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A hora de parar uma luta: a importância do árbitro no MMA

O UFC 281 ocorrido no sábado, 12 de novembro de 2022, dentro do Madison Square Garden em Nova York, foi um show repleto de ação.

No evento, todos os olhos estavam voltados para o campeão dos pesos médios, Israel Adesanya, para ver se ele poderia finalmente derrotar Alex “Poatan” Pereira, lutador brasileiro que o assombrou durante sua carreira de kickboxing e deu-lhe sua primeira derrota por nocaute.

Durante a luta, Adesanya parecia estar no controle e a caminho de uma vitória clara e unânime, ao mesmo tempo em que obtinha a vingança que há muito desejava.

Porém, duro como o destino é às vezes, “Poatan” conseguiu, no quinto e último round, machucar Adesanya com um potente gancho de esquerda, continuando a sequência com vários golpes de mãos precisos, que forçaram o árbitro Marc Goddard a intervir e colocar um fim à luta pelo título.

Adesanya protestou imediatamente acerca da intervenção do árbitro, assim se pronunciando:

“Eu só estava tentando manter-me em movimento e quando ele parou, a primeira coisa que eu fiz foi: ‘Estou bem, árbitro. Eu estou bem. Que diabos?'” ele continuou. “Novamente, eu sou um campeão, você [Marc Goddard] arbitrou – eu não o culpo, Marc é um bom árbitro – a luta com Gastelum. Você já viu para eu posso ir, você deveria ter esse tipo de fé em mim. E também, você deu a Kelvin Gastelum todas as chances depois que ele caiu mais do que em qualquer luta pelo título na história do UFC. Eu não fui ao chão. Sim, fiquei atordoado, mas foi por causa da minha perna. Fui atingido com grandes golpes por causa da minha perna. (tradução livre)

Sobre a interrupção da luta pelo árbitro Marc Goddard, assim dispõem as “Regras Unificadas das Artes Marciais Mistas (UNIFIED MMA RULES)”, que regulam os eventos do UFC:

REGRAS UNIFICADAS DE ARTES MARCIAIS MISTAS

(…)

  1. Tipos de decisões

(…)

  1. Nocaute Técnico (TKO) por:

  2. Parada do árbitro: o árbitro para o a luta porque o combatente NÃO ESTÁ SE DEFENDENDO DE FORMA INTELIGENTE;

Conforme se denota, a regra permite que o árbitro interrompa a luta se este notar que o atleta não está se defendendo de maneira inteligente.

Desta feita, Goddard interpretou que os movimentos que o já atordoado e talvez concussionado (seu olhar ficou vago com o primeiro gancho recebido durante a sequência, um sintoma de concussão) campeão fazia não o livrariam do iminente perigo de novos golpes que poderiam deixá-lo em um estado pior, optando o árbitro por encerrar o combate.

O profissional apto a para a luta precisa levar em consideração que o MMA é um esporte de combate, e que a superação individual é característica fundamental presente nos atletas e artistas marciais, sob risco de, erroneamente, interromper uma luta precocemente (prejudicando a carreira do atleta), ou muito pior, tardiamente, (colocando em risco a integridade física do atleta) (LASMAR et al., 2022, p. 633-634[1]).

O formato aberto e de contato completo do esporte resulta em taxas relativamente altas de lesões e experiências quase constantes de dor para seus praticantes.

Embora as frequentes incidências de lesões cerebrais sejam de particular preocupação contemporânea, os lutadores correm rotineiramente o risco de fraturas ou ossos quebrados; músculos, tendões e lesões ligamentares; danos a seus outros órgãos e outros problemas além disso.

É importante para o sucesso comercial do esporte que os fãs e comentaristas do MMA valorizem lutas que mostram não só as habilidades dos atletas, mas também sua resistência física e mental.

Isto se traduz em lutas em que os atletas têm uma performance equilibrada e tecnicamente proficiente, danificando-se visivelmente uns aos outros, mas continuam lutando independentemente disso.

Quando um lutador absorve e sobrevive aos danos dos ataques de outrem, particularmente antes de uma reviravolta, as lutas são consideradas de alto valor de entretenimento devido a seu drama e imprevisibilidade. Isto tem sido identificado como um fator-chave no prazer dos espectadores do MMA.

Nesse caso, discutir o papel do árbitro é essencial, pois sua preocupação deve ser a de proteger a segurança dos combatentes.

Isto é definido em grande parte em termos de resultados de lutas que envolvam danos mínimos, garantindo que os combatentes possam continuar com suas rotinas diárias regulares (de trabalho, vida familiar e treinamento ou competição) após cada luta.

Esta preocupação com a segurança se traduz em numerosas responsabilidades, mas envolve em grande parte o trabalho do árbitro no cage.

Uma vez lá dentro, os árbitros são encarregados de cuidar de perto do desdobramento do combate, observando e interpretando os movimentos e gestos dos lutadores, a fim de saber quando demandar uma pausa na ação ou parar completamente uma luta.

De acordo com as já citadas “Regras Unificadas das Artes Marciais Mistas”, tais “paralisações” são decretadas quando um lutador não é mais ser capaz de competir.

Isto é muitas vezes interpretado pelos árbitros em termos de “capacidade dos lutadores de defenderem-se por si mesmos”. “Quando eles não podem mais se defender, nós temos que fazer isso por eles”, dizem os árbitros[2].

Normalmente, isto ocorre quando um lutador é nocauteado ou sufocado inconsciente, ferido, ou recebe ataques múltiplos sem fazer nenhuma tentativa de defesa, fuga ou contra-ataque.

Como tal, paradas são feitas quando é evidente que o curso “natural” da luta foi concluído, de tal forma que o vencedor já é aparente.

Nesses momentos, a exposição contínua dos combatentes ao perigo físico não é mais definida como desejável, e em vez disso se torna excessiva e desnecessária de acordo com as normas culturais do esporte.

O certo é que Israel Adesanya viveu para lutar um outro dia, considerando que sua suspensão médica será menor do que se ele tivesse ficado totalmente inconsciente, coisa que ele não acredita que aconteceria, podendo o atleta agora buscar nova luta contra seu nêmesis.

Porém, como bom árbitro e garantidor da saúde e integridade física do atleta (na medida do possível), Goddard fez bem o seu trabalho.

Decretar paralisações é talvez o mais direto e importante exercício da influência do árbitro em uma luta. A discussão de como eles chegam a essas decisões demanda habilidades perceptivas, foco intenso, sólido conhecimento técnico do MMA e tomada rápida de decisões – tudo dentro de um contexto de alta pressão.

Crédito imagem: Zuffa LLC

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REFERÊNCIAS

COSTA, Elthon José Gusmão da. Aspectos jurídicos do desporto MMA. 1ª. ed. São Paulo: Mizuno, 2022.

[1] LASMAR, Rodrigo Campos Pace et al. Beira do Campo: Urgências e Emergências no Esporte. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter, 2022. p. 633-634

[2] CHANNON, Alex. The man in the middle: mixed martial arts referees and the production and management of socially desirable risk. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, School of Sport and Health Sciences, University of Brighton, UK, ano 2022, v. 14, n. 5, p. 744-758, 18 jan. 2022. DOI https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/2159676X.2022.2027810. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/2159676X.2022.2027810. Acesso em: 15 nov. 2022. p.

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