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VAR vendo, vai vendo – já leu o que diz a regra sobre o var ou somente escutou comentários sobre o protocolo?

Como falar de algo que desconhecemos ou que conhecemos somente por meio de comentários aqui ou ali? Como gerar ou entrar em uma discussão sobre aquilo que não dominamos?

Neste fim de semana, o VAR entrou em ação no Campeonato Paulista 2019, fato histórico, sem dúvida. Gerou polêmicas? Sim, gerou, e para quem acompanhou a Copa do Mundo e segue outros campeonatos que já utilizam dessa tecnologia, sabe que as polêmicas diminuíram com o seu uso, mas comprovaram que não acabaram.

O VAR é uma nova realidade em que o tempo para adaptação se faz necessário por parte de todos: árbitros, jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores, mídia e todos que acompanham o futebol.

Muitas vezes tendo uma imagem clara ainda cabe interpretação. E quando a imagem não é conclusiva, qual decisão tomar se há o VAR para ajudar?

Que tal ler o texto da regra sobre o VAR? Que tal conhecer o que diz a FIFA e a BOARD sobre o assunto e assim ter subsídios para tirar suas próprias conclusões e parâmetros para dialogar sobre o que acontece nos jogos?

A seguir observa-se o protocolo: Princípios, Práticas e Procedimentos do VAR. O texto é grande, mas fundamental para quem gosta de futebol e quer entender o VAR.

Aqui não se encerra o assunto VAR, mas sim se torna apenas o começo para novos artigos e discussões, pois ainda se tem muito o que ver, falar e comentar.

Árbitro Assistente de Vídeo – AAV (VAR)

Na medida do possível, o protocolo do VAR se adapta aos princípios e à filosofia das Regras do Jogo.

O uso dos árbitros assistentes de vídeo (VARs) somente é permitido em situações em que o organizador da partida/competição tenha cumprido todas as exigências do protocolo e de implementação do VAR (conforme estipulados no Manual do VAR) e obteve permissão, por escrito, do The IFAB e da FIFA.

Princípios

O uso dos VARs em partidas de futebol se baseia em vários princípios, todos os quais deverão ser aplicados em cada partida que utilize os VARs.

1. Um árbitro assistente de vídeo (VAR) é um árbitro de partida que possui acesso independente às imagens gravadas da partida, o qual poderá auxiliar o árbitro apenas na eventualidade de um “erro claro e óbvio” ou “incidente grave não percebido” relativo a:

a. Gol/não foi gol
b. Pênalti/não foi pênalti
c. Cartão vermelho direto (não o segundo cartão vermelho/advertência)
d. Identidade equivocada (quando o árbitro adverte ou expulsa o jogador errado da equipe infratora)

2. O árbitro deverá sempre tomar uma decisão, ou seja, o árbitro não poderá conceder uma “não decisão” e, em seguida, utilizar o VAR para tomar a decisão; uma decisão para seguir com o lance após uma suposta infração pode ser revisada.

3. As decisões originais tomadas pelo árbitro não mudarão, a menos que a revisão de vídeo claramente mostre que a decisão foi um “erro claro e óbvio”.

4. Apenas o árbitro poderá dar início a uma “revisão”; o VAR (e os outros árbitros da partida) podem apenas recomendar uma “revisão” ao árbitro.

5. A decisão final sempre é tomada pelo árbitro, ou com base nas informações do VAR, ou após o árbitro ter realizado uma “revisão no campo de jogo” (OFR).

6. Não há restrição de tempo para o processo de revisão, já que a precisão é mais importante do que a velocidade.

7. Os jogadores e os árbitros da partida não devem rodear o árbitro ou tentar influenciar caso uma decisão seja revisada, o processo de revisão ou a decisão final.

8. O árbitro deverá permanecer “visível” durante o processo de revisão, a fim de garantir transparência.

9. Caso o jogo continue após um incidente que, então, é revisado, toda ação disciplinar tomada/exigida durante o período pós-incidente não será anulada, mesmo que a decisão original seja mudada (exceto por uma advertência/expulsão por parar um ataque promissor ou DOGSO).

10. Caso o jogo tenha sido parado e foi reiniciado, o árbitro não poderá realizar uma “revisão”, exceto em casos de identidade equivocada ou por possíveis infrações passíveis de expulsão, relativas a condutas violentas, cusparadas, mordidas ou gestos extremamente ofensivos, injuriosos e/ou abusivos.

11.O período de jogo antes e após um incidente passível de revisão é estipulado nas Regras do Jogo e no protocolo do VAR.

12. Como o VAR irá automaticamente “verificar” toda situação/decisão, não há necessidade para técnicos ou jogadores solicitarem uma “revisão”.

Decisões/incidentes revisáveis capazes de mudar o rumo de uma partida

O árbitro poderá obter auxílio do VAR somente com relação a quatro categorias de decisões/incidentes capazes de mudar o rumo de uma partida.

Em todas essas situações, o VAR somente é usado após o árbitro ter tomado uma decisão (inicial/original) (inclusive permitindo a jogada a continuar), ou se um incidente grave não percebido/não foi visto pelos árbitros da partida.

A decisão original do árbitro não mudará, a menos que tenha havido um “erro claro e óbvio” (isso inclui toda decisão tomada pelo árbitro com base nas informações de outro árbitro da partida, como, por exemplo, impedimentos).

As categorias de decisões/incidentes que podem ser revisadas em caso de um possível “erro claro e óbvio” ou de um “incidente grave não percebido” são:

a. Gol/não foi gol
Toda infração pela equipe que marcou o gol no ataque que culminou
em um gol marcado, incluindo:
• Infração pela equipe atacante na jogada que levou a ou na marcação
do gol (bola na mão, falta etc.).
• Posição de impedimento e infração
• Bola fora de jogo antes do gol
• Decisões de gol/não foi gol
b. Tiro penal/não foi tiro penal
• Tiro penal marcado incorretamente
• Infração de tiro penal que não foi punida
• Localização da infração (dentro ou fora da grande área)
• Infração pela equipe atacante na jogada que culminou no incidente de pênalti
• Bola fora de jogo antes do incidente
• Infração pelo goleiro e/ou cobrador do pênalti na hora de cobrar o tiro penal
• Invasão por um atacante ou defensor, que fica diretamente envolvido na jogada em caso de o tiro penal dar rebote da trave, travessão ou do goleiro
c. Cartões vermelhos diretos (não o segundo cartão amarelo/advertência)
• DOGSO (especialmente em posição de infração e posições de outros
jogadores)
• Jogada grave de falta (ou entrada imprudente)
• Conduta violenta, morder ou cuspir em outra pessoa
• Uso de gestos ofensivos, injuriosos ou abusivos
d. Identidade equivocada (cartão vermelho ou amarelo)

Caso o árbitro penalize uma infração e, em seguida, mostrar ao jogador equivocado da equipe infratora (penalizada) um cartão amarelo ou vermelho, a identidade do infrator poderá ser revisada; a infração, por si só, não pode ser revisada a menos que diga respeito a um gol, incidente de pênalti ou cartão vermelho direto.

Praticabilidades

O uso dos VARs em uma partida implica as seguintes providências práticas:

• O VAR observa a partida da sala de operação de vídeo (VOR), auxiliado por um assistente de VAR (AVAR) e por um operador de replay (RO)
• Dependendo do número de ângulos de câmera (e outros fatores), pode haver mais de um AVAR ou RO
• Apenas pessoas autorizadas têm permissão para entrar na VOR ou falar com o VAR/AVAR/RO durante a partida
• O VAR possui acesso independente a, além de controle do replay das imagens gravadas da transmissão de TV
• O VAR está conectado com o sistema de comunicação sendo utilizado pelos árbitros da partida e pode ouvir tudo que dizem: o VAR consegue falar com o árbitro apenas se pressionar o botão (para evitar que o árbitro se distraia devido às conversas na VOR)
• Caso o VAR se encontre ocupado com uma “verificação” ou uma “revisão”, o AVAR poderá falar com o árbitro, especialmente se a partida precisar ser parada ou para garantir que o jogo não reinicie
• Caso o árbitro decida ver o replay das imagens gravadas, o VAR irá escolher as melhores velocidades de ângulos/replays; o árbitro poderá solicitar outras velocidades/ângulos adicionais

Procedimentos

Decisão Original

• O árbitro e os outros árbitros da partida sempre devem tomar uma decisão inicial (incluindo toda ação disciplinar) como se não houvesse um VAR (exceto por um incidente “não percebido”)
• O árbitro e os outros árbitros da partida não podem conceder uma “não decisão”, já que isso irá resultar em uma arbitragem “fraca/indecisa”, “revisões” em excesso e problemas consideráveis, caso ocorra uma falha com a tecnologia
• O árbitro é a única pessoa que poderá tomar a decisão final; o VAR possui o mesmo nível que o dos outros árbitros da partida e pode apenas auxiliar o árbitro
• Atrasar levantar a bandeirinha/apitar devido a uma infração só é permitido em uma situação muito clara de ataque, na qual um jogador está prestes a marcar um gol ou tem o caminho desobstruído rumo/para dentro da grande área da equipe adversária
• Caso um árbitro assistente atrase levantar a bandeirinha por uma infração, o árbitro assistente deverá levantar a bandeirinha caso ocorra um gol/pênalti/escanteio ou tiro livre ou arremesso lateral de ataque, já que essa decisão servirá como base para toda “verificação/revisão”

Verificação

• O VAR automaticamente “verifica” as imagens gravadas da câmera de TV por todo possível ou real gol, pênalti ou decisão/incidente de cartão vermelho direto, ou em caso de identidade equivocada, utilizando diferentes ângulos de câmera e velocidades de replay
• O VAR poderá “verificar” as imagens gravadas em velocidade normal e/ou em câmera lenta, entretanto, de forma geral, replays em câmera lenta somente devem ser usados em casos de fatos, como, por exemplo, em posição de infração/jogador; ponto de contato para infrações físicas e mão na bola, bola fora de jogo (incluindo gol/não foi gol); a velocidade normal deve ser usada para a “intensidade” de uma infração ou para decidir se uma bola na mão foi proposital
• Caso a “verificação” não indique um “erro claro e óbvio” ou um “incidente grave não percebido”, normalmente, não há necessidade para o VAR se comunicar com o árbitro – isso é uma “verificação silenciosa”; entretanto, às vezes ajuda o árbitro/árbitro assistente administrar os jogadores/a partida o fato de o VAR confirmar que não ocorreram um “erro claro e óbvio” ou um “incidente grave não percebido”
• Caso o reinício do jogo precise ser adiado por motivos de uma “verificação”, o árbitro irá sinalizar isso, claramente colocando um dedo no fone de ouvido/auricular e levantando a outra mão/braço; esse gesto deverá ser mantido até que a “verificação” seja concluída, já que mostra que o árbitro está recebendo informações (que podem ser provenientes do VAR ou de outro árbitro da partida)
• Caso a “verificação” indique um provável “erro claro e óbvio” ou um “incidente grave não percebido”, o VAR irá comunicar essa informação (mas não a decisão a ser tomada) ao árbitro, o qual, em seguida, irá decidir se irá dar início ou não a uma “revisão”

Revisão

• O árbitro poderá dar início a uma “revisão” por um possível “erro claro e óbvio” ou por um “incidente grave não percebido” em casos em que:
> O VAR (ou outro árbitro da partida) recomende uma “revisão”
> O árbitro suspeite que algo sério passou despercebido
• Caso o jogo já tenha sido parado, o árbitro atrasa o reinício
• Caso o jogo ainda não tenha sido parado, o árbitro para o jogo quando a bola se aproximar de uma área/situação neutra (normalmente, quando nenhuma das equipes está atacando)
• Em ambas as situações, o árbitro deverá sinalizar que uma “revisão” terá início, mostrando claramente o “sinal/gesto de TV” (formato de uma tela de TV)
• O VAR descreve ao árbitro o que pode ser visto no(s) replay(s) da TV, mas não a decisão a ser tomada, e, então, o árbitro:
> toma uma decisão final com base na própria percepção do árbitro e nas informações do VAR e, se for o caso, em opiniões de outros árbitros da partida – revisão apenas do VAR
ou
> vai até a área de revisão do árbitro para ver as imagens gravadas do replay – a “revisão no campo de jogo” (OFR) – antes de tomar a decisão final. Os outros árbitros da partida não irão verificar as imagens gravadas, a menos que, em circunstâncias excepcionais, o árbitro lhes peça para assim proceder.
• Ao fim de ambos os processos de revisão, o árbitro deverá mostrar o “sinal/gesto de TV” de novo, imediatamente seguido pela decisão final
• Para decisões factuais, ou seja, posição de uma infração ou de um jogador (impedimento), ponto do contato (mão na bola/falta), localização (dentro ou fora da grande área), bola fora de jogo etc., normalmente se recomenda uma revisão apenas do VAR, entretanto, uma “revisão no campo de jogo” (OFR) poderá ser usada para uma decisão factual caso ela ajude a administrar os jogadores/a partida ou para “vender” a decisão (por exemplo: uma decisão fundamental capaz de mudar o rumo da partida tomada no fim da partida)
• Para decisões subjetivas, como, por exemplo, intensidade de uma entrada, interferência em impedimento, considerações acerca de bola na mão (posição, intenção etc.), normalmente se recomenda uma “revisão no campo de jogo” (OFR)
• O árbitro pode solicitar diferentes ângulos de câmera/velocidades de replay, entretanto, de forma geral, replays em câmera lenta só devem ser usados em relação a fatos, como, por exemplo, posição de infração/ jogador, ponto de contato para infrações físicas e mão na bola, bola fora de jogo (inclusive gol/não foi gol); velocidade normal deve ser usada para a “intensidade” de uma infração ou para decidir se uma bola não mão foi “deliberada”
• Para decisões/incidentes relativos a gols, pênalti/não foi pênalti e cartões vermelhos por impedir uma clara oportunidade de marcar um gol (DOGSO), poderá ser necessário revisar o movimento de ataque da jogada que culminou diretamente na decisão/no incidente; isso poderá contemplar como a equipe atacante obteve a posse da bola na jogada aberta
• As Regras do Jogo não permitem mudanças de decisões de reinício (escanteios, arremessos laterais etc.) após o reinício do jogo, então eles não podem ser revisados
• Caso o jogo tenha parado e reiniciado, o árbitro poderá apenas dar início a uma “revisão” e tomar a medida disciplinar adequada para casos de identidade equivocada ou por infrações passíveis de expulsão relacionadas a condutas violentas, cusparadas, mordidas ou gestos extremamente ofensivos, injuriosos e/ou abusivos
• O processo de revisão deverá ser concluído da forma mais eficaz possível, entretanto, a precisão da decisão final é mais importante do que a velocidade. Por esse motivo, e devido ao fato de algumas situações serem mais complexas, trazendo várias decisões/incidentes revisáveis, não há uma restrição de tempo para o processo de revisão

Decisão final

• Assim que o processo de revisão tiver sido concluído, o árbitro deverá mostrar o “sinal/gesto de TV” e comunicar a decisão final
• Em seguida, o árbitro irá tomar/mudar/anular toda ação disciplinar (se apropriado) e reiniciar o jogo de acordo com as Regras do Jogo

Substitutos e oficiais de equipe

• Como o VAR irá automaticamente “verificar” cada situação/incidente, não há necessidade para os técnicos ou jogadores solicitarem uma “verificação” ou “revisão”
• Jogadores, reservas e integrantes da equipe não devem tentar influenciar ou interferir com o processo de revisão, inclusive no momento em que a decisão final é comunicada
• Durante o processo de revisão, os jogadores devem permanecer no campo de jogo; reservas e integrantes da equipe devem permanecer fora do campo de jogo
• Um jogador/reserva/jogador substituído que mostre excessivamente o sinal/gesto de TV ou entre na RRA será advertido
• Um integrante da equipe que mostre excessivamente o sinal/gesto de TV ou entre na RRA será publicamente e oficialmente advertido (ou punido, em casos em que cartões amarelos e vermelhos para integrantes da equipe estiverem em uso)
• Um jogador/reserva/jogador substituído que entre na VOR será expulso; um integrante da equipe que entre na VOR será retirado da área técnica

Validade da partida

Em princípio, uma partida não será invalidada devido a:

• Falha(s) na tecnologia do VAR (no que tange à tecnologia de linha de gol (GLT)
• Decisão(ões) incorreta(s) implicando o VAR (já que o VAR é um árbitro da partida)
• Decisão(ões) de não revisar um incidente
• Revisão(ões) de uma situação/decisão não revisável.

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