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Feitiço: artilheiro negro que peitou presidente e morria de medo de caneta

Era Luis Macedo Matoso,  ficou sendo Feitiço.

No Dia da Consciência Negra lembrei dele, e da história que a colunista do Lei em Campo Danielle Maiolini já trouxe por aqui.

Foi atacante do Santos, São Bento, Corinthians e do Palmeiras, no início do Século XX. Nasceu em 1901, mas só aos 16 anos, depois de trocar a bocha pelo futebol começou a escrever uma biografia das mais interessantes. Nos anos 20, sua fama corria de boca em boca. O chute de bico e as cabeçadas fulminantes o aproximaram do gol. A facilidade na arte de balançar as redes lhe deu o epíteto de artilheiro, o primeiro assim chamado no Brasil.

Artilheiro e corajoso. Em novembro de 1927, foi disputado o Campeonato Brasileiro de Seleções. A final foi entre São Paulo e Rio de Janeiro. Jogo um a um quando o árbitro marca pênalti para os cariocas. Começou a confusão. O presidente da república, Washington Luis, que assistia das tribunas, ordenou que a partida fosse reiniciada. Um mensageiro foi até o campo e passou a ordem para os jogadores. Feitiço, irritado, mandou outra mensagem: “Diga ao presidente que ele manda no país. Na seleção paulista mandamos nós”.

Ele foi suspenso pela Associação Paulista de Esportes Amadores.

Feitiço era assim, corajoso no jogo. Mas assustado quando precisava usar as mãos.

Ler e escrever era coisa de branco, e de gente rica. Mas como jogar sem assinar a maldita súmula? Um momento que assustava aquele atacante aguerrido, e a vários colegas de bola. Abrir o futebol para todos “dava nisso”, era o que se ouvia à época. Mas como o que interessa pros donos do jogo era mesmo o que Feitiço e cia faziam com os pés, que se encontrasse alguém que os ensinasse a apenas escrever o nome.

Para tentar diminuir o trauma de cada jogo, aula para aprender a desenhar o nome. Contam também que, pra ajudar, às vezes, era preciso alguém escrever no papel o nome bem fraquinho, pra que pudesse copiar por cima. No treino, tudo bem. O problema era repetir com a caneta, sem a cola, e com todo mundo como testemunha. Aquilo que era pressão.

E quem via aquele jogador forte, mulato, de cabeça baixa à beira do campo com uma caneta na mão, jamais reconhecia naquela figura frágil e desprovida das vantagens do mundo, o atacante que criou a marca do artilheiro no Brasil, e enfrentou sem medo o presidente do Brasil. Como jogador, como homem, e como negro.

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