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Mudanças na arbitragem paulista. Será?

A semana começou com a notícia da saída do Diretor de Arbitragem da Federação Paulista, Sr. Dionísio Roberto Domingos, que recebeu notoriedade após a final do Campeonato Paulista 2018 entre Palmeiras e Corinthians por estar em campo sem estar relacionado para o jogo, ou seja, sem função aparente e ter sido suspeito de influenciar na decisão dos árbitros na penalidade marcada a favor do Palmeiras. Ainda não se sabe quem ficará em seu lugar, mas o presidente Reinaldo Bastos já contratou novos nomes para integrar o departamento, Ana Paula Oliveira, Emerson Augusto de Carvalho e Tatiane Sacilotti, todos ex árbitros gerando assim uma esperança de mudanças boas para a arbitragem paulista que realmente precisa muito se desenvolver.

Já no Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo, o SAFESP, as coisas não estão tão simples e tem ocorrido grande turbulência política este ano.

A atual gestão, liderada pelo presidente Arthur Alves Junior, deveria ter encerrado seu segundo mandato em abril passado, desde 2011 até os dias atuais. Conforme o Estatuto Social e o Regimento Eleitoral da entidade, era previsto ocorrer eleições para eleger a nova administração e o conselho fiscal no dia 25 de março, que deveria tomar posse no dia 11 de abril. Porém, isso foi somente a teoria, a prática foi outra.

Tudo começou com a publicação da convocação das eleições, no dia 22 de fevereiro, no Diário Oficial do Estado de São Paulo, mas a administração da entidade não divulgou a realização das eleições em nenhum outro meio de comunicação oficial, alguns acreditam que foi com a esperança de passar despercebido e ganhar o pleito sem concorrentes.

No entanto, um grupo liderado pelo árbitro Aurélio Santanna Martins, descobriu e conseguiu inscrever uma chapa a tempo para concorrer às eleições. O sindicato foi pego de surpresa, a entidade sequer estava preparada para realizar os procedimentos eleitorais e não havia uma Comissão Eleitoral devidamente constituída, como previa o Estatuto. Tanto que o registro da chapa de Arthur foi feito somente depois do registro da chapa de Aurélio.

Para complicar a história, a Comissão formada por Arthur para conduzir o processo eleitoral, rejeitou o registro da chapa 01, de Aurélio, alegando que o candidato residia fora da cidade de São Paulo, ferindo o artigo 5 do antigo Regimento Eleitoral de 2003. No entanto, a entidade já tinha um novo Regimento Eleitoral, de 2004, inclusive registrado em cartório, em que tal proibição não mais existia. Mesmo com a apelação da chapa 01 no pedido de defesa, a Comissão ignorou tal fato de haver um regimento mais novo e válido e mesmo assim reprovou a candidatura de Aurélio, dando para realizar eleições com chapa única, a do então presidente.

Curiosamente, a Comissão Eleitoral tinha como seu presidente o senhor Bruno de Aquino Godoy. Por surpresa, Bruno é filho de Jair Godoy, um dos membros da diretoria da chapa de Arthur.

Diante desses fatos o candidato Aurélio, que é advogado, ingressou com uma ação na Justiça do Trabalho (TRT) e a juíza do caso concedeu uma liminar cancelando a realização das eleições.

A Justiça, por fim, determinou que o Regimento Eleitoral de 2004 é o válido, e que a chapa 1 cumpria os termos previstos e, portanto, deveria ser devidamente aceita para concorrer ao voto.

Com essa decisão Arthur Alves, por meio do SAFESP, entrou com um recurso no tribunal, alegando que poderia realizar as eleições com base no regimento antigo. A Justiça negou o pedido e ordenou que novas eleições fossem realizadas que foram marcadas para o dia 18 de dezembro. Enquanto isso, a administração que deveria ter saído em abril ainda continua no poder de forma provisória.

Como é de conhecimento dos árbitros, o presidente Arthur assumiu a Comissão de Arbitragem da Federação Paraibana de Futebol desde o início do ano e, com isso, ficou afastado do SAFESP desde então.

O SAFESP conta com associados que atuam em jogos profissionais e amadores, porém a maioridade é de árbitros que atuam pela Federação Paulista de Futebol.

Com a nova eleição o número de chapas inscritas aumentou para 3 e o atual presidente, Arthur, desistiu de concorrer.

Os candidatos e as chapas serão conhecidos a seguir:

Chapa 01 – “NOSSA FORÇA, NOSSA VOZ – POR UM SAFESP ATUANTE”

Presidente – Renato Canadinho, 46 anos, ex-presidente da AAPR (Associação de Árbitros de Piracicaba) e ex-assessor de árbitros da FPF, reside em Piracicaba/SP

Vice – Silvio Roma, ex-diretor da escola de árbitros do SAFESP da atual gestão, reside em São Paulo/SP

Diretor financeiro – Carlos Pianósqui, atual diretor financeiro do SAFESP, reside em Taboão da Serra/SP

Chapa 02 – “O SAFESP É DOS ÁRBITROS”

Presidente – Aurélio Santanna Martins 44 anos, árbitro e advogado, reside em Jacareí/SP

Vice – Regildenia de Holanda Moura, ex-árbitra FIFA e atual instrutora de arbitragem, reside em São Bernardo do Campo/SP

Diretor financeiro – Fabricio Porfirio de Moura, árbitro assistente e funcionário público, reside em São Paulo/SP

Chapa 03 – “ALIANÇA PARA RECUPERAR”

Presidente – José de Assis Aragão, 80 anos, ex-árbitro e ex-presidente do SAFESP, reside em São Paulo/SP

Vice – José Sidney Esteves (Tio Ney), ex árbitro, reside em São Paulo/SP

Diretor financeiro – Benedito Martinho Correia (Benê), ex-árbitro e advogado, reside em São Paulo/SP

As chapas já começaram com suas campanhas, algumas propostas, mas também alguns ataques aos concorrentes, por exemplo, Canadinho tem batido na tecla de que cumpre rigorosamente o Estatuto e o Regimento Eleitoral de 2004, em referência ao artigo 5 item C, que diz que os candidatos a presidente e vice-presidente das chapas não podem, entre outras coisas, “estar em atividade no futebol profissional”.

Essa estratégia de Canadinho se refere ao fato de que, em sua opinião, Aurélio ainda está ativo apitando no futebol profissional. Desde março de 2019, Aurélio e Regildenia, sua vice, solicitaram para a Federação Paulista de Futebol afastamento de todas as partidas de competições profissionais. Regildenia se aposentou dos gramados recentemente, mas Aurélio ainda continua ativo, porém apitando apenas jogos amadores das categorias menores e do feminino.

Isso se deve por alguns acreditarem que as competições femininas são de âmbito profissional, mas a própria FPF e CBF dizem o contrário em seus regulamentos oficiais, em especial nos Regulamentos gerais de competições, nos Regulamentos específicos das competições femininas e no Regulamento de registro e transferência de atletas. Nos sites da FPF e CBF constam o histórico e as escalas de todos os árbitros do quadro, onde na descrição da categoria todos os jogos femininos aparecem como “amador”, outro ponto são as escalas dos árbitros que não precisam de sorteios ou audiência pública como nos profissionais masculinos, além do fato da juíza, no caso da primeira eleição, entender que a chapa estava de acordo com o regimento.

Ou seja, pelo regimento eleitoral todas as chapas parecem estar de acordo, recordando que todos devem ser associados e estarem em dia com a entidade.

A Chapa 1 conta com nomes que fazem parte da atual diretoria, Silvio Roma e Pianosqui. Desta forma a pergunta é: As mudanças necessárias realmente aconteceriam?

A Chapa 2 é dos árbitros atuantes, com exceção da Regildenia encerrando a carreira este ano, que na teoria estão sentindo no dia a dia as melhorias necessárias para a categoria, inclusive com a realidade do VAR e Fabrício Porfírio tem tido escalas consecutivas pela CBF para atuar como árbitro de vídeo. Será que é a chapa que na prática pode fazer a diferença?

Já a chapa 3 alguns arriscam dizer que é da velha guarda, ex-árbitros que deixaram de atuar há um bom tempo, fizeram parte de diretorias anteriores. O que mudou na arbitragem do tempo deles para o atual? Será que estão preparados para atender as atuais necessidades da arbitragem que são bem diferentes, em alguns pontos, da época deles?

O certo é que a arbitragem precisa de mudanças, precisa de melhorias, inclusive com a implantação do VAR. O sindicato dos árbitros precisa representar mais os seus associados e não o patrão, ser mais atuante, a Lei n°12.867 de 13/10/2013 sancionou a regulamentação da profissão de árbitro de futebol, mas na prática ainda nada aconteceu para a categoria. A Federação Paulista apostou, agora em 2020, já no Paulistão, será possível ver os frutos dessa mudança. Em relação ao sindicato, cabe aos próprios árbitros terem a consciência da importância do seu voto para uma gestão eficiente, eficaz e que realmente fortaleça a categoria.

O futebol está em evolução diária, novas tecnologias, atletas cada vez mais velozes, táticas apuradas, estudos diários. E a arbitragem também precisa de renovação, é nítida a necessidade de árbitros e instrutores melhores, mais capacitados, com aprimoramento frequente. Assim o futebol no geral tem a ganhar, isso mostra a importância de olhar o que acontece na arbitragem paulista e brasileira.

Se a arbitragem não funcionar nos bastidores, imagina dentro do campo.

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