O Flamengo deu nos últimos anos muita alegria ao seu torcedor. Resultado também de uma política efetiva de governança feita lá atrás, que merece aplausos. Mas nada disso apaga um erro gravíssimo que o clube insiste em não corrigir.
Tem coisas na vida que deveriam ser inegociáveis, tanto na PF quanto na PJ. Uma delas é o certo pelo certo e a outra a reputação.
A reputação é construída com seriedade, ética, mas também com responsabilidade social.
Neste dia 8 se completa 5 anos do absurdo que ficou conhecido como a “Tragédia do Ninho do Urubu”. Depois de um incêndio no alojamento do Centro de Treinamento da base do clube, morreram dez jovens atletas. O presidente do clube, Rodolfo Landim, definiu o caso “como a maior tragédia dos 123 anos de história do rubro-negro”.
Completando todo esse tempo da tragédia, ainda não houve acordo com uma das 10 famílias das vítimas. O acordo com as outras nove famílias também foi demorado e doloroso.
A família que ainda não fechou acordo pede um valor que o clube alega que ser “exorbitante” e não aceitou a oferta. Vale lembrar que o cálculo da indenização é feito com base em uma “projeção de carreira”, algo que no direito civil é tratado como direito de indenizar por “perda de chance”, e está regulado no nosso Código Civil.
Mas a reflexão aqui vai além do direito. É sobre escolha. É sobre postura. É sobre compromisso.
Para mim, é claro, e óbvio: não se paga a ninguém pela morte de um filho. A perda é incalculável. O direito se esforça a fim de fazer uma matemática para tentar colocar um pouco de lógica na questão, em um exercício de imaginação de um ganho futuro. A ideia é, pelo menos, aliviar o prejuízo financeiro da perda.
O Flamengo insiste em negociar com algo que não se negocia: o valor de uma perda irreparável.
O clube não soube, desde o fatídico 8 de fevereiro, lidar com a tragédia. E gestão profissional também passa por aí.
Depois de uma tragédia dessas, é fundamental lidar com os danos. E o dinheiro funciona não para pagar uma dívida que não tem preço, mas para mostrar o sentimento, a dor compartida, assumir o erro, pedir desculpas, se posicionar de maneira honesta diante do fato.
Calcular nessa hora não é tratar o caso como ele merece. E isso fica pior quando o clube mostra que dinheiro não é um limitador para essa negociação.
O Flamengo investiu cerca de centenas de milhões de reais para montar times vencedores.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra? Tenho certeza de que todo torcedor do Flamengo, que ama seu clube e também se preocupa com sua administração e história, sabe que tem.
Investir no futebol, com o clube saudável financeiramente, é uma escolha legítima de qualquer direção. Esse não é o problema. É até um dever de um clube que tem como natureza o espírito competitivo, e uma história de conquistas para honrar.
O problema é deixar de colocar dinheiro em outra questão que também é urgente, a responsabilidade social. A reputação do clube.
Insistir em negociar e não fazer uma reparação histórica, assumindo erro e mudando rota não condiz com um
clube que tem dinheiro, história, torcida e uma reputação a zelar.
Afinal, o Flamengo será sempre o time da massa.
Crédito imagem: Esportes R7
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