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Lance que retirou Cássio de partida reforça a necessidade do futebol tratar a concussão mais seriamente

Uma das principais preocupações crescentes no futebol, a concussão, fez mais uma vítima no futebol. Na noite desta segunda-feira (21), durante a vitória do Corinthians por 2 a 1 contra o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro, o goleiro Cássio se chocou fortemente na região da cabeça com o atacante Vinícius. O goleiro ficou desorientado e recebeu pronto atendimento da equipe médica presente na partida. Após rápida avaliação, o jogador teve que deixar a Neo Química Arena de ambulância e imobilizado por um colar cervical. O lance reforça a necessidade das entidades e federações que comandam o esporte de tratar com mais importância o assunto.

“O futebol precisa aprender com a experiência de outros esportes. No rugby, por exemplo, se houver suspeita de concussão cerebral, o jogador é retirado do campo para uma avaliação que dura 10 minutos. Se o atleta apresentar alteração em qualquer um dos testes cujos resultados são comparados com dados obtidos na pré-temporada (dados de base) ele será removido em definitivo do jogo.  E as equipes futebol precisarão ter esses dados de base”, avalia o Dr Hermano Pinheiro, fisioterapeuta esportivo PhD.

“O protocolo do futebol está muito atrás de outros esportes. Ele não combate o problema da concussão de maneira efetiva. Outros esportes já apresentaram soluções mais comprometidas para o problema”, afirma Andrei Kampff, jornalista, advogado especializado em Direito Desportivo e colunista do Lei em Campo. Ele reforça que “é preciso avançar na discussão, e a necessidade de médico independente é algo fundamental nesse processo”.

Aos 32 minutos do segundo tempo, Cássio tentou cortar um cruzamento e levou a pior no lance. O goleiro se chocou fortemente com o atacante esmeraldino e ficou caído sem se movimentar por alguns instantes. Apesar do susto, o arqueiro alvinegro foi levado consciente de ambulância para o hospital São Luiz, no bairro do Morumbi, onde fará exames e passará por uma nova avaliação.

A concussão cerebral é a perda de consciência num intervalo curto de tempo, e acontece logo após um traumatismo craniano. Recentemente, diversos casos dessa natureza foram presenciados no futebol e isso vem gerando grande preocupação em diferentes setores dentro do esporte.

Em função do risco de repetidas microlesões provocarem uma lesão cerebral grave, vários esportes criaram protocolos obrigatórios para concussão visando proteger a saúde do atleta.

Na quarta-feira da semana passada, 16 de dezembro, a Fifa em conjunto com a International Football Association Board (IFAB), tomaram uma decisão importante. Resolveu adotar, em período de testes, uma medida para tentar amenizar os problemas causados pelos choques de cabeça. Segundo a diretriz que entrará em vigor a partir de 2021, todo jogador com suspeita de concussão deverá sair de campo. Para não ser prejudicado numericamente, a equipe poderá substituir o atleta, independentemente do número de trocas já realizadas.

De acordo com a entidade, a medida busca prevenir a saúde do jogador, evitando que o mesmo retorne e sofra mais de uma concussão em um único jogo. Além disso, reduzirá a pressão sobre a equipe médica em realizar uma avaliação rápida e muitas vezes incompleta.

“Substituição especial em casos de suspeita de concussão é um passo importante. Mas somente isso não é suficiente. Tanto no Rugby profissional quanto na NFL há médicos independentes que podem solicitar a avaliação do atleta. O uso do VR na análise de casos suspeitos também deve ser considerado. E as ações para garantir a integridade do atleta não se restringem ao dia do jogo. Na NFL e na NBA o processo de retorno do atleta também precisa de aval de um médico independente além daquele dado pelo médico da equipe. Sabe-se que esse processo não deve ser baseado em tempo, mas sim em critérios clínicos e funcionais”, completa Hermano.

Atualmente, a Fifa tem um protocolo que permite que o jogador seja avaliado por três minutos dentro de campo. Passado esse tempo, ele tem de deixar o gramado para ser atendido, mas sem nenhum exame complexo para identificar a gravidade do problema.

Totalmente diferente do que acontece no rugby. Durante um jogo, o atleta que sofre qualquer pancada na cabeça é analisado por um médico da partida, e não dos clubes ou seleções. O juiz pode recorrer ao sistema de vídeo para conferir o lance e exigir que o atleta saia de campo se realmente foi atingido na cabeça. Os testes são feitos num período de 10 minutos, para só então sair a decisão se ele pode voltar ou não para o jogo.

As confederações e associações que se interessarem em adotar a regra deverão ser inscrever junto à IFAB e Fifa. Os organizadores das competições deverão garantir que os protocolos oficiais sejam seguidos em sua totalidade e que um feedback seja enviado. A primeira grande liga de futebol que se interessou foi a Premier League.

Nos últimos meses, o tema teve grande repercussão na Inglaterra depois que a família de um dos maiores jogadores da história do país revelou que Sir Bobby Charlton, 83, está com demência. Antes disso, os também campeões mundiais de 1966, Nobby Stiles e Jack Charlton, morreram vítima de demência.

Crédito imagem: Bruno Cassucci

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