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Taxa de sobrevivência de técnicos no Brasil nos últimos 10 anos é de 23%

Um dos grandes problemas do futebol brasileiro é a falta de planejamento de grande parte dos clubes. A falta de convicção dos dirigentes aliada com a pouca paciência de torcedores e imprensa gera o cenário perfeito para a alta rotatividade de técnicos no comando dos times brasileiros. Em média, os clubes brasileiros trocam de treinador duas vezes por ano, uma vez a cada semestre, é o que mostra estudo da Pluri consultoria. Apenas 8% dos treinadores tem média de permanência maior que um ano.

No começo de 2019, no Conselho Técnico da Série A do Campeonato Brasileiro, os clubes vetaram a proposta da CBF de limitar em uma vez a quantidade de troca de técnico por equipe durante a edição deste ano. “Colocar regra ajuda, sem dúvida. Esse relatório caiu como uma bomba no curso dos técnicos da CBF”, afirma Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri.

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Abel Braga, Fernando Diniz e Zé Ricardo são alguns dos treinadores que dirigiram dois clubes neste Campeonato Brasileiro. Rogério Ceni deixou o Fortaleza em 11 de agosto, foi para o Cruzeiro e voltou para o Fortaleza em 29 de setembro.

Dos 43 treinadores que passaram por grandes clubes em 2010, apenas 10 (23%) comandaram alguma dessas equipes em 2019.

No Brasil, a rotatividade de técnicos, consagrados ou não, faz com que poucos clubes tenham continuidade no trabalho. E o modelo de jogo pouco importa na hora da escolha. O São Paulo começou o ano com André Jardine, cria das categorias de base do clube, que prometia grande utilização dos jovens formados em Cotia. Passou por Vágner Mancini, contratado para ser executivo de futebol, mas que assumiu o time depois da eliminação precoce na Libertadores, enquanto Cuca não tinha liberação médica para trabalhar. Em abril, com a alta dada pelo médico, Cuca começou o trabalho, que foi interrompido no segundo semestre. Chegou então Fernando Diniz.

Vágner Mancini, apesar dos 10 anos de trabalho nos grandes clubes, teve apenas 7 meses de média de permanência no cargo, enquanto Tite é o treinador brasileiro com a maior média de duração de trabalho em grandes clubes brasileiros nos últimos 10 anos, com 27,6 meses em suas duas passagens pelo Corinthians.

O Cruzeiro, por exemplo, teve quatro técnicos no Campeonato Brasileiro. Começou com Mano Menezes, teve passagens relâmpago de Rogério Ceni e Abel Braga e, faltando três rodadas para o fim da competição, resolveu partir para o quarto técnico e escolheu Adilson Batista para tentar livrar o clube da queda para a Série B, o que não aconteceu.

“O senso comum é que a dança das cadeiras não ajuda o produto futebol. Por isso que os jogadores só podem se transferir na janela, no máximo jogar por dois times por temporada”, analisa o advogado trabalhista Carlos Ambiel.

BahiaSantos e Grêmio são os únicos times que não trocaram de treinador nesta edição do Campeonato Brasileiro. Roger Machado, Jorge Sampaoli e Renato Gaúcho conseguiram a manutenção no cargo. Vinte e dois técnicos dirigiram pelo menos um time no Brasileiro de 2019, isso sem contar os interinos. Nem mesmo o Flamengo, campeão Brasileiro, escapou da dança dos técnicos. O rubro-negro começou o torneio com Abel Braga no comando, passou pelo interino Marcelo Salles e encontrou o caminho para o título nacional e da Libertadores com o português Jorge Jesus.

Nos últimos 10 anos, os clubes brasileiros utilizaram, em média, 18,7 treinadores. Corinthians e Grêmio foram os clubes que menos trocaram de técnico: 11 vezes. Santos, com 12; Atlético-MG, Palmeiras e Cruzeiro, com 14, completam os seis primeiros.

Entre os vinte clubes analisados, o Ceará, com 29 trocas é o líder em mudanças seguido por e Sport e Vitória com 26.

E o estudo da Pluri mostra que ainda existe uma refração aos treinadores jovens, já que a média de idade dos técnicos contratados durante o período foi de 51,6 anos.

“Eu acho que é absolutamente razoável regular a inscrição e troca de treinadores. Não vejo como um problema, inclusive entendo que será benéfico para os próprios treinadores, uma vez que dará mais estabilidade em suas posições atuais. E o assunto limite ao exercício profissional me parece superado na medida em que há janelas de transferência para atletas e nunca houve qualquer problema em relação a isso. A falta de interesse é dos próprios dirigentes. Os técnicos hoje são usados como escudos da diretoria. Quando a coisa não vai bem, demite-se o técnico. A criação de janelas de inscrição para técnicos fará com que a responsabilidade recaia sobre a diretoria, o que parece não ser interessante para aqueles que aprovam os regulamentos”, dispara o especialista em direito esportivo Vinícius Loureiro.

Mas essa proposta de limitar as trocas de comando nos clubes pode esbarrar no conjunto de leis mais importante do país, como conta o advogado especialista em direito trabalhista Domingos Zainaghi.

“Eu posso te dizer que fere, sim, o artigo 5º da Constituição quando fala no inciso treze da liberdade de trabalho. Uma norma que limite a troca de técnicos, com certeza fere o direito da pessoa trabalhar”, alertou Zainaghi.

A aprovação de uma regra como essa poderia ser vista como inconstitucional e quem quisesse poderia impetrar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, questionando a validade de tal medida.

“As pessoas aplicam a lei e observam. Mas para mim, fere a o artigo 5º da Constituição. Há inúmeras regras que violam a Constituição e continuam a ser respeitadas. Mas nem por isso deixam de ser inconstitucionais”, finaliza Martinho Neves.

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