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O racismo no esporte e a necessidade de consciência e ações mais efetivas

Você é preto? Afrodescendente? “Muitos não se enxergam dessa forma. Falta consciência, valorização da cultura, educação”, avalia Jamir Garcez, engenheiro civil e ex-jogador de basquete profissional.

Certa vez, quando mudava de Brasília para jogar em Dracena, no interior de São Paulo, aos 19 anos, Jamir foi o único a ser revistado no ônibus em uma “batida” policial. Ele conta que se sentiu humilhado e chorou muito depois. Essa é uma das várias histórias que viveu, recheadas de preconceito.

“Se você não é uma pessoa famosa, qualquer lugar que vai é motivo de desconfiança. Infelizmente temos que lidar com isso no dia a dia. Tem muita gente que não entende porque talvez nunca vai passar por uma situação dessa.”, declarou Jean Pyerre, volante e camisa 10 do Grêmio, nas redes sociais.

Por isso é tão importante falar sobre identidade, raízes e tradições históricas. É preciso colocar holofote sobre a violência causada pelo racismo. É o que propõe o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.

“No Brasil, empresas, clubes, entidades e marcas não entenderam que a luta antirracista não requer só posicionamento. Requer também ações afirmativas e apoio às pessoas e instituições que estão nessa batalha. Não basta fazer camisetas, frases, se não mexer no bolso”, avalia Marcelo Carvalho, diretor do Observatório do Racismo no Futebol.

Em 2020, o Observatório já registrou 20 casos de insultos raciais no futebol brasileiro, apesar da temporada atípica com a pandemia do novo coronavírus. Mesmo assim, Marcelo destaca que o debate foi ampliado este ano. “Mas aconteceu sem envolver os atletas, e os clubes de forma efetiva, aqui no Brasil”.

A nível mundial, LeBron James e outros jogadores da NBA aderiram ao movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam, em tradução livre) e chegaram a paralisar a Liga em respeito às vítimas de violência racial nos Estados Unidos.

Lewis Hamilton quebrou paradigmas num esporte elitista e majoritariamente branco. Levantou a bandeira, reverteu o boicote da Fórmula 1 e conquistou o apoio de outros pilotos.

O racismo é cada vez mais condenável. No artigo 13 do Código Disciplinar da FIFA, há a tipificação da conduta proibida e o estabelecimento de sanções desde multa até eliminação ou rebaixamento. No Código Brasileiro de Justiça Brasileira, o artigo 243-G também proíbe ofensas e atos racistas. Mas ainda há restrições em relação à livre manifestação política dos autores do espetáculo esportivo.

“Esporte e política são alicerces que se apoiam. Morre no Brasil um jovem negro a cada 23 minutos. Salvar vidas negras é um ato de humanidade que precisa ser exercida por todos”, alerta Diogo Silva, que participou de duas Olimpíadas, foi ouro no taekwondo no Pan de 2007 e eleito para a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro.

É preciso ir além. É preciso olhar para dentro das estruturas e perceber que a falta de pessoas negras é racismo.

Jamir Garcez pesquisa sobre a participação de pretos em posições de decisão no esporte. Ele reúne dados para o livro “O negro no basketball brasileiro”. Quando começou a escrever, um detalhe chamou atenção: a ausência de armadores negros. Apenas oito fazem parte da história da Seleção Brasileira de Basquete. Realidade que começa a mudar.

Na última convocação, para jogos eliminatórios em novembro na Argentina, três dos quatro armadores da Seleção são negros: Yago, do Flamengo, Georginho, do São Paulo, e Alexey, de Bauru.

“A luta contra o racismo, é antes de tudo uma luta pelo capital e negros precisam romper a barreira financeira para que enfim possam estar em posições de comandam e que tenham recurso para mudar o sistema”, defende Marcelo Carvalho

Racismo não é incidente, ofensa, escolha ou falta de caráter, racismo é estar num lugar onde muitas vezes não existe o básico, é um processo de poder.

“Participo do grupo ‘Rodas de Homens Negros’, que debate sobre o movimento. É quase terapêutico, um local de trocas de vivências. Local de cura e fortalecimento”, compartilha Jamir Garcez.

“Viver, amar, sobreviver, lutar e resistir. Todo novembro é negro e não recuaremos sobre isso. Porém um dia do ano é insuficiente, quero 20 de novembro todo dia”, finaliza Diogo Silva.

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