Há cerca de 100 anos ocorreu a primeira participação do Brasil em edições dos Jogos Olímpicos. Era o ano de 1920, na Antuérpia, cidade da Bélgica. O mundo vivia o pós-guerra, e a gripe espanhola já não fazia mais vítimas.
Era um período de celebração: após oito anos sem Jogos Olímpicos – os Jogos de 1916 haviam sido cancelados por conta da Primeira Guerra Mundial –, o mundo voltou a se reunir para celebrar a paz.
E para representar o momento, o mais conhecido dos símbolos olímpicos foi publicamente apresentado ao mundo com o hasteamento da bandeira: os aros olímpicos, cinco anéis entrelaçados de iguais dimensões e em diferentes cores, representando a união entre os continentes, em fundo branco, a paz.
Os símbolos, como linguagem, auxiliam a organizar a vida cotidiana, ultrapassando nossas histórias individuais e nos mergulhando no imaginário comum da cultura. Ficam registrados como informações que até parecem esquecidas, mas não deixam de existir quando acessamos nosso subconsciente. Aquele conjunto de pensamentos e impressões, provisoriamente ocultos, que parecem perdidos, mas não deixam de influenciar nossas consciências.
Estímulos vão além do que se vê, valendo qualquer meio útil à memorização e que apresente a mensagem esperada. Repetir lemas e frases de efeito são um importante modo de engajamento, por isso, desde 1988 em Seul, cada edição dos Jogos Olímpicos idealiza um Games Motto, algo como um slogan, uma frase curta e de efeito, uma espécie de “grito de guerra”, que simbolize o espírito daquela edição dos Jogos.
Para os Jogos de Tóquio, foi escolhida a frase “Unidos pela emoção” (United by Emotion), enfatizando o poder do esporte ao unir pessoas de diferentes ideais, origens e etnias com o objetivo de celebrar conquistas, indo além de suas diferenças. Nada mais atual: separados fisicamente, nos conectamos pelas ansiedades e esperanças que cercam esta pandemia global.
Enquanto escrevo, os jornais noticiam as discussões em torno da realização dos Jogos de Tóquio, adiados pela primeira vez na história para o próximo ano, por conta da pandemia. Seriam realizados entre julho e agosto deste ano, foram adiados para 2021 e correm o risco do cancelamento caso não se obtenham meios de prevenir a doença.
É a primeira vez na história que ocorre um adiamento. Até então, apenas três cancelamentos em Berlim 1916, Tóquio 1940 e Londres 1944. Nunca por questões de saúde.
Neste momento, em que precisamos de um grande reencontro com a nossa humanidade, quantos símbolos de integração entre os povos, de superação por meio de esforços individuais e de construção coletiva podem nos trazer os Jogos Olímpicos de Tóquio?
Que os Jogos aconteçam em 2021, com a segurança necessária aos participantes, e que sejam para sempre celebrados como sinal da grande vitória do mundo frente a uma ameaça global, permanecendo no imaginário coletivo como símbolo pulsante dos ideais do Olimpismo.