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Na luta contra preconceito, FIFA terá ajuda de gigantes das redes sociais

O novo Código Disciplinar da FIFA, uma espécie de lei do futebol, aumentou o cerco do combate ao preconceito no futebol. Apesar de mais enxuto, ele está mais completo e moderno. Ele reforça uma preocupação necessária do movimento esportivo, o combate a todo tipo de preconceito.

Ainda bem.

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A sociedade evolui, e o esporte não pode ficar preso a costumes discriminatórios. Ele precisa evoluir e integrar, aproximar e acolher a todos. E nessa batalha, o futebol ganhou reforços importantes: poderosas redes sociais, como Twitter e Facebook.

Historicamente o esporte  ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática no Brasil durante os anos da ditadura. Devido à força que tem como instrumento de transformações, não podem existir fronteiras entre ele e causas importantes para a sociedade.

Entenda na reportagem de Ivana Negrão, que ouviu especialistas sobre o assunto.


 

O Santos Futebol Clube fez a estreia de sua terceira camisa no jogo contra o CSA, na Vila Belmiro, neste domingo (29), pelo Campeonato Brasileiro. O novo uniforme leva o patch do Observatório da Discriminação Racial e representa o orgulho negro na história do clube, cujo maior ídolo é Pelé. A bola e a camisa do jogo serão doadas para a instituição que coordena a campanha #ChegaDePreconceito. O anúncio foi feito via Twitter.

As redes sociais e o combate ao racismo, além outras ações discriminatórias, estão em alta na atual temporada do futebol mundial desde que novas medidas foram implementadas. O Código Disciplinar da FIFA inovou com a possibilidade de repressão pelo árbitro, dentro de campo, e também determinou, desde julho, regras e sanções para ofensas via internet.

“Com essa medida, a FIFA ratifica o que todos já sabíamos: o caráter social do futebol e a importância das plataformas digitais para contribuir com a educação e inclusão social”, avalia Luiz Gustavo Costa, advogado especialista em direito esportivo que mora em Londres e colunista do Lei em Campo.

A recomendação da entidade máxima do futebol surtiu efeito na Federação Inglesa, que, no último verão, já havia se reunido com representantes do Facebook e, mais recentemente, esteve com membros do Twitter. Em comunicado, a FA disse: “A reunião foi produtiva e positiva e deu às autoridades do futebol e ao Twitter a oportunidade de examinar algumas das questões específicas relacionadas a esse comportamento inaceitável, tanto online quanto off-line. Todas as partes concordaram em levar adiante essas discussões construtivas”.

Paul Pogba e Marcus Rashford, do Manchester United, além de Tammy Abraham, do Chelsea, e Kurt Zouma, foram vítimas de ataques nas mídias sociais. Os técnicos dos dois times, Ole Gunnar Solskjaer e Frank Lampard, foram a público e pediram que medidas sejam tomadas para impedir tal abuso.

O Twitter se manifestou, alegando que mais de 700 exemplos de conduta odiosa foram registrados nas duas semanas após os ataques aos jogadores da Premier League, e que tomou medidas contra 7% dos casos relatados. “Esse conteúdo vil não tem lugar em nosso serviço. Queremos fazer nossa parte para conter esse comportamento inaceitável”, afirmou em comunicado.

“Não sabemos o conteúdo das reuniões. Também não divulgaram soluções específicas. Estão em aberto”, pondera Luiz Gustavo Costa. “O que mais importa é fiscalização. Ainda mais que racismo e qualquer outro tipo de discriminação já é crime tipificado”, acrescenta Roberto Barraco, advogado especialista em direito esportivo.

O Código Disciplinar da FIFA determina que “qualquer pessoa que ofenda a dignidade ou integridade de um país, uma pessoa ou grupo de pessoas por meio de desprezo, discriminação ou depreciação palavras ou ações (por qualquer meio) em razão da raça, pele origem étnica, nacional ou social, sexo, deficiência, sexo orientação, idioma, religião, opinião política, riqueza, nascimento ou qualquer outro status ou qualquer outro motivo, será sancionado com uma suspensão de pelo menos dez partidas ou um período específico, ou qualquer outra medida disciplinar”.

E, com base no Novo Código, a Federação Inglesa produziu uma cartilha informativa para os jogadores em sete idiomas. Nela a FA faz referência ao uso das redes sociais e compreende que os atletas também têm responsabilidades em relação ao que postam. A determinação é de não usar “linguagem ou imagem abusiva, que cause insulto ou ameaça, e que configure discriminação”. Retuíte é tratado como post autoral, e o atleta ainda pode ser responsabilizado por postagens feitas por terceiros, como um assessor de imprensa, desde que feitas de sua conta pessoal. A cartilha traz em destaque também: “pode ser cobrado por mensagens enviadas em particular ou fora de um ambiente de futebol”.

Por tudo isso, um post do jogador Bernardo Silva, do Manchester City, ganhou tanta repercussão na última semana. O meia português publicou uma montagem com a foto que seria de outro jogador, Benjamim Mendy, quando criança, ao lado de um personagem do doce Conguitos, disponível na Espanha e em Portugal, com a legenda “Advinha quem?”. A mensagem foi apagada minutos depois, por configurar uma piada racista.

A instituição de caridade “Kick It Out” convidou a FA a agir nesse caso. “Os estereótipos racistas nunca são aceitáveis como brincadeiras, e estamos chocados que alguém que é um exemplo para milhões tenha falhado em entender a natureza discriminatória de seu cargo. A FA foi notificada, e acreditamos que ações retrospectivas devem ser tomadas, incluindo educação obrigatória – que é vital para desafiar comportamentos ofensivos como esse.”

Guardiola, técnico do Manchester City, saiu em defesa de Bernardo Silva. “Se algo acontecer, será um erro, porque Bernardo é uma pessoa excepcional. Não tem nada a ver com a cor da pele ou a nacionalidade. Se eles (a federação) querem fazer isso, Bernardo estará aberto para conversar. Mas primeiro você precisa saber de qual pessoa está falando”, declarou Pep em entrevista à BBC.

A Federação Inglesa está investigando o caso, e o jogador já encaminhou sua defesa para a entidade. Ele pode pegar suspensão de até seis jogos. “Agora, o que mais me pega é: dar palmada resolve no longo prazo ou tem algo além de fiscalizar e sancionar que pode ser feito?”, questiona Roberto Barraco.

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