, ainda que a pessoa não apresente sintomas físicos. Retomar os esportes muito cedo aumenta o risco de uma segunda concussão, o que pode ser fatal. A esperança agora é que os Estados Unidos, com a experiência de já ter lidado com o mesmo problema na NFL, ajude a mudar as regras para proteger os atletas em campo.
“Acho que esse debate sempre existiu aqui nos Estados Unidos, não só na NWSL como na MLS. Acho que poucos países do mundo levam tão a sério isso no futebol, provavelmente pelos estudos já feitos sobre os efeitos em outros esportes onde o problema é muito maior, como no Futebol Americano”, finalizou Kotscho.
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