Depois de muitos anos de disputas, uma das regras mais questionadas do esporte americano parece que chegará ao fim. A NCAA, principal entidade responsável pela organização dos esportes universitários nos EUA, finalmente aceitou flexibilizar as normas que impediam que atletas universitários ganhassem dinheiro durante os anos de faculdade.
O impedimento criado pela NCAA para que atletas faturassem com sua imagem e nome sempre foi alvo de muitas críticas e questionamentos. Nenhum desses questionamentos pareceu abalar as convicções da liga universitária. No entanto, o mercado tratou de resolver esse problema.
Assim como no Brasil, o esporte nos EUA é um dos principais caminhos de ascensão social. Muitos dos atletas que são hoje impedidos de receber quaisquer valores a título de patrocínio possuem uma vida extremamente simples, e as famílias muitas vezes dependem deles. Impedir que esses atletas recebam qualquer remuneração é impedir que suas famílias tenham uma condição de vida melhor.
Aos poucos, os atletas passaram a buscar outras alternativas. Ligas profissionais em outros países passaram a ser mais atraentes, tanto financeiramente quando esportivamente, e o crescimento da G-League também atraiu os olhares. A NCAA percebeu que, caso não mudasse sua postura, poderia perder em pouco tempo as maiores estrelas de suas competições.
Um exemplo claro foi a decisão de James Wiseman, que era cotado para ser a primeira escolha do próximo Draft da NBA. O atleta foi suspenso das competições da NCAA por ter recebido uma ajuda de seu técnico, no valor de US$ 11.500, para que pudesse se mudar para a cidade na qual a universidade estava localizada. Em razão da suspensão, Wiseman decidiu não mais disputar partidas da NCAA, abandonando a faculdade e focando exclusivamente em sua preparação para o Draft.
Esse talvez tenha sido apenas um entre tantos sinais de alerta para o Conselho de Gestores da NCAA, mostrando que sua competição era cada vez menos relevante para os atletas. Mas é emblemático para a discussão da possibilidade de remuneração. Estrela colegial, Wiseman poderia facilmente receber algumas dezenas de milhares de dólares de patrocinadores antes da universidade, mas em razão da vedação, não teria dinheiro sequer para fazer a mudança para Memphis.
E parece que realmente foi a gota d’água. Caso a recomendação do Conselho de Gestores seja acatada, os atletas ainda continuarão proibidos de receber dinheiro de suas universidades, o que é razoável, mas poderão receber verbas de patrocínio e realizar outras atividades remuneradas. Isso vai impedir novas suspensões como a de Wiseman, mas também vai incentivar atletas como LaMelo Ball, outro potencial primeiro escolhido do Draft, a jogarem suas competições.
Ganham os atletas, ganham as universidades, ganha o mercado e também ganha a NCAA.