A discussão sobre os gramados no futebol brasileiro evidencia uma cultura que impede avanços estruturais essenciais para o esporte. Enquanto os clubes enxergarem seus rivais como inimigos fora de campo, será impossível construir uma liga forte que impulsione temas fundamentais, como licenciamento e fair play financeiro. Sem um pensamento coletivo, o futebol nacional continuará preso a debates superficiais e a soluções paliativas.
Fair Play Financeiro: O Que é e Por Que Importa
O Fair Play Financeiro (FPF) no futebol é um conjunto de regras criadas para promover a sustentabilidade financeira dos clubes, evitando gastos excessivos, dívidas insustentáveis e investimentos descontrolados. Seu objetivo é garantir estabilidade econômica, promover uma competição mais equilibrada, aumentar a transparência na gestão financeira e fomentar a sustentabilidade a longo prazo do futebol.
Na UEFA, o fair play financeiro impede que os clubes gastem mais do que arrecadam, impondo regras de equilíbrio financeiro (break-even), limitação de prejuízos acumulados em três anos e controle de salários e transferências. As penalidades incluem multas, restrições em competições europeias e até exclusão de torneios.
Na Premier League, o modelo Profitability and Sustainability Rules (PSR) também protege a saúde financeira dos clubes, limitando perdas financeiras em três anos e aplicando sanções como perda de pontos, multas ou rebaixamento.
Na MLS, as regras vão ainda mais longe, incluindo um teto salarial (Salary Cap), que impede que clubes gastem quantias desproporcionais e desequilibrem a competição.
A Discussão Sobre Gramado Sintético e Fair Play Financeiro
No Brasil, discute-se se o uso de gramado artificial deve ser permitido, mas de forma rasa, sem uma pesquisa sólida que demonstre vantagens e desvantagens em relação ao gramado natural. O problema maior é que essa discussão ignora questões estruturais mais amplas: é preciso estabelecer regras coletivas que melhorem o futebol tanto como jogo quanto como produto.
A questão central é: quem deveria liderar essas mudanças? A CBF ou uma liga de clubes?
A CBF poderia liderar esse processo, mas a solução mais eficiente me parece ser através de uma liga organizada pelos próprios clubes, focada no desenvolvimento do jogo e do mercado. Essa liga teria a responsabilidade de estabelecer regras de equilíbrio financeiro (fair play) e um modelo de licenciamento para garantir padrões mínimos de gestão e infraestrutura. Isso criaria um futebol mais profissional, sustentável e justo.
Mas os clubes estão dispostos a abrir mão da autonomia que têm hoje?
A realidade indica que não. Fair play e licenciamento imporiam obrigações que muitos clubes preferem evitar, pois exigiriam uma gestão mais responsável e estruturada. E isso vai muito além da escolha do gramado.
Licenciamento de Clubes x Fair Play Financeiro
O licenciamento de clubes e o fair play financeiro são conceitos complementares, mas distintos. Enquanto o fair play financeiro se concentra na sustentabilidade econômica, limitando gastos excessivos e dívidas, o licenciamento tem uma abordagem mais ampla, exigindo que os clubes cumpram padrões em diversas áreas:
Infraestrutura: Estádios adequados e seguros.
Gestão: Administração profissional e transparente.
Formação de Jovens: Desenvolvimento de atletas.
Sustentabilidade Social e Ambiental: Responsabilidade social e boas práticas ambientais.
Conformidade Jurídica: Regularidade em contratos e regulamentos.
Saúde Financeira: Transparência econômica.
O licenciamento funciona como um selo de qualidade, exigindo que os clubes atendam a esses critérios antes de disputarem competições como o Brasileirão ou a Copa do Brasil.
Portanto,
O fair play financeiro e o sistema de licenciamento são ferramentas essenciais para evitar dívidas insustentáveis, promover competições justas e garantir o crescimento saudável do futebol. Enquanto o fair play regula a parte financeira, o licenciamento amplia essa visão para outras áreas críticas. No Brasil, a implementação de um sistema robusto exigiria uma mudança cultural e estrutural, mas é um passo necessário para o futuro do futebol nacional.
Se houvesse uma governança bem definida e regras claras, discussões como a do gramado seriam pautadas por critérios técnicos e não por interesses isolados.
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo
Seja especialista estudando com renomados profissionais, experientes e atuantes na indústria do esporte, e que representam diversos players que compõem o setor: Pós-graduação Lei em Campo/Verbo em Direito Desportivo – Inscreva-se!