Pra marcar as 50 semanas que encerram nosso ano de encontros em forma de textos com muito, algum ou nenhum sentido, me pediram uma retrospectiva. Fale sobre 2019. Tarefa árdua. 2019 teve de tudo. Para dar o tom de que a jornada poderia não ser nada fácil, entramos ano adentro sofrendo com o susto e a perda dos meninos do Ninho. Não teria nada como a dor dos meninos do Ninho. A perda do futebol sonhado por Athila, Arthur, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor, além do trauma suportado por tantos outros, acendeu uma luz. Um farol. Um SOS em letras garrafais para o futebol brasileiro. Precisaríamos repensar o sistema. Fora isso – claro que fora isso – foi um ano animal. Teve a Canarinho se redimindo, urubu voando no Rio da Prata, cachorro driblando gandula no estádio Rei Pelé (Google it). Teve o mico do VAR. É verdade, foi difícil o começo do nosso futebol na era VAR. Até hoje me perguntam: como lidar com 8 minutos de VAR? De início, por aqui, rolava o Estadual. Isso, tem todo ano: ninguém quer perder o Estadual. Alguém teve que perder o Estadual. De início, por lá, a briga para desfilar entre o seleto rol dos campeões da Europa. A disputa acirrada pelo posto de destaque da competição ficaria entre os improváveis placares das semifinais, e a invasão inglesa na final em Madri. Que parecia Anfield, quando coroava o time que nunca andou só. Sem respiro, por aqui, seguimos com a Copa América. Ganhávamos da Argentina no mata-mata. Muito bom ganhar da Argentina no mata-mata. Ao mesmo tempo (porque, em nome de tudo, tinha que ser ao mesmo tempo?), acontecia, por lá, a França das mulheres. Mais pra lá, o Irã das mulheres. Em todo canto, as arquibancadas e os gramados, das mulheres. Porque ainda duvidavam das mulheres? Recordes de público, de transmissão, de patrocínio. Mal piscamos, e, por aqui, vinha a Copa do Mundo Sub17. A vez dos meninos. Virada, dos meninos! Que orgulho, dos meninos! E logo depois, por lá, longe pela primeira vez, a Libertadores da América, dos não tão meninos. Virada, dos não tão meninos! Taça na mão, vôo de volta, festa no Ninho. A lembrança dos meninos do Ninho. “E os meninos do Ninho?”. No campeonato nacional, por aqui, teve quem já ganhou. Teve quem já caiu. Tem quem ainda vai cair. Tem quem subiu. Por lá, teve o banimento, pela FIFA, de quem já mandou. Teve a coroação, pela FIFA, de quem deu show. O Brasil da Silvia e do Nickollas. A premiação de Megan Rapinoe. O discurso de Megan Rapinoe. Sobre respeito, sobre desrespeito, e sobre o que nos diz respeito. Tudo nos diz respeito. Ainda por lá, a temporada de Messi, e o gol do Dybala. Um pontapé impossível que fez a bola sair de um cantinho pra dormir no outro. Por aqui, as predições pro ano que está por vir. Balanço financeiro, ranking de receitas, ranking de dívidas. Teve W.O. por dívidas. Empresa que vira Clube. Clube que vira Empresa. Empresários. O futebol dos números, contrastando com o futebol da gente. Nos contratos, o abismo entre quem rabisca o papel e quem rabisca a grama. No departamento médico, o abismo entre quem lesiona e quem se cura. E a dor de quem vive de remendo. Na cancha, o torcedor que bate, e o torcedor que aplaude. O problema do torcedor que bate e prejudica o que aplaude. Teve de tudo. A solidão vazia do estádio interditado. A alma cheia do estádio lotado. E o que teve de Estádio lotado. Agora, é partir pra próxima. Fechamos a conta, passamos a régua. Ano que vem tem mais.