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Por que influenciadores recebem mais que atletas

Nesta semana o vazamento de dados da TwitchTV, principal plataforma de transmissão de conteúdo gamer ao vivo no Brasil, demonstrou em números um fato já conhecido dentro da comunidade brasileira: a discrepância entre os rendimentos do criador de conteúdo gamer (Streamer e/ou Youtuber) e dos atletas de esportes eletrônicos.

No eSport Legal dessa semana exploraremos as fontes de renda do criador de conteúdo e do atleta, bem como tentar-se-á apontar o porquê da diferença gritante entre elas.

Os rendimentos do criador de conteúdo

Em regra, o principal rendimento do criador do conteúdo virá do pagamento feito pela plataforma de transmissão a que ele se filia, sendo que há diferenças da forma de definição do quantum dependendo da plataforma e o contrato em questão, abaixo estão as principais fontes de renda de um criador de conteúdo.

1. Com base nos resultados do conteúdo: o número de minutos assistidos das transmissões ao vivo ou do vídeo postado, além das propagandas exibidas, é a forma mais comum de definir quanto será pago ao criador de conteúdo.

2. Contratos com pagamento fixo: a fim de garantir a exclusividade sobre um influenciador, é comum que plataformas de transmissão realizem contratos específicos com eles. Além da exclusividade, é negociado um número mínimo de transmissões e horas de transmissão por semana e/ou por mês para que ele receba um valor fixo.

3. Assinaturas e doações: as plataformas de transmissão também implantam formas dos fãs do criador de conteúdo doar dinheiro ou pagar uma assinatura que lhes garantam vantagens (como acesso a conteúdo exclusivos, por exemplo). Algumas plataformas ainda criam espécies de criptomoedas para que a doação seja feita com ela como intermediária, assim a plataforma garante que uma % da doação seja destinada e ela mesma.

4. Patrocínios e direitos de imagem: os criadores de conteúdo também podem firmar contratos de patrocínio para divulgar uma marca. Também podem fazer contratos de cessão de imagem para que empresas a explore. É muito comum influenciadores que se vincularem a clubes de esportes eletrônicos.

5. Lojinha: muitos criadores de conteúdo criam ecommerces para vender produtos vinculados a sua imagem. Alguns já foram capazes de criar negócios mais complexos, como restaurantes e marcas de vestuário.

Os rendimentos do atleta de esportes eletrônicos

​As principais fontes de renda do jogador profissional de jogos eletrônicos se assemelham muito ao do atleta de modalidades de esporte analógico: salário, direito de imagem, direito de arena, eventuais remunerações com base em resultados etc.

Além dos contratos de trabalho e de sessão dos seus direitos de imagem, no esporte eletrônico é muito comum que o atleta realize também um contrato de três partes entre o clube, o atleta e a plataforma de transmissão conhecidos coloquialmente como “contrato de stream”. Nesse contrato, em resumo, a obrigação do atleta é de realizar um número mínimo transmissões e de horas detransmissão, além de exibir a marca da plataforma de transmissão; a obrigação do clube é de exibir a imagem da plataforma de transmissão; e a plataforma de transmissão irá realizar pagamentos a eles.

Muitas vezes nesse mesmo “contrato de stream” o clube é tratado também como agenciador do atleta, o que lhe garante parte do que é devido ao atleta. Cláusula cuja validade deve ser questionada.

Porque o atleta de eSports recebe pouco?

Falta de pesquisas de mercado e desconfiança de agências e departamentos de marketing

Apesar do crescimento exponencial do mercado do esporte eletrônico e do alcance que ele possui, muito superior a outras modalidades de esporte e de outras formas de entretenimento, o mercado brasileiro ainda carece de pesquisas e métricas.

Enquanto esses tipos de estudos não foremconcluídos, o mercado brasileiro de esporte eletrônico continuará tendo dificuldades de vender os espaços publicitários por valores que realmente façam sentido. Isso porque não conseguem oferecer com precisão aceitável aos investidores métricas importantes como o retorno sobre o investimento.

O impacto disso é que empreender e anunciar nesse mercado ainda seja barato, mas também faz com que o mercado tenha seu crescimento limitado. Assim que estudos como esse começarem a ser publicados os valores do mercado serão multiplicados de um dia para o outro.

​É claro que esse fator impacta – e muito – o salário do atleta.

​Não obstante grandes empresas estarem cada vez mais presentes no esporte eletrônico, é nítido que ainda existe desconfiança que vai além da falta de métricas.

Falta de profissionalismo

Ainda que seja verdade que o mercado inteiro sofre com o exposto no tópico anterior, é fato que o atleta é a parte mais fraca no esporte eletrônico e é explorado por isso.

Os atletas são prejudicados não apenas no valor que recebem, mas também em condições saudáveis de trabalho.

O número de contratos que tentam fraudar a relação empregatícia entre o atleta e o clube é esmagadoramente maior que os contratos feitos de forma legítima.

Abandono da carreira de atleta para se tornar criador de conteúdo

O principal impacto da discrepância entre os valores recebidos por criadores de conteúdo e atletas é o abandono da carreira de atleta para focar apenas em criar conteúdo.

É constante a preocupação de jogadores que estão se destacando em uma temporada não jogarem a próxima.

Um exemplo claro é a maior promessa do League ofLegends brasileiro atualmente. Já correm boatos de que o Jean Carlo “Jean Mago” Dias, que jogou na Academy do Flamengo eSports – espécie de categoria de base – na última temporada, irá abandonar o jogo competitivo para focar na criação de conteúdo:

Uma das principais personalidades da modalidade,Gustavo “Baiano” Gomes, que também era jogador profissional e se tornou criador de conteúdo comentou o caso: “Eu falei, gente, eu acho que é 90% de chance do Jean Mago parar de jogar. O cara entrou no academy, provavelmente viu que o cenário competitivo não é nada do que ele pensava. […] Ele pode continuar jogando se o objetivo da vida do cara for representar o Brasil lá fora, se for qualquer outro, ele vai ser Streamer.”

Baiano chega, inclusive, a citar a discrepância dos valores narrados neste artigo: “Vão chamar o cara de mercenário. […] Mas, eu faço a pergunta pra vocês: se você tivesse 17 anos e tivesse a opção de ganhar 100 mil reais por mês pra você e sua família ou a opção de ganhar 3 [mil], você ia escolher o que?’”

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