No combate efetivo ao preconceito no esporte, o Palmeiras pode fazer história, o jovem Luighi já fez. Com apenas 18 anos, ele contrariou a lógica e se posicionou de maneira firme contra o preconceito. O caso repercutiu no mundo.
O jogador da base do Palmeiras sofreu crime de RACISMO na Libertadores sub-20 durante Cerro Porteño 0 x 3 Palmeiras logo após marcar um dos gols do time brasileiro. Sofreu. Chorou.
Ao final do jogo, foi entrevistado pela TV oficial do evento. A pergunta foi protocolar, “fale sobre o jogo e a vitória”. Mostrando coragem e uma rara maturidade respondeu com outra pergunta: “sério que você vai me perguntar sobre o jogo? É sério isso? Não vai perguntar sobre racismo? O que eu sofri foi crime!”.
Luighi fez algo raro no esporte, se posicionou. Fazendo isso, ensinou:
– não era hora para falar do jogo, mas sobre racismo!
– o que aconteceu foi um CRIME;
– sim, a CONMEBOL precisa agir e com RIGOR para punir os criminosos.
Em uma entrevista rápida, Luighi questionou a cultura do futebol, o papel da imprensa e as entidades esportivas. Ele lembrou a todos que esporte não se afasta de direitos humanos.
A fala de Luighi tomou conta das redes sociais. Até rivais do Palmeiras se posicionaram, como o Corinthians. O mundo do esporte falou sobre a discrimninação no esporte. O jogador fez a paerte dele, o Palmeiras pode dar exemplo também.
O clube precisa se posicionar de maneira histórica sobre o que aconteceu, isso gerará debate, reflexão e aprendizado.
Código Disciplinar mudou em 2022 e caos persistem
Uma triste história de preconceito teima em se repetir nos estádios pelo mundo, em especial na América do Sul. Atos de injúria racial se repetem a cada rodada, principalmente direcionados a torcedores brasileiros. Mesmo com a possibilidade de sanções mais duras desde 2022, o imaginário da impunidade reina solto no ambiente esportivo sul-americano.
Sou daqueles pesquisadores do direito que acredita que existem caminhos para punições mais duras. Aplica a regra, analisando princípios gerais e a proteção de direitos humanos, entendendo que futebol e direito não se separam.
Mas claro que uma mudança nos regulamentos privados facilitariam a vida do julgador.
Em maio de 2022, a Conmebol mudou o Código Disciplinar, tornando mais pesadas as sanções contra atos de discriminação em todas as competições da entidade “por motivação de cor de pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem”.
Mesmos assim, com punições econômicas, o que se vê nos estádios mostra que da regra para a prática ainda há uma distância. O futebol ainda não conseguiu criar um ambiente livre do preconceito.
A regra mudou e – mesmo assim – em 2025 o futebol apresenta os mesmos problemas de anos anteriores.
Por que?
Falta efetividade na aplicação de direitos.
Políticas só funcionam quando aplicadas
Na proteção de direitos humanos, os julgadores do movimento esportivo devem ir além do regulamento de uma entidade. Eles podem, inclusive, buscar o que prevê o estatuto da entidade-mor do futebol mundial.
O art. 3, traz o compromisso de que a “FIFA está comprometida com o respeito aos direitos humanos internacionalmente reconhecidos e deverá empreender esforços para promover a proteção desses direitos”.
Em 2019, o Código Disciplinar da FIFA se posicionou de maneira firme, apresentando caminho para punições à violação de Direitos Humanos, como injúria racial e homofobia. E previa penas duras.
Diz o art 13, em tradução livre:
13 Discriminação – Qualquer pessoa que ofenda a dignidade ou integridade de um país, uma pessoa ou grupo de pessoas por meio de palavras ou ações desdenhosas, discriminatórias ou depreciativas (por qualquer meio) em razão da raça, cor da pele, etnia, nacional ou social origem, gênero, deficiência, orientação sexual, idioma, religião, opinião política, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição ou qualquer outro motivo, serão punidos com uma suspensão de pelo menos dez jogos ou um período específico, ou qualquer outra medida disciplinar apropriada .
Lembrando que todos que fazem parte da cadeia associativa do futebol e aderem às regras da Fifa.
Ano passado, o presidente Gianni Infantino determinou que as federações de futebol coloquem em seus códigos disciplinares punições mais rigorosas em casos de preconceito, inclusive com perda de pontos.
Quem colocou até agora? Quem cobra?
Mas além dos regramentos esportivos, é importante lembrar que o direito vai muito além daquilo que está tipificado de maneira geral e abstrata. No caso concreto, princípios, direitos humanos e peculiaridades precisam ser analisados.
Esporte não se separa do direito, nem da proteção de direitos humanos. Existe caminho para se punir o preconceito. Além de campanhas que conscientizam, é preciso punir. A força coercitiva do direito também tem papel educativo.
Direitos humanos vão além de políticas institucionais, eles precisam ser práticas permanentes e efetivas no esporte.
Parabéns Luighi
Estou escrevendo um livro sobre (júri) histórias que mudaram o esporte. Elas partem de alguém (na maioria dos casos, atleta) que não se conformou com a lógica dos fatos e resolveu enfrentar um problema. Comprou uma briga jurídica contra a cultura, ou contra o sistema esportivo e provocou mudanças efetivas na proteção de direitos humanos.
Luighi fez exatamente isso.
Provocou o sistema, provocou irritação. Tomara que isso gere conquistas!
Parabéns.
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