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Reflexões sobre o futebol pós-Brexit

Por Luiza Rosa Moreira de Castilho e Marina Rosa Moreira de Castilho

Com o recente término da Eurocopa, a final em solo britânico e um empate entre Inglaterra e Escócia no início da competição, algumas das principais fontes internacionais voltaram a valorizar a antiga rivalidade, que ultrapassa os gramados e chega às urnas. Um grande exemplo é o referendo de saída do Reino Unido da União Europeia, em que a maioria dos escoceses votou pela permanência, em oposição a escolha dos ingleses.

A despeito da importância dessa disputa, alguns reflexos do Brexit podem ser sentidos em outros aspectos do esporte. As transferências de jogadores, os patrocínios e as transmissões são prismas significativos quando se abordam essas mudanças, e é nesse sentido que se faz necessário entender como tudo se desencadeou.

A história começa quando os Estados europeus definiram, após a Segunda Guerra, que a integração poderia ser uma espécie de prevenção a novas guerras no continente. A medida se estendeu para grande parte dos setores dos países compreendidos, porém o Reino Unido sempre possuía ressalvas às questões discutidas pelo bloco.

Embora esse movimento britânico tenha sido construído ao longo do tempo, desde antes de Margaret Thatcher, com o “euroceticismo”, passando pelo United Kingdom Independence Party (UKIP) e o governo trabalhista de Tony Blair, foi na liderança de David Cameron que o referendo tomou lugar.

Desde o resultado que aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia, que – diga-se de passagem – não agradou o então primeiro-ministro, os entraves políticos aumentaram e o momento pós-referendo não tem sido fácil. As transações com a União Europeia se tornaram mais complexas e dificultosas, atingindo diversos setores da indústria britânica e, consequentemente, o futebol.

Afetada pela incerteza financeira em consequência da pandemia, a tranquilidade na janela de transferências de inverno demonstrou a sutileza no desenvolvimento das implicações decorrentes do Brexit.

Mas a monotonia é uma tendência que não deve durar muito. Com a nova janela de transferências aberta, e a volta (ainda que a lentos passos) à normalidade do esporte no continente, o mercado deve retornar as atividades prontamente. No entanto, os atletas terão que atender a critérios muito específicos previstos no sistema de pontos criado pela Football Association em conjunto com a Premier League e a English Football League.

Nesta senda, vale lembrar da vitória no caso Bosman, que revolucionou o futebol – não só europeu, mas em todo o mundo -, deixando livre a circulação dos atletas por toda a Europa. Hoje, algumas das principais fontes internacionais especulam a violação daquela decisão, ante a necessidade dessa autorização de trabalho baseada nos Government Body Endorsements.

As novas regras alteram o tratamento de atletas vindos da União Europeia, reconhecendo o formato de negociação que ocorre com qualquer outro jogador do mundo. Para que haja mais facilidade, por assim dizer, para efetivar uma contratação e entrar no país, o histórico do atleta é levado em conta de maneira mais rígida do que de costume. Os jogadores e jogadoras não são avaliados apenas pelo talento. De acordo com o GBE, eles devem acumular uma quantidade de pontos (em princípio, quinze), que seguem critérios de apresentações internacionais, qualidade dos clubes anteriores e tempo de presença em campo.

Além disso, o art. 19 do RSTP da FIFA, que dispõe sobre a proteção de atletas jovens, firma a proibição de transferências internacionais nos casos de jogadores menores de 18 anos. Em seguida, o dispositivo prevê cinco exceções à regra, dentre as quais se realça a transferência que ocorre no território da União Europeia, ou no Espaço Econômico Europeu. À vista disso, os clubes ingleses não estão aptos a contratar jogadores menores de 18 anos, além do limite de contratação de, no máximo, 6 atletas menores de 21 anos. Entende-se que essa situação pode levar a uma maior valorização de jovens atletas britânicos, tendo em vista que os olhos se voltam para os cidadãos nacionais.

Por outro lado, não se descarta a hipótese mascarada de transferências-ponte de atletas europeus, de origem não-britânica, com a finalidade de garantir a pontuação necessária, quando a negociação for permitida em razão da idade. Ponto este que merece ênfase, já que é possível conjecturar a chance de alguns clubes tentarem contornar a regra. De maneira a realizar a contratação e o empréstimo subsequente, para que o atleta envolvido tenha a oportunidade de elevar sua somatória de pontos até a futura entrada no Reino Unido.

Pois bem, de acordo com o art. 5bis do RSTP, uma transferência-ponte pode ser configurada quando um mesmo atleta possuir duas transferências consecutivas, dentro de um período de 16 semanas, com o fito de fraudar entidades ou evitar a aplicação de regulamentos. É evidente que, na prática, a FIFA apreciará com cautela os casos passíveis de repreensão por essa espécie de afronta ao regulamento, ainda que no cenário apresentado, a transferência possa ser concluída fora do período mínimo.

Nitidamente, não se sabe se tais suposições por certo acontecerão, tampouco quais serão os ambientes da administração afetados por sua consequência. Fato é que esse quadro geral pós-Brexit poderá tardar em se ajustar ao contexto real, gerando cada vez mais impactos ao redor do esporte.

Imagina-se que, após o fechamento da janela de verão, a franqueza nos resultados das transferências esclarecerá a necessidade de criação de outros mecanismos, como acordos internacionais – por exemplo –, para manter o mercado da bola agitado. Ainda assim, se as atuais medidas aventadas trarão um desfecho vultuoso para o futebol inglês, só o tempo dirá.

Crédito imagem: Getty Images

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