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O esporte se abre para as drogas

Um processo que vem ocorrendo há muitos anos parece estar próximo de se confirmar: as drogas definitivamente invadiram o universo esportivo. Ainda que não seja possível afirmar que elas já são amplamente aceitas, o que se observa é que elas já são no mínimo toleradas.

No último ano a Wada mudou suas normas com relação às drogas sociais, como já comentamos aqui, buscando uma nova abordagem a algo que vinha trazendo mais malefícios que benefícios aos atletas. Deixaram de lado a ideia de que os atletas precisam servir de exemplo para buscar caminhos para tratar estes atletas de forma mais humana, e não simplesmente eliminando-o de sua estrutura, impedindo-o de exercer sua profissão.

O mesmo processo está ocorrendo nos Estados Unidos. No final do último ano, a Major League Baseball, principal liga profissional da modalidade no mundo, eliminou de sua lista de substâncias proibidas a maconha e seus derivados. Isso não quer dizer que a relação dos atletas com a substância pode ocorrer livremente, uma vez que o controle continuará existindo e caso seja flagrado após consumir o produto em treinos ou mesmo dirigindo, o atleta pode ser direcionado a programas de tratamento.

Esse tipo de atitude está alinhado à recente mudança da política antidrogas nos Estados Unidos. Muitos estados americanos já permitem o consumo de maconha e seus derivados, e a maioria dos times da MLB está em estados que, de alguma forma, autorizam o uso de maconha.

Aproveitando a decisão da MLB, atletas de outras modalidades fazem campanha para que o consumo de maconha e seus derivados seja liberado. No começo do ano, diversos atletas da NBA pediram publicamente que a liga revisse sua política antidrogas. Até agora, sem sucesso. Mas a tendência é que a tolerância cresça progressivamente. Atualmente, aproximadamente 1 em cada 4 atletas faz ou fez uso de maconha e seus derivados ao menos 1 vez nos últimos 12 meses [1].

No entanto, ao mesmo tempo em que a liberação parece ganhar força, surgem novos problemas. Antes tida apenas como droga recreativa, a maconha começa a quebrar preconceitos e isso pode fazer com que ela volte a ser proibida. Avery Collins assumiu, há alguns anos, que usa maconha como parte de seu treinamento, e que isso lhe traz benefícios, assim como também já fez Jenn Shelton.

Ainda que muitos defendam que a maconha não traz benefícios diretos à prática esportiva, há uma quantidade muito pequena de estudos nesse sentido [2]. Há, no entanto, evidências de que derivados da maconha podem ter efeitos anti-inflamatórios, favorecendo atletas [3]. Para que seja possível afirmar que a maconha não traz resultados positivos para os atletas, considerando o número de relatos e a quantidade de profissionais que usam, ainda é preciso que muitas pesquisas científicas sejam realizadas.

O que se sabe hoje é que, com a proibição, não apenas no esporte, essas pesquisas ocorrem em quantidade muito menor do que deveriam. E, como vemos, o cenário está mudando dia após dia. E essa mudança será acompanhada de muitas pesquisas, que vão confirmar ou rejeitar a hipótese de ausência de benefício esportivo.

[1] Docter, S., Khan, M., Gohal, C., Ravi, B., Bhandari, M., Gandhi, R., & Leroux, T. (2020). Cannabis use and sport: a systematic review. Sports health12(2), 189-199.

[2] Kennedy, M. C. (2017). Cannabis: exercise performance and sport. A systematic review. Journal of science and medicine in sport20(9), 825-829.

[3] Gamelin, F. X., Cuvelier, G., Mendes, A., Aucouturier, J., Berthoin, S., Di Marzo, V., & Heyman, E. (2020). Cannabidiol in sport: Ergogenic or else?. Pharmacological Research, 104764.

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