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Por onde andam a tolerância e o bom senso?

Cenas lamentáveis foram vistas no último domingo, 2 de fevereiro, no campeonato catarinense, em partida entre Figueirense e Avaí. Pouco antes do final do clássico catarinense a torcida do Figueirense reagiu a um gesto do zagueiro Bruno Silva, do Avaí e isso desencadeou uma confusão muito maior do que o razoável.

É indiscutível que os tempos atuais têm colocado cada vez mais em xeque a liberdade de expressão. Na era dos hipersensíveis, qualquer palavra ou gesto pode desencadear o caos. Foi o que aconteceu em Florianópolis. Após a provocação do atleta, que deveria ser o usual em um campo de futebol, a torcida reagiu de maneira violenta, e dois torcedores invadiram o campo. Uma reação claramente desproporcional.

Durante a invasão, o goleiro reserva da equipe do Avaí, Glédson, com um belo o-soto-gari, levou um dos torcedores invasores ao chão, com a intenção clara de imobilizá-lo. Até este momento, podemos dizer que as ações foram absolutamente proporcionais e visando apenas conter o invasor. Mas, mais uma vez, surge a desproporcionalidade. O zagueiro Bruno Silva, que fez o gesto que deu início aos fatos, tentou atingir o torcedor, já imobilizado, com um forte chute na cabeça. Novamente, uma atitude completamente desproporcional, especialmente se considerarmos que o torcedor já estava imobilizado.

Após essa tentativa de agressão, mais um grupo de torcedores tentou invadir o campo, sendo contidos por outros torcedores da própria equipe. Nova invasão de campo seria, mais uma vez, uma reação desproporcional à tentativa de agressão. Ao impedir nova invasão, parte da torcida acreditava estar evitando que a equipe fosse punida, como deveria ser em caso de invasão. O problema é que, ao impedir a invasão, a torcida acabou dando início a um confronto de proporções ainda maiores, que gerou danos ao estádio e precisou da interferência da Polícia Militar.

Esses fatos, tristes, poderiam ter sido ações perfeitas caso tivessem sido realizadas de forma proporcional. E caso houvesse proporcionalidade, também seriam evitadas várias punições, que devem ser pesadas, tanto para o clube mandante quanto para o atleta Bruno Silva.

Caso a torcida tivesse reagido aos gestos de Bruno com vaias ou outras palavras, seria uma reação proporcional e nada mais teria ocorrido. Possivelmente ninguém seria punido. Não foi o que aconteceu e a torcida pode fazer com que o clube seja punido.

Em seguida, se Bruno não tivesse tentado agredir o torcedor já imobilizado, tudo acabaria por ali. Não seria possível falar em punição ao goleiro Glédson, por não ser exigível qualquer outra conduta naquele momento. Ainda que ele não fosse segurança, deixar de imobilizar um torcedor invasor poderia colocar em risco seu companheiro de time. E a imobilização foi feita de maneira bastante razoável com o que se observava. Mas a desproporcionalidade da ação de Bruno mais uma vez provocou o efeito cascata.

Revoltados com o ato, outros torcedores do Figueirense reagiram mais uma vez de maneira desproporcional e tentaram invadir o campo. Essa tentativa provocou a reação de outro grupo de torcedores, que impediu a invasão, dando início a mais uma confusão.

O CBJD prevê que caso as condutas praticadas para reprimir uma infração sejam proporcionais, ou em casos em que não seja exigível uma conduta diversa, não há que se falar em punição àquele que praticar a ação, ainda que isoladamente ela pudesse ser considerada um ato infracional. No entanto, a desproporção impede que isso seja aplicado a qualquer um dos atos da sequência. Mais que isso, como uma atitude deu origem a uma série de outras ocorrências, esses efeitos deverão ser considerados no momento da dosimetria das penas.

Se a reação inicial da torcida tivesse sido responder com uma grande vaia, nada disso teria acontecido. Definitivamente precisamos de mais tolerância, bom senso e equilíbrio emocional.

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