O Rangers Football Club viveu, na última quarta-feira (18), um de seus melhores momentos nos últimos anos. O tradicional clube da Escócia, que teve que recomeçar sua história há 10 anos por conta de problemas financeiros, voltou a decidir uma competição continental depois de muito tempo ao enfrentar o Eintracht Frankfurt na final da Europa League na temporada atual e é um grande exemplo para clubes brasileiros que, em situação difícil, buscam as Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) para voltarem a ter seus dias de glórias.
“Aqui temos alguns aspectos que precisam ser encadeados. Começamos pelo fato do clube falir e ter que recomeçar lá da primeira casa. Faz parte de um sistema justo, que pune de forma exemplar quem não segue as regras. No Brasil das associações nós teríamos vários casos assim se fôssemos menos omissos e benevolentes com más gestões no futebol. Retornar após a queda é sempre complexo, pois requer reestruturações de diversos níveis, do financeiro ao esportivo, e depende muito da estrutura das competições. O Rangers demorou 10 anos, mas clubes como o Napoli retornaram rapidamente à primeira divisão. Agora, o que realmente precisa ficar claro para os torcedores é que a tendência é sempre ser um processo lento. E calibrar essa expectativa é fundamental para atingir resultados sustentáveis”, avalia o economista Cesar Grafietti.
“O modelo de negócio de uma organização, neste caso de um clube de futebol profissional, envolve recursos e competências intangíveis (marca, história, reputação, cultura, etc.), tangíveis (instalações, equipamentos, etc.), financeiros e humanos. Todos esses elementos geram custos e exigem atenção à equação do lucro (equilíbrio no caso do futebol). Estes elementos são estruturados de duas maneiras: 1) através da definição das atividades internas (de acordo com o objetivo da organização) e 2) por meio de atividades externas que correspondem as relações com aliados ou parceiros (rede de valor). Já a proposta de valor questiona a oferta da organização, seus ‘clientes’ e como ter acesso a eles. Em termos gerais, a oferta pode, portanto, incluir os produtos e serviços (espetáculo esportivo como o principal) e todos os outros serviços ao seu redor. Assim, o resultado das decisões sobre a proposta de valor se torna a fonte de receita”, afirma Fernando Cezar, doutorando em ciências de gestão e especialista em ecossistema e modelo de negócios, que acrescenta:
“Neste contexto, existe um ecossistema onde essas ações são colocadas em prática por organizações heterogêneas que se relacionam entre si e frequentemente alteram suas posições e relações buscando o alinhamento de propostas diferentes. Da mesma forma que a Liga, o Fair Play Financeiro, os patrocinadores e investidores, os sindicatos e as instituições esportivas, etc., a SAF é um elemento importante dentro do todo. Porém, se torna algo limitado se abordada de forma isolada ou como uma solução para problemas estruturais de gestão, pois cada um entrega a sua parcela de valor dentro deste ambiente maior. O fortalecimento do ecossistema como um todo e o equilíbrio entre alinhamento dessas organizações é o que realmente pode fazer a diferença e não somente a forma como um clube está organizado em relação a sua estrutura societária”.
Em 2012, o Rangers chegou ao fundo do poço de seus 150 anos. Gestões passadas deixaram o clube com mais de 140 milhões de libras em dívidas, que tinham entre os seus credores o fisco britânico até uma pequena loja próxima à sede do clube, o Ibrox Stadium. A situação era muito complicada e as autoridades do país rejeitaram o plano de recuperação financeira proposta pelo time de Glasgow, que não teve outra opção a não ser decretar falência.
Sem perspectivas de futuro, o Rangers acabou sendo comprado por um grupo de empresários e teve que recomeçar sua história na 4ª divisão do Campeonato Escocês antes da temporada 2012/13. Como se não bastasse isso, o clube ainda ficou uma temporada impedido de fazer contratações como forma de punição.
Esse movimento já é bastante comum na Europa e deve se tornar cada vez mais conhecido por aqui à medida que os clubes se transformem em empresas. Atualmente, diversos clubes tradicionais do futebol brasileiro se encontram na mesma situação do Rangers em 2012. Na maioria dos casos, más gestões criam, ao passar dos anos, passivos gigante aos cofres das instituições, condenado o futuro das mesmas. Nesse cenário, os times enxergam nas SAFs a salvação de seus problemas financeiros.
Volta à elite do futebol escocês
O retorno do Rangers à elite do futebol do país aconteceu na temporada 2016/17. A chegada ao topo foi quase que perfeita. Conquistou a 4ª divisão em 2013 e a 3ª em 2014. No entanto, em 2015, falhou na primeira vez que disputou a 2ª e não conseguiu o acesso. Nesse período, o clube viu seu maior rival, o Celtic, empilhar taças e dominar as competições locais.
Apesar do retorno relativamente rápido à primeira divisão do futebol do país, as consequências deixadas pela falência demoraram para perderem seus efeitos. O primeiro título nacional só veio na temporada passada (2021/22), derrubando o jejum que já durava dez anos. Foi essa conquista que colocou o Rangers na competição continental.
Um dos nomes mais importantes do processo de retomada do Rangers foi o do técnico Steven Gerrard, ex-jogador e uma das maiores lendas do futebol inglês. Ele assumiu o comando técnico do clube em 2018 e rapidamente se sagrou campeão. Sua passagem foi encerrada na atual temporada, ao se transferir para o Aston Villa. Agora, o time também é comandando por um ex-atleta, o holandês Giovanni van Bronckhorst, responsável pela trajetória que levou o Rangers ao vice-campeonato da Europa League.
Crédito imagem: SNS Group
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