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“Minha casa, aí eu me sinto feliz”

Disse quando soubera que eu estava entre as vigas de concreto. No vazio ensurdecedor, o gigante cinza descansava pra próxima batalha. Dava pra ver a importância do jogo pelo cuidado com que passavam as lâminas que lhe aparavam o tapete. As máquinas, manejadas à mão, percorriam o espaço sagrado centímetro por centímetro, indo e voltando, entre as laterais recém branqueadas a pó. Não levaria muito tempo até que ligassem aquela chuvinha fininha que cai de baixo pra cima, como um chafariz, pra molhar a grama exatamente na quantidade necessária. Já estão lotadas as ruas que levam as pessoas a ele (e a outros lugares menos importantes). Hora do show. Não o do lado de dentro, ainda. A festa começa pelas barraquinhas. Todas enfileiradas. Uma depois da outra, como se fingissem não vender praticamente a mesma coisa. Camisas e bandeiras. Bebidas e alimentos. Camisas, bandeiras, bebidas e alimentos. E aquele cavalinho do Fantástico. Tudo igual, só que diferente. A escolha vai do cliente. Se portão adentro todos são fiéis ao mesmo botequim, não se pode dizer o mesmo das calçadas. A hora de entrar, também vai do gosto do freguês. Com ou sem emoção. A decisão a ser tomada entre a autonomia dos próprios passos ou o afogamento na correnteza do mar de gente. Aí, vai de cada um. Tem quem prefira reconhecer o terreno já conhecido com tranquilidade. Como quem analisa o próprio perímetro antes da invasão. Os mais confiantes entram no momento exato de ouvir o apito do juiz. Ou depois. Posicionados, os olhos vidrados. Na uniformidade entre cor e símbolos, a distinção entre o que grita os próprios pulmões e o que sofre em silêncio. A oração coletiva entoada pelos cânticos de forja quase sempre desconhecida e que, ainda assim, parecem ter nascido de dentro da pele. No resquício da razão, a noção dos minutos distorcida pelo bom resultado. O insuportável caminhar do relógio pra quem está cada vez mais perto do título. A contradição de querer acelerar o tempo, do momento que se quer viver pra sempre.

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