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Prata da casa

Desde muito tempo, o sul do mundo é conhecido como o início do longo itinerário percorrido pelo jogador com ‘boas pernas e boa sorte’. Prata da casa, é crescer que o jogador nascido e criado no clube daqui vai alçar novos voos pra longe.

Ainda na onda das transferências, me lembrei das linhas onde o Galeano brincava que, até algum tempo atrás, ‘passe’ era a viagem da bola de um ponto ao outro. Agora, é a viagem do jogador. De um clube pro outro. De um país pro outro. Causando altas e baixas na bolsa das pernas. Lá, onde, entre ofertas e procuras, como todo mercado que se preze, leva vantagem quem não precisa comprar, quando tem quem precisa vender. Lá, onde, asfixiados, os times brasileiros buscam a oportunidade da transação. Precisam ver o caixa girar. E vender menino recém-formado ainda é a melhor opção.

Problema nenhum. Não fosse o fato de que onde se drena tudo o que a terra produziu, o solo fica mais pobre. O futebol fica mais pobre. Como numa ‘indústria de exportação’, onde o mercado interno fica com o que sobra do negócio. E perde. O campeonato nacional perde.

Entre a má gestão e a matemática do resultado, os jogadores desaguam, um a um, na corrente que leva mais gente do que traz. E, junto com eles, o torcedor parece que também vai. Já não olha mais pra cá, senão pra lá. E consome o futebol do outro continente.

Os especialistas falam que assim a conta não fecha. O dinheiro da venda é bom, mas melhor que viesse de outro lugar. Da exploração do produto aqui. Da valorização do produto aqui. E assim, apontam os bons exemplos de lá.

Ontem, ouvi que se começássemos agora a reformular o modelo, levaríamos dez anos pra chegar. Pensei: não tem mandato que dure tanto tempo (felizmente). E quem é que vai querer fazer agora pro outro colher no próximo? O jeito, é fazer o que dá. Quando o torcedor reclama, os clubes se esforçam pra trazer aqueles que foram faz tempo, e agora querem voltar. É mais caro, o futebol já não é mais o mesmo, mas agrada. Por um tempo. Enquanto isso, a promessa vai embora. Por um preço menor do que poderia ser. Deixando, no time, um buraco que podia preencher.

Referências

GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito. Porto Alegre: L&PM, 2014.

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