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Triste como um Tango

O poeta argentino Henrique Discépolo disse que “o Tango é um pensamento triste que se pode dançar”. Trata-se ao mesmo tempo de um estilo musical e de uma dança que simboliza paixão, amargura e tristeza.

O Tango reforçou um estereótipo do pensamento e da vida argentina, marcada por dramas, paixões e sofrimentos tais como as perdas de Gardel e Evita, o Peronismo, a guerra das Malvinas e sua economia que nunca consegue se erguer.

Entretanto, ninguém corporificou o protótipo do jeito argentino de ser tão bem como Diego Armando Maradona. Um ídolo que despertou a paixão do seu povo, mas que também teve a vida marcada pelo sofrimento e pela dramaticidade.

Embora tivesse sido um gênio inquestionável, Maradona teve uma carreira em alto nível por um tempo relativamente curto. Infelizmente, o homem não aguentou o peso do ídolo, que se lhe sobrepôs e o sufocou. Maradona se envolveu com drogas, álcool e doping… perdendo-se no meio do mito que construiu com a sua genialidade.

Isto não quer dizer, entretanto, que se possa culpá-lo por haver saído dos trilhos. Não sei se eu ou você estivéssemos na mesma situação que ele, não teríamos nos perdido. Todos ou quase todos nós queremos ter fama, dinheiro, prestígio e poder. Mas será que estamos preparados para tanto?

Imaginem como deve ter sido complicado para um garoto que passava fome no subúrbio de Buenos Aires, morando com sete irmãos numa casa sustentada por um pedreiro, alcançar em poucos anos o estrelato mundial, ganhar muito dinheiro e ver-se cercado pela imprensa, políticos e tantos amigos de ocasião?

E se você estivesse no lugar dele? Seria que você também não enlouqueceria? Os grandes ídolos que resistiram a tantas tentações possuem em comum o fato de que tiveram um suporte próximo e constante de sua família. Não parece ter sido o caso de Maradona.

Maradona não ficou sozinho nessa. Michael Jackson, Elvis Presley e Garrincha, por exemplo, sucumbiram diante do mito que criaram. No mundo do entretenimento em geral, há muitas tentações e ruelas cheias de esquinas perigosas. É preciso ter elevada estrutura psicológica para não se perder no meio delas.

Como um dançarino de Tango, Diego conseguiu com seus dribles fazer coreografias inimagináveis, mas não escapou da “Dolce Vita”, que acabou não sendo para ele tão doce assim.

Nos últimos anos apresentou-se completamente desfigurado, aparentando em muitos momentos estar fora de si, com o olhar perdido para um passado que preservou o ídolo, mas destruiu o homem.

Eis uma lição sobre as agruras que Maradona passou e que deveriam ser aprendidas por todos. Os jogadores são moldados física e tecnicamente para brilhar, mas poucos são aqueles que são preparados psicologicamente para o sucesso.

Preservemos os nossos ídolos, mas não deixemos que os homens que estão por dentro deles se destruam.

Para que não tenham um final triste.

Triste como um melancólico Tango argentino.

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