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Morte de Morro García reforça importância dos clubes em trabalhar lado psicológico dos atletas

O mundo do futebol amanheceu em luto no último sábado (6). A morte do atacante uruguaio Santiago Damián García Correa, também conhecido como Morro García, gerou muita comoção de torcedores e amantes do esporte. O jogador do Godoy Cruz (ARG), de 30 anos, foi encontrado morto em sua casa após cometer suicídio com uma arma de fogo. O caso ressalta a importância e necessidade dos clubes em trabalhar o lado mental de seus atletas.

“As doenças do cérebro são associadas ao estilo de vida que o ser humano leva. A depressão é frequente à proporção em que a sociedade moderna cresce em complexidade. É consequência do ritmo acelerado da vida, da alienação das pessoas, do colapso da estrutura familiar, da solidão e do fracasso e da constante cobrança por metas satisfatórias, sendo que essas cobranças são generalizadas e padronizadas, sem levar em consideração a aptidão de cada indivíduo e as suas limitações. É fundamental que os clubes tenham psicólogos para acompanhamento integral de seus atletas, desde a base até os atletas profissionais”, ressalta Mauricio Corrêa da Veiga, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

A alta exposição à qual os jogadores de futebol têm sido submetidos está trazendo um efeito colateral preocupante para os atletas. A pressão pelo máximo desempenho, as frustações, a cobrança da torcida. Tudo isso somado pode desencadear um quadro clínico complexo e levar o jogador a ter a sua saúde mental afetada.

Com o jogador uruguaio não foi diferente. Morro García estava afastado do clube argentino e passava por um tratamento psiquiátrico. Somado a isso, o maior artilheiro do time no Campeonato Argentino contraiu a Covid-19 no dia 22 de janeiro, passando por um período de isolamento social, se afastando de amigos e familiares próximos.

A pressão em cima dos jogadores está cada vez maior. Diversos casos no futebol brasileiro demonstram a fragilidade mental dos atletas. Vale destacar que o apoio psicológico não está previsto na Lei Pelé, mas que apesar disso, esses profissionais estão cada vez mais presentes nesse esporte.

Segundo a advogada Danielle Maiolini, os clubes precisam estar atentos ao aspecto psicológico dos jogadores. “É responsabilidade de quem usufrui dessa prestação de serviço garantir que exista um ambiente saudável em nível psicológico. Quando a Lei Pelé dispõe, de forma genérica, sobre garantir as boas condições, abarca também a necessidade de apoio psicológico para o atleta profissional, não só os atletas das categorias de base”, disse a advogada em entrevista ao Lei em Campo no ano passado.

“O clube deve ter consciência do benefício que estes profissionais trarão para a própria entidade. Jogadores com doenças da mente prejudicam o clube e muitas delas podem ser evitadas com diagnóstico precoce. Esta atitude deve ser por liberalidade da equipe, tendo em vista que a Lei Pelé não obriga que a mesma tenha estes profissionais em seus quadros”, reforçou Mauricio Corrêa da Veiga.

Para o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac, o acompanhamento psicológico para os jogadores é fundamental.

“No triângulo da preparação esportiva, de um lado temos a parte física, do outro a parte técnica, e a base dessa pirâmide é a parte mental e emocional. Tanto nas categorias de base como no profissional, é preciso fortalecer os atletas para encarar as pressões da carreira profissional, a expectativa da mídia, da torcida, para poder dar conta de uma rotina bastante cansativa de jogos, treinos e viagens”, esclarece o psicólogo, que é presidente da Associação Paulista de Psicologia no Esporte.

Em 2011, Morro García chegou ao Athletico como a contratação mais cara da história do clube paranaense. No entanto, sua passagem foi curta, deixando o Furacão com apenas 16 jogos e dois gols marcados. Depois disso, o uruguaio seguiu para o Kasimpasa, da Turquia, pois precisava cumprir dois anos de suspensão no futebol de seu país por causa do uso de cocaína.

Pessoas próximas ao atacante acreditavam que ele passava por um momento de profunda depressão. Em um dos seus últimos posts nas redes sociais, no dia 21 de janeiro, o jogador deixou uma mensagem de consciência tranquila em relação a sua vida.

“Desde o primeiro dia até o último agradecido e com tranquilidade que posso olhar na cara de TODOS”.

Após a confirmação de sua morte, clubes prestaram condolências ao jogador, enquanto torcedores foram para frente do prédio onde o uruguaio morava, em Mendoza, para prestar uma última homenagem.

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