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Fifa deveria usar Mundial de Clubes na China para promover direitos humanos

Minutos após anunciar que o Mundial de Clubes de 2021 será disputado na China e a Fifa já era bombardeada de críticas por todos os lados, em especial dos defensores dos direitos humanos. Eles criticam a escolha do país oriental pois consideram que a China viola os direitos humanos, rejeita críticas e vem perseguindo e prendendo ativistas. A expectativa fica para saber se teremos times brasileiros na competição. Embora a Conmebol ainda não tenha definido os representantes da América do Sul, há a possibilidade de que o campeão da Libertadores de 2019 tenha presença garantida no Mundial de Clubes de 2021. O Flamengo, finalista da atual edição, se candidata a esta vaga.

“A escolha da China oferece a Pequim outra oportunidade de ‘lavar com o esporte’ sua manchada reputação internacional. É provável que as autoridades chinesas vejam a competição como uma oportunidade de projetar uma imagem de abertura e tolerância, enquanto a realidade muito mais sombria no país é de censura, prisões de dissidentes e as chocantes detenções em massa em Xinjiang. A China tem um histórico atroz de direitos humanos. Qualquer clube envolvido no Mundial deve estar pronto a falar sobre questões de direitos humanos na China”, disparou o chefe da Anistia Internacional no Reino Unido, Allan Hogarth.

Para a advogada especialista em direito político e econômico Patrícia Brasil, o futebol deve servir como instrumento de mudança social.

“A Fifa pode usar o futebol como um mecanismo de tocar as pessoas nos países que são xenófobos, racistas, machistas. E, por uma pressão externa e mercadológica, a pelo menos obrigar que em alguns minutos, que em alguns dias, esses países deixem de lado essas coisas. E isso a gente viu que já aconteceu no Irã, em que as mulheres pela primeira vez puderam assistir uma partida de futebol. Então eu acho que é o futebol como um Cavalo de Tróia nessa perspectiva”, declarou a advogada.

O Mundial de 2021 será o primeiro com a nova fórmula, com 24 times, e será disputado de quatro em quatro anos, no lugar que antes era ocupado pela Copa das Confederações no calendário da Fifa.

“O problema é que fica bonito defender os direitos humanos e, muitas vezes, instituições em crise ‘compram’ a pauta para ter boa exposição. Contudo, diferentemente de um discurso de defesa dos direitos humanos, que é fácil fazer, difícil é direcionar a sua ação a partir dos direitos humanos. E aí muitas vezes às instituições flexibilizam valores fundamentais em troca de bons acordos econômicos e políticos. A China é um grande problema para as políticas dos direitos humanos porque é a maior potência mundial e oficialmente não defendem os direitos humanos positivados pelo ocidente. O problema é que ninguém quer excluir a China de qualquer jogo econômico e não é possível excluí-la de qualquer jogo político então o silêncio se torna o modus operandi”, alertou a advogada Mônica Sapucaia Machado, especialista em compliance de gênero e coordenadora e autora das obras Women’s Rights International.

Por ser uma entidade privada, a Fifa não pode sofrer uma intervenção que a obrigue a ter os direitos humanos entre os seus valores. Quem deve decidir se vale a pena ter uma entidade que representa o esporte mais popular do mundo sem esses valores são os times e, principalmente os torcedores, que devem exigir de qualquer organização compromisso com os direitos humanos. Mas o fator econômico fala mais alto. O grupo Dalian Wanda é o maior desenvolvedor de imóveis comerciais do país e o maior operador de cinema do mundo. Logo após o “Fifagate”, quando dirigentes da entidade foram presos, colocando a Fifa em risco, o conglomerado chinês apareceu e se tornou um dos principais patrocinadores da Fifa.

A escolha da Fifa em dar para a China a organização do primeiro Mundial de Clubes no novo formato apenas segue um padrão recente da entidade. Em 2018, a Copa do Mundo foi realizada na Rússia, e a próxima Copa será disputada no Catar, dois países com histórico de problemas em relação aos direitos humanos.

A nova política de direitos humanos da Fifa engloba todos os eventos e foi usada para determinar a escolha da sede da Copa do Mundo de 2026, escolhendo Estados Unidos e México em detrimento do Marrocos.

“Essa questão de violação de direitos humanos é bastante discutível, assim como a ideia e que a China não é um país democrático. Grande parte das críticas que vemos ocorre de uma tentativa de prevalência cultural de países ocidentais, que em geral foram constituídos sobre valores diferentes daqueles que prevalecem na China. Mesmo assim, se a intenção é combater preconceitos, existe algo mais efetivo do que levar a competição para um país culturalmente diferente e constantemente questionado, e dar espaço para que os outros conheçam e quebrem alguns preconceitos sobre tal cultura?”, questiona o especialista em direito esportivo Vinícius Loureiro.

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